Panacéia dos Amigos

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sexta-feira

EU SOU UM PACOTE DE ESFORÇOS VÃOS AMARRADOS - THOREAU

 



Sou um embrulho de esforços vãos amarrados

Por um laço casual,

Balançando para um lado e para o outro, seus elos

Foram feitos tão frouxos e largos,

Acho,

Para o clima mais ameno.

 

Um buquê de violetas sem raízes,

E azedinhas misturadas,

Circundado por um fio de palha

Uma vez enrolado em seus brotos,

A lei

Pela qual estou fixado.

 

Um ramalhete que o Tempo arrancou

Daqueles belos campos Elísios,

Com ervas daninhas e caules quebrados, às pressas,

Faz a ralé debandar

Que desperdiça

O dia em que ele cede.

 

E aqui eu floresço por uma curta hora invisível,

Bebendo meus sucos,

Sem raiz na terra

Para manter meus galhos verdes,

Mas permaneço

Em uma xícara nua.

 

Alguns brotos tenros foram deixados em meu caule

Em imitação da vida,

Mas ah! As crianças não saberão,

Até que o tempo as tenha murchado,

A desgraça

Com a qual estão cheias.

 

Mas agora vejo que não fui colhido em vão,

E depois

colocado no vaso de vidro da vida enquanto pude sobreviver,

Mas por uma mão bondosa, trazido

Vivo

a um lugar estranho.

 

Esse estoque assim reduzido logo redimirá suas horas,

E por mais um ano,

Como Deus sabe, com ar mais livre,

Mais frutos e flores mais belas

Darão,

Enquanto eu aqui definho.


FUI PARA A FLORESTA - THOREAU

 


“Fui para a floresta porque desejava viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida e ver se conseguiria aprender o que ela tinha a ensinar, e não, quando chegasse a hora da morte, descobrir que não tinha vivido.

Não desejava viver o que não era vida, viver é tão caro; nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse absolutamente necessário. Queria viver profundamente e sugar toda a medula da vida, viver de forma tão robusta e espartana a ponto de destruir tudo o que não era vida, abrir uma ampla faixa e raspar rente, encurralar a vida e reduzi-la aos seus termos mais baixos e, se ela se mostrasse mesquinha, por que então descobrir toda a sua mesquinharia genuína e divulgá-la ao mundo?

Ou, se fosse sublime, conhecê-la por experiência e ser capaz de dar um relato verdadeiro dela na minha próxima excursão?”


AO JARDIM, O MUNDO - WALT WHITMAN

 


 

Ao jardim, o mundo, renovado em ascensão,

Parceiros potentes, filhas, filhos, em prelúdio,

O amor, a vida de seus corpos, ser e sentido,

Curioso, contemple aqui minha ressurreição, após o sono;

Os ciclos em revolução, em seu amplo movimento, aqui me trouxeram outra vez,

Amoroso, maduro – tudo belo para mim – tudo maravilhoso;

Meus membros, e o fogo trêmulo que folga neles, pelos mais maravilhosos motivos;

Existindo, eu perscruto e penetro ainda,

Contente com o presente – contente com o passado,

Ao meu lado, ou atrás de mim, Eva me seguindo,

Ou à frente, e eu a segui-la do mesmo jeito.


quinta-feira

DARKNESS (BREU) - LORD BYRON

 



Darkness

Breu (trecho inicial)

 

I had a dream, which was not all a dream.

Eu tive um sonho que não foi de todo um sonho.

 

The bright sun was extinguish’d, and the stars

A luz do sol estava extinta, enquanto estrelas

 

Did wander darkling in the eternal space,

Erravam pelo espaço, escuras e sem rumo;

 

Rayless, and pathless, and the icy earth

Enregelada, a Terra trôpega oscilava

 

Swung blind and blackening in the moonless air;

Sem lua no vazio, às cegas e soturna;

 

Morn came and went – and came, and brought no day,

Veio a manhã, se foi, voltou – não trouxe o dia;

 

And men forgot their passions in the dread

E os homens, no pavor de tanto cataclismo,

 

Of this their desolation; and all hearts

Perderam suas paixões; os corações gelaram

 

Were chill’d into a selfish prayer for light:

Numa egoísta prece pela luz: viviam

 

And they did live by watchfires – and the thrones,

Acerca das fogueiras – tronos e palácios

 

The palaces of crowned kings – the huts,

De imperadores coroados – os casebres,

 

The habitations of all things which dwell,

E a habitação de tudo o que morava ardia

 

Were burnt for beacons; cities were consum’d,

Para os fanais; cidades foram consumidas,

 

And men were gather’d round their blazing homes

E os homens se ajuntavam ao redor dos lares

 

To look once more into each other’s face;

Em fogo para olhar mais uma vez a face

 

Happy were those who dwelt within the eye

Uns dos outros; felizes os que se abrigaram

 

Of the volcanos, and their mountain-torch:

No olho dos vulcões, montanhas-facho; tudo

 

A fearful hope was all the world contain’d;

O que o mundo continha então era a esperança

 

Forests were set on fire – but hour by hour

Atônita; as florestas todas incendiadas –

 

They fell and faded – and the crackling trunks

Vinham abaixo de hora em hora, o tronco dava

 

Extinguish’d with a crash – and all was black.

O derradeiro estalo, desabava e rápido

 

The brows of men by the despairing light

Sumia – e a cor de tudo era o carvão. A cara

 

Wore an unearthly aspect, as by fits

Dos homens sob a luz desoladora tinha

 

The flashes fell upon them; some lay down

Aspecto tão bizarro como se riscada

 

And hid their eyes and wept; and some did rest

De raios; uns choravam, ocultando os olhos;

 

Their chins upon their clenched hands, and smil’d;

Alguns sorriam, segurando o queixo; e outros,

 

And others hurried to and fro, and fed

Num vaivém frenético jogavam óleo

 

Their funeral piles with fuel, and look’d up

Em suas próprias piras funerais; no agito

 

With mad disquietude on the dull sky,

Febril, miravam um céu monótono, borrão

 

The pall of a past world; and then again

De um mundo já passado; e a praguejar, rolavam

 

With curses cast them down upon the dust,

No pó, rangendo os dentes e soltando uivos:

 

And gnash’d their teeth and howl’d: the wild birds shriek’d

Os pássaros selvagens, aterrorizados,

 

And, terrified, did flutter on the ground,

Batiam contra a terra as asas imprestáveis;


"SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO" - SHAKESPEARE




“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre

Em nosso espírito sofrer pedras e setas

Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,

Ou insurgir-nos contra um mar de provocações

E em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais.

Dizer que rematamos com um sono a angústia

E as mil pelejas naturais-herança do homem:

Morrer para dormir… é uma consumação

Que bem merece e desejamos com fervor.

Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:

Pois quando livres do tumulto da existência,

No repouso da morte o sonho que tenhamos

Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita

Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.

Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,

O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso,

Toda a lancinação do mal-prezado amor,

A insolência oficial, as dilações da lei,

Os doestos que dos nulos têm de suportar

O mérito paciente, quem o sofreria,

Quando alcançasse a mais perfeita quitação

Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos,

Gemendo e suando sob a vida fatigante,

Se o receio de alguma coisa após a morte,

–Essa região desconhecida cujas raias

Jamais viajante algum atravessou de volta –

Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos?

O pensamento assim nos acovarda, e assim

É que se cobre a tez normal da decisão

Com o tom pálido e enfermo da melancolia;

E desde que nos prendam tais cogitações,

Empresas de alto escopo e que bem alto planam

Desviam-se de rumo e cessam até mesmo

De se chamar ação". 


AMOR É FOGO QUE ARDE - CAMÕES

 




Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

 

É querer estar preso por vontade;

é servir a quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor


MINHA ALMA GENTIL, QUE TE PARTISTE - CAMÕES

 



Minha alma gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste

tão cedo desta vida descontente,

repousa lá no Céu eternamente,

e viva eu cá na terra sempre triste.

 

Se lá no assento etéreo, onde subiste,

memória desta vida se consente,

não te esqueças daquele amor ardente

que já nos olhos meus tão puro viste.

 

E se vires que pode merecer-te

alguma cousa a dor que me ficou

da mágoa, sem remédio, de perder-te,

 

roga a Deus, que teus anos encurtou,

que tão cedo de cá me leve a ver-te,

quão cedo de meus olhos te levou.