Panacéia dos Amigos

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segunda-feira

PREPARAÇÃO PARA O EMPREGO DE FORÇAS RADIANTES

 



    O passista ou candidato ao emprego de forças radiantes em favor dos enfermos deve procurar equilibrar o campo das emoções. As energias construtivas não podem ser fornecidas se houver sistemático desperdício das forças vitais. (Missionários da luz, pag. 323) Não pode haver doação, por exemplo, com sistema nervoso esgotado, em frangalhos. E de que maneira pode-se esgotá-lo? Aquele que cultiva mágoa excessiva, paixão desvairada, inquietação permanente, não transmite, nem faz circular, as energias radiantes, porque seu próprio sistema nervoso está comprometido, desgastado.
    Vemos, assim, que o doador tem uma excelente oportunidade de auto-aprimoramento. Ele sabe que a suas crises de cólera e revolta, maledicência e leviandade, desespero e intemperança são verdadeiras tempestades magnéticas sobre o seus próprios envoltórios, o perispírito e o corpo físico, por isso procura evitá-las ao máximo, para não se desgastar.
    Do mesmo modo, quando estão em curso moléstias do sangue ou degenerativas, como a anemia e o câncer, não é recomendável a doação fluídica, porque o próprio médium está necessitado de repor suas energias desgastadas. É preciso lembrar o que já vimos: o duplo etérico circula no sangue e o fluido magnético está diretamente implicado no sistema de defesa do corpo físico.
    O excesso de alimentação também constitui impeditivo ao desenvolvimento da capacidade de doação fluídica, porque a pessoa passa a produzir odores fétidos, detectados, espiritualmente, pelos poros, bem como das saídas dos pulmões e do estômago, prejudicando a circulação das faculdades radiantes.
    Do mesmo modo, o fumo, o álcool e outras substâncias tóxicas operam distúrbios nos centros nervosos, modificando certas funções psíquicas e anulando os melhores esforços na transmissão de elementos regeneradores e salutares. São notórios e bastante divulgados os malefícios do cigarro. Sabemos que a resistência orgânica decresce muito com o hábito de fumar, favorecendo o aparecimento de doenças, muitas vezes fatais, e que poderiam ser claramente evitáveis.
    Sobre os malefícios do tabaco e das drogas, recomendamos a leitura do livro Lições de Sabedoria cap. 13 que contém ensinamentos de Emmanuel através de Chico Xavier A esse respeito, o mentor esclarece sobre o perispírito do fumante no além:
    O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual ceda lugar à normalidade do envoltório perispirítico, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo correspondente ao tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante. Quando a vontade do interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo.
    Como vemos, é de todo recomendável que nos esforcemos para vencer o hábito nocivo, enquanto estamos na vida física, a fim de favorecer as nossas tarefas nesta e na outra dimensão. Toda vigilância, portanto, é pouca, por parte dos médiuns. Os que são guiados tão somente pela vaidade ou pela ambição inferior, acabam vampirizados, porque, fatalmente, encontram entidades que com eles se afinam, precipitando-se em difíceis situações obsessivas.
    Infelizmente, temos tido alguns exemplos de irmãos nossos dedicados à cura e que se desviaram do objetivo construtivo do "dai de graça o que de graça recebestes", aceitando dinheiro no exercício de suas faculdades curativas. Muitos voltam do além, em estado lastimável, para contar, arrependidos, o desvio e a perda da existência pelo mau uso da mediunidade, lamentando o engano cruel que os precipitou no arrependimento. E só terão um meio de se recompor: recomeçando uma nova existência.
    É inegável que o desenvolvimento das forças radiantes está intimamente ligado ao auto-aperfeiçoamento, ao cultivo das boas qualidades (Missionários da luz, pag. 324) Há, no entanto, algo que devemos sempre lembrar, onde houver merecimento por parte dos que sofrem e boa vontade nos que auxiliam, os mentores estarão sempre dispostos a conceder o benefício espiritual.
    Eles sempre lembram que, se a prática do bem estivesse circunscrita aos Espíritos completamente bons, seria impossível a redenção humana. Eles só podem mesmo contar conosco, espíritos imperfeitos em vias de evolução.
    A ninguém, pois, devemos desencorajar. Os benfeitores espirituais, ao referirem-se às qualidades necessárias aos servidores desse campo de auxílio, não o fazem para desencorajá-los, mas para orientar as aspirações do trabalhador, com vistas ao crescimento da sua tarefa em valores positivos e eternos.
Marlene Nobre - livro O Passe como Cura Magnética

SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES

 


    Sócrates acreditava que o verdadeiro conhecimento começa com a admissão da ignorância. Ele dizia: "Só sei que nada sei". Através do método socrático, que envolve diálogo e perguntas rigorosas, ele acreditava que poderíamos nos aproximar da verdade ao desmontar preconceitos e ideias falsas, promovendo uma compreensão mais profunda dos conceitos.

