“É a prova de uma mente inferior o desejar pensar como as massas ou como a maioria, somente porque a maioria é a maioria. A verdade não muda porque é, ou não é, acreditada por uma maioria das pessoas.”
“Todo homem possui um filósofo dentro de si, para fazê-lo viver é necessária a presença do amor heroico, dessa
força infinita que provém do uno, e que permite ao homem suportar dores,
transformar o mundo, concretizar seus ideais.”
Giordano Bruno
Começo este post com
pensamentos célebres do filósofo Giordano Bruno (1548-1600). Seriam frases como
estas que inspiraram um estudante de psicologia do estado do Acre a realizar
uma obra de 14 livros criptografados e moldar um espaço com painéis, quadros,
simbolos e a estátua do teológo que fora, séculos atrás, condenado a morte pela
Santa Inquisição por sua idéias cosmológicas?
O fato é que o estudante Bruno
Borges desapareceu, sem deixar pistas de seu paradeiro, no dia 27 de março. A
Polícia Civil do Acre está investigando o caso e acredita que Bruno saiu de casa
voluntariamente e tem se mantido escondido voluntariamente. De acordo com o
delegado geral do estado, Carlos Flávio Portela, o jovem levou com ele um
celular, um HD e algumas peças de roupas. O celular não está sendo utilizado.
Amigos do rapaz afirmam que manifestava a intenção de isolamento, algumas de
suas mensagens criptografadas falam da mesma necessidade. Temos aqui um caso
extraordinário. E somos testemunhas do seu desenrolar de fatos. Analisemos o
que sabemos para a partir deste ponto, especularmos possibilidades do que
poderá acontecer.
Sobre o estudante Bruno Borges
sabemos que se trata de um rapaz admirado por sua inteligência. Sua idéias e
ideais teriam sido tão eloquentes que convenceram o primo dele a emprestar a
soma considerável de R$ 20.000,00 para a realização de um suposto projeto
revolucionário. E o mesmo poder de convencimento levou um artista plástico com
mais de oitenta anos a fazer a réplica da estátua de Giordano Bruno por um
preço de custo de R$ 7.000,00. Estas pessoas tem certeza que fizeram bem, tem
certeza de que Bruno Borges é uma espécie de gênio, com uma obra que mudará a
face da terra em favor da humanidade.
Não consta, entre parentes,
amigos e conhecidos e observem que, a mãe do rapaz é doutora em psicologia,
qualquer índicio de esquizofrenia por parte dele. Estudante universitário,
obcecado por leitura e conhecimento era e é amado pelos irmãos que no máximo o
consideravam inteligente e excêntrico.
Sem nunca ter demonstrado
sinais consideráveis de instabilidade psicológica, vindo de boa família com
rendas que lhe garantem o conforto material, convivência normal com irmãos e
pais, alguns poucos, mas existentes amigos. O que levaria o jovem a tão radical
proposta de vida?
Tudo parece centrar-se na
figura de Giordano Bruno. Falemos sobre o fascinante teológo que agora tem sido
tão pesquisado e falado, provavelmente um dos objetivos secundários do plano traçado pelo estudante
Bruno.
Giordano Bruno foi um monge
italiano pertencente a Ordem dos
Dominicianos desde os seus 15 anos. Nasceu em 1548, dedicou-se ao estudo da
teologia de São Tomás de Aquino e da filosofia aristotélica assim que entrou no
seminário, tornando-se membro da Academia Florentina. Aos 17, ingressou na
Ordem dos Pregadores. Com o passar do tempo, porém, começou a adotar ideias controversas
na época como, por exemplo, a negação de qualquer tipo de imagem religiosa que
não fosse o crucifixo. Em 1575, pouco depois de receber seu doutorado em
teologia, abandonou a ordem.
Obcecado em compreender a obra
divina que é a realidade a nossa volta, Giordano Bruno ousou ler livros
proibidos pela igreja, ele se inteirou das teorias de Copérnico e ainda mais
teve acesso a um livro de grande influência para ele escrito por um estudioso
romano morto 1.500 anos antes. O livro era “Sobre a natureza das coisas” e seu
autor era o pensador Lucrettus. Ele
defendia que se lançamos uma flecha ao ar e ela se choca com um muro, não
devemos crer que este muro é o limite a ser alcançado, basta subir nele e
lançar outra flecha pois além deste muro, há outros e além destes outros,
infinitamente. Assim seria a realidade. O que percebemos é apenas um muro, mas
além dele existe mais e mais o que se observar.
Giordando Bruno aceitou esta
hipótese, a estudou e desenvolveu uma
linha de pensamento. Foi neste momento, quando datava trintas anos de vida, que
aconteceu algo fascinante em sua trajetória. Durante o sono, Giordano Bruno
teve um sonho, ele acordava cercado por uma espécie de recipiente, uma esfera,
uma caverna, e nela estavam contidos o mundo e as estrelas conhecidas. Ele observou então, que havia uma brecha, uma abertura pequena, e a tocou percebendo que podia
abri-la, teve medo, terror, mas insistiu e neste momento tudo se desfez e ele
se viu flutuando e abandonando o planeta Terra, vislumbrando o sol e percebendo
que ele era apenas um entre infinitas estrelas e também vislumbrou outros
mundos, outras "Terras", como ele chamou em volta destas estrelas, como Copérnico
havia sugerido que o nosso mundo fazia em torno do nosso sol. Ele flutuou por
estrelas e mundos do universo, viu um universo infinito, sem bordas, sem
limites, sem centro, sem fim. Como deveria ser a obra de Deus.
Ao despertar, eufórico, ele
acreditou que sua visão era a resposta divina as suas dúvidas e passou a
defender o conceito do infinito e que, para ele, os seres humanos ainda não eram
capazes de realmente entender o conceito de Deus, que estaria em tudo e em
todos. Passou a acreditar que Deus era
a inteligência e a energia por trás de tudo que existe no mundo, e a matéria
formadora dos objetos era expressão passiva de sua vontade. Em resumo, Giordano
Bruno, era hilozoísta — quem defende a ideia de que absolutamente tudo possui
vida dentro de si — e panpsiquista — quem acredita que tudo tem alma. Por ter
ideias tão liberais em torno da religião, ele era grande defensor da unificação
das religiões, a favor de que Deus estava além de qualquer tipo de dogma ou
regra.
O infinto era, para ele, algo
complexo demais para a mente humana, já que os sentidos estão reservados a
compreender apenas o que pode ser limitado pelo espaço e pelo tempo. Segundo
Bruno, o universo possuía essa mesma propriedade e o número de planetas seria
incalculável. A ideia do filósofo previa que muito possivelmente existissem
muitas outras "Terras", e consequente com sua própria natureza, animais e claro,
seres inteligentes e não menos
importantes do que nós. Assim, em pleno século XVI, um grande pensador
formulava a sua crença na existência de civilizações extraterrestres e defendia
que todos os seres do cosmos eram uma obra divina, parte de um mesmo criador.
Obcecado pela certeza de sua
doutrina viajou por toda a Europa dando aulas e divulgando suas teorias. Suíça,
Inglaterra, França, Alemanha e República Tcheca. Giordano Bruno defendeu o
conceito de que a verdade deve prevalecer sobre as vontades e as crenças, inspirando,
séculos mais tarde, o movimento iluminista.
Após vários ataques em diferentes regiões, foi preso em Veneza pelo
Santo Ofício. A pedido do papa, foi entregue ao tribunal da Santa Inquisição e
condenado a sete anos de prisão. Durante esse tempo, por não concordar em negar
as próprias convicções, acabou sendo queimado no dia 17 de fevereiro de 1600.
Na época das conjecturas deste
grande pensador o homem estava muito limitado em suas pesquisas astronômicas.
No entanto,Galilleu Galilei viria a confirmaria a existência de outros mundos
uma década depois ao inventar o telescópio. Giordano Bruno,de alguma forma, teve uma visão dos cosmos, exata, e a defendeu a custo de sua vida.
Giordano Bruno a inspiração de
Bruno Borges, estudante do Acre, foi de fato uma personalidade impressionante.
Mas e quanto a Bruno?
Algumas possibilidades podem
ser elaboradas, embora só poderão ser comprovadas com o tempo. Ou com possível retorno
e as explicações do estudante.
Mas alguns elementos são
claros, vejamos:
1. Primeiramente, ele deve acreditar firmemente em sua obra,
pois teve trabalho considerável em termos financeiros, apoiadores e mesmo para
manter a discrição nos 22 dias em que seus pais saíram de férias. Conseguiu
esconder seus planos mesmo de seus irmãos.
2. O quarto em si, todo escrito em criptografia a mão,
demonstra extraordinária convicção e força de vontade.
3. O escultor e um médico amigo do rapaz, não são crianças
influenciáveis e sim, homens maduros na casa de mais de 70 anos. O primeiro
acredita integralmente na genialidade do rapaz e o segundo nega qualquer sinal
de esquizofrenia. Ambos de modo geral o tomam por um rapaz inteligente que
acredita ter uma missão especial. O primo, não tão velho, mas mais maduro do
que Bruno emprestou muito dinheiro acreditando em tudo o que ouviu.
4. O rapaz se aventurou em muitas filosofias, religiões,
alquimia, ufologia, Reiki, espiritismo, e o Santo Daime. Ou seja, vinha
executando uma busca metódica e consistente sobre conhecimentos diversos.
5. Sua crença na vida extraterrestre defendida por Giordano
Bruno, era tão grande que ele mandou fazer uma tela na qual aparece ao lado de
um ser extraterrestre, aparentemente tendo este como uma espécie de mestre.
6. A estátua de Giordano Bruno demonstra que tudo o que ele
acredita está fundamentado no filósofo. E aparentemente, no interesse de
contribuir ao pensamento dele, escreveu de punho, em criptografia, catorze
livros! É preciso muita convicção para se escrever uma obra tão grande, que
obviamente é um trabalho que começou
antes dos 22 dias que teve para alterar o próprio quarto.
No entanto, muitos levantam que
tudo isso é provavelmente um “delírio de grandeza” de um garoto mimado, que
quer se autoproclamar um gênio e vender livros, um golpe de marketing, sem a
menor vergonha de ser feliz.
Defendem que um “gênio” teria feito uma criptografia
mais complexa, e de fato, saber que um dos códigos que ele usou foram extraídos
do manual dos “Escoteiros Mirins” da Disney, não é muito animador.
Na verdade, apenas os livros
decifrados e seus conteúdos conhecidos é que poderão esclarecer de fato, se o
rapaz teve uma revelação ou um surto esquizofrênico, ou talvez até um ataque de
megalomania um tanto egoísta que o levou a fazer o que fez sem pensar nas
consequências.
O mistério continua. Mas o que
me ocorre, é que dentro em pouco é muito provável que a história e o rapaz serão ridicularizados,
menosprezados e esquecidos porque os livros traduzidos serão medíocres.
Por que?
Porque talvez, se trate mesmo de uma
grande farsa, ou então, quem sabe tal obra não seja mesmo uma revelação extraordinária? Mesmo neste caso, é possível que ainda assim a história será minimizada como outras foram ao longo do tempo.
Jamais
chegarão ao nosso conhecimento porque serão devidamente varridas e escondidas
em quartos particulares fechados a sete chaves enquanto, como diz a canção, “ as
pessoas da sala de jantar se preocupam em nascer e morrer!”
Quem sabe?..