Dizem que um bom livro
deve atrair a curiosidade do leitor em um golpe certeiro na primeira linha
completa. Neste caso, Caetano não perdeu tempo, como nunca perde, em ser
polêmico: “Costumo dizer que, se dependesse de mim, Elvis Presley e Marilyn
Monroe nunca se teriam tornado estrelas”. Com essa isca somos fisgados para
tentar entender o poliedro intelectual do artista e também muito de sua
frescura de ser divo, divino, divinatório e, acima de tudo, seu deleite por ser
assunto.
Não
precisamente uma biografia, mas uma relembrança de si mesmo Caetano retorna ao
passado de modo fluido misturando histórias do pretérito conforme elas surgem
em suas memórias ou considere interessantes de contar. Uma memória de infância
pode concatenar com um dialogo dos anos 60 e uma situação na prisão pode trazer
outras escoações não apenas biográficas, mas históricas também. Como conheceu
João Gilberto, Os anos de chumbo, a importância de Gilberto Gil em sua vida, A
prisão em 1968 e tudo se cristalizando até os anos 90 quando da feitura do
livro. Os pretéritos se misturam, pois de fato, como acontece com todo mundo, eles são
construídos pelo viveres e somos testemunhas de nosso tempo se nos atentarmos
ao fato.
Um
alguém da vivência de Caetano Veloso pode oferecer histórias das mais
interessantes, pois afinal foi ele o epicentro de um dos movimentos mais
marcantes da arte brasileira, Tropicália. Tudo que se refere à gênese do
movimento tem saborosa complexidade (e, ao mesmo tempo puro acaso) além de toda
a formação intelectual do artista e como se forjaram importantes
amizades/parcerias tornando a leitura muito prazerosa.
Mas,
por outro lado, como uma biografia, ou melhor, um livro de memórias tem
momentos menos interessantes. Caetano por vezes enche páginas com puro
exibicionismo intelectual desnecessário. Um chato mesmo. Poderia ser simples e
conciso, mas faz questão de ser verborrágico. Mas, enfim, é Caetano, e ler
Caetano é como ouvir Caetano: sempre ignoramos algo e perdoamos porque o
encanto é maior que o deslize do narciso..
E lembrem-se: Quem lê um livro comunga com a alma deste e desta comunhão renova a sua própria!
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