 



    Platão, aluno de Sócrates, acreditava que o conhecimento verdadeiro provém do mundo das ideias, também conhecido como mundo das formas. Em "A República", ele utilizou o famoso exemplo da "Alegoria da Caverna" para explicar como o mundo físico é simplesmente uma sombra do mundo real das ideias. Nesta alegoria, os prisioneiros acorrentados em uma caverna veem apenas sombras projetadas nas paredes, acreditando que essas sombras são a realidade. Somente ao se libertarem e saírem da caverna, eles podem ver a verdadeira luz do sol, que simboliza o conhecimento e a verdade, acessíveis através do raciocínio filosófico. Platão também desenvolveu a teoria das formas, onde as ideias são entidades abstratas que existem independentemente do mundo material e que representam a verdadeira realidade.




    Aristóteles, aluno de Platão, acreditava que o conhecimento provinha da experiência sensorial e da observação. Ele defendia a ideia de que a mente humana pode compreender o mundo ao coletar e analisar dados, baseando suas conclusões em evidências empíricas. Aristóteles também desenvolveu a metodologia científica baseada na lógica e na análise cuidadosa dos fenômenos naturais, propondo que o conhecimento pode ser adquirido de forma sistemática através da indução e dedução. Além disso, ele introduziu as quatro causas (causa material, causa formal, causa eficiente e causa final) como um meio de explicar os fenômenos naturais de maneira abrangente.


Fonte: Facebook

A PARENTELA CORPORAL E ESPIRITUAL.



 Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.

Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. 

Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, n.º 13.)

Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.

A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente expressa em a narração de São Marcos, que diz terem eles o propósito de se apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera o espírito. Informado da chegada deles, conhecendo os sentimentos que nutriam a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do ponto de vista espiritual: “Eis aqui meus verdadeiros irmãos”. Embora na companhia daqueles estivesse sua mãe, ele generaliza o ensino que de maneira alguma implica haja pretendido declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como Espírito, que só indiferença lhe merecia. Provou suficientemente o contrário em várias outras circunstâncias.

 

Fonte: O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO


"AQUELE QUE AMA O PAI OU A MÃE MAIS DO QUE A MIM, NÃO É DIGNO DE MIM" - JESUS, O CRISTO


 


    Na Terra, estamos sempre vivenciando situações passageiras.

    O grupo de trabalho material, o de trabalho espiritual, a família, os amigos, enfim, cada experiência pela qual passamos tem um objetivo evolutivo para o nosso espírito.

    Jesus, o Divino Mestre, falava aos homens de sua época por parábolas, pois nem todos podiam entender as verdades espirituais. Nessa medida, Ele não conclamava os homens a deixar de amar seus familiares, mas mostrava que o desprendimento dos bens terrenos era, e é, fundamental para o crescimento do espírito. Assim, amar a Jesus é amar a verdade espiritual e devotar-se à verdadeira vida. Amar a Jesus é apreender e vivenciar seus ensinamentos de amor e caridade, despojado de interesses próprios, visando sempre o bem comum.

    Quem são meu pai e minha mãe?

São espíritos companheiros de jornada, que nesse momento cósmico assumiram esses papéis. Se eu me apegar a esses papéis passageiros estarei vendo apenas parte da verdade, estarei sendo egoísta, ao considerar minha família momentânea como as únicas pessoas dignas do meu amor e atenção.

    Somos uma só família humana.

    Jesus é o nosso mestre, durante todo o transcurso de nossa caminhada, tanto em planos espirituais quanto materiais. Estamos exercitando, praticando suas lições todo o tempo, até que possamos atingir a perfeição a que Deus Nosso Pai nos destinou.

    Atendamos, pois, com responsabilidade, ao papel que Deus nos confiou no presente núcleo familiar, sem jamais esquecer de que, acima de tudo, nosso pai e nossa mãe, na terra, são nossos irmãos na eternidade.


A INSÔNIA E SUAS CAUSAS ESPIRITUAIS



É cada vez mais comum ouvirmos no consultório a seguinte frase : – Doutor, me receita um remédio pra dormir! Alguns ainda exigem a prescrição de determinados remédios, pois já experimentaram todos e sabem que no caso deles, alguns funcionam melhor.

Vivemos a época das pílulas milagrosas. Compramos milagres em cápsulas, diariamente e nosso limite é o Céu. Lutero teria de encarnar novamente para lançar uma contra reforma!

Deixemos que a ciência oficial trate da insônia, mas seria interessante abordar alguns aspectos do sono do ponto de vista espiritualista.

Allan Kardec, nos diz no Livro dos Espíritos, no capítulo que versa sobre a emancipação da alma, que o espírito nunca está inativo, e aproveita as horas de sono para manter relação direta com o plano espiritual, entrando em contato com espíritos encarnados e desencarnados, e visitando lugares bons ou ruins de acordo com sua evolução, de acordo com o que permite a sua própria energia. Isso explica o motivo pelo qual podemos acordar completamente descansados e inspirados e outros dias acordamos mais cansados do que nos deitamos.

Não é incomum, durante os tratamentos no centro espírita, observarmos que algumas pessoas simplesmente não conseguem dormir porque trazem a casa repleta de espíritos desencarnados que por algum motivo querem prejudicar aquela família, pois é da lei que colhamos hoje o que semeamos ontem. Vemos também que uma das causas frequentes de insônia é o despertar da mediunidade. Durante o entorpecimento natural do sono, quando o espírito começa a se despreender do corpo físico como faz toda noite, esses médiuns novatos começam a ver o ambiente espiritual da casa. Então com medo e receio do desconhecido, recusam-se a dormir, causando problemas enormes para a economia física, e no entanto, seria muito mais fácil estudar e entender o processo mediúnico, se libertando de receios infundados, baseados em crendices.

Se imaginarmos nossa noite de sono como uma viagem a ser empreendida, facilmente compreenderemos que alguns simplemente sabotam seu próprio sono. Qualquer viagem, por menor que seja, exige um preparo mínimo. Verificamos o melhor caminho, a roupa que levamos, o dinheiro, o local onde ficaremos etc…, mas a maioria de nós não consegue nem fazer uma prece antes de dormir. Para alguns não há antídoto melhor para insônia do que iniciar uma prece ou uma leitura edificante. É fatal ! É começar e cair no sono.

Deitamos na cama, nos preparando pra dormir, repletos de problemas, trazendo uma enormidade de situações mal resolvidas, e queremos que nossa noite seja tranquila. Jesus nos diz que onde estiver nosso tesouro, aí se encontrará nosso coração. Como esperar noites tranquilas, acompanhadas pelo nosso anjo da guarda, nosso mentor espiritual, se passamos o dia de forma agitada, ansiosa, intranquila? Com certeza nosso espírito estará junto daqueles e das coisas as quais voltamos nosso sentimento.

Deixemos de ser cristãos de templos, nos preocupando com Jesus somente quando estamos na nossa casa religiosa, e com certeza teremos noites tranquilas, de sono reparador. Refletindo nisso, chegamos a conclusão que dormimos com nosso maior inimigo, nós mesmos.

Os livros de Divaldo Pereira Franco nos relatam inúmeros casos de trabalhadores do bem, encarnados, que aproveitam suas noites de sono na continuação dos trabalhos de ajuda espiritual iniciados durante o dia. Quantos benefícios não colhem esses trabalhadores, aproveitando cada minuto para sua evolução. Cada um encontra o que busca. O que passa o dia acumulando raiva, desentendimentos e stress, com certeza terá uma noite bem diferente daquele que tenta viver em paz consigo mesmo, exercendo sua religiosidade de forma segura.


Fonte: Medicina e Espiritualidade

quinta-feira

COMPULSÃO ALIMENTAR NA VISÃO ESPÍRITA



    A alimentação está associada, no psiquismo humano, a todo um conjunto de fatores emocionais que vão além da simples manutenção da vida orgânica. Ao sermos alimentados, nos primeiros anos de nossa existência física, somos também acalentados, em uma permuta de afeto do bebê com aqueles que se caracterizam como seus cuidadores.

    Considerando, por sua vez, a compulsão como um ato direcionado por um impulso, que procura descarregar uma ansiedade inconsciente, podemos entender a compulsão alimentar como uma tentativa de solucionar um conflito interno.

    Diante de algo que nos incomoda – seja a necessidade de afeto, seja a não aceitação do corpo ou de alguma circunstância vivida ou a não aceitação das próprias dificuldades emocionais por exemplo – através da compulsão alimentar fugimos, procurando algo que nos proporcione prazer momentâneo e postergando o encontro conosco mesmos.

    Claro que a partir de uma perspectiva de psicologia espírita, não podemos esquecer o intercâmbio constante com o mundo espiritual, de modo que, afinados conosco, desencarnados ainda muito ligados ao plano material, desejosos das sensações físicas, estimulam tais comportamentos dos quais pensam se beneficiar, assimilando as sensações dos encarnados.

    André Luiz (nos livros “Nosso Lar” e “Missionários da Luz”, psicografados por Chico Xavier) exemplificou bem este fato ao mostrar que muitos desencarnados se compraziam “absorvendo gostosamente as emanações dos pratos fumegantes” de modo que sem a vigilância necessária deixamos à mesa “margem vastíssima à leviandade e à perturbação”. 

    O nobre mentor, contando sobre os primeiros anos que se seguiram à sua desencarnação, diz que fora chamado de suicida no plano espiritual. Amargurado e sem entender, somente depois de certo tempo pode compreender que havia “desperdiçado patrimônios preciosos da experiência física” porque “todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância”.

    Por isso urge nos vigiarmos com relação a todos os excessos a que nos permitimos. Além das terapias convencionais e espirituais, a autoanálise é sempre de grande auxílio:

1º - procurando identificar os momentos de ansiedade que levam a buscar alimento em dose excessiva ou fora dos horários de alimentação.

2º - tendo identificado, procurando dar-se conta (tornar-se consciente) no próprio momento em que isto ocorre.

3º - tendo percebido no momento, procurando evitar o ato.

    E é importante termos muita paciência conosco mesmos, pois toda mudança psíquica se dá gradativamente. Se conseguirmos identificar o conflito de que fugimos, tendo-o por etapa do nosso processo evolutivo (e não como “algo horrível, doentio e proibido”) nos colocamos na posição responsável daquele que luta para superar as próprias dificuldades.

Fonte : Psicologia espírita.

PITÁGORAS

 



O contexto da Filosofia pré-socrática é o de tentativa de descoberta daquilo que compõe e origina o universo, que na Grécia Antiga era chamado de cosmologia. Desde os jônicos, passando pelos pitagóricos e chegando nos eleatas e pluralistas, o que se queria na época era apontar qual a origem provável de todo o Universo, já que as cosmogonias mitológicas não eram suficientes para explicar a origem.

Pitágoras, ao tentar apontar uma origem cosmológica, enxerga no Universo uma organização ou codificação numérica essencial. Desse modo, ele atribuiu ao algarismo 1 (que representa a ideia de unidade e de ponto de partida) todo o começo do Universo. Para Pitágoras e seus seguidores, havia uma relação intrínseca entre a Música, a Matemática, a organização cosmológica e a composição das almas das pessoas (sua seita acreditava na transmigração de corpos pelas almas, ou reencarnação), pois todos esses elementos naturais ERAM na visão pitagórica, regidos por ordens numéricas.

 

Seita Pitagórica

Os pitagóricos acreditavam na reencarnação da alma ou a transmigração de corpos. A doutrina da seita era baseada numa purificação da alma por meio da vida corpórea, pois essa era a finalidade da vida material, até que a alma atingisse um estado de purificação total e alcance da vida eterna.

Essa purificação somente seria alcançada por meio do acesso ao conhecimento e à sabedoria. Aristóteles afirmou que Pitágoras foi o criador da palavra filósofo (amante da sabedoria), o que atesta a sua defesa de uma busca pela sabedoria como modo de evoluir.

 

Pitágoras e a música

Assim como todos os elementos naturais, a música era, na visão pitagórica, uma relação numérica. Essa ideia está bem fundamentada e sustenta-se até hoje, pois as relações entre tons, semitons e outros elementos musicais são medidos e classificados por números.

Pitágoras revolucionou a música antiga ao descobrir uma nova escala de tons, diferente da escala que era utilizada até então, e na criação de um instrumento musical, o monocordo. O seu instrumento aplicava a noção pitagórica de divisão da corda em espaços exatos para se ter tons diferentes, atravessando a escala musical e chegando às oitavas mais ou menos agudas. Essa descoberta pitagórica permitiu a criação dos instrumentos de cordas modernos, como o violão e o piano.

 

Hipaso de Metaponto

O caso de Hipaso permanece um mistério não resolvido até os nossos dias. O pensador era um dos seguidores da seita pitagórica. Em seus estudos de Matemática, o místico descobriu uma nova relação numérica por meio do estudo de Geometria. Tratava-se dos números irracionais. Acontece que a teoria dos números irracionais chocava com a teoria cosmológica pitagórica.

 

Algumas fontes dizem que os pitagóricos expulsaram Hipaso e fizeram um enterro simbólico dele, que teria vagado por um tempo e cometido suicídio como autopunição. Outras fontes dizem que Hipaso foi executado pelos pitagóricos. Não se sabe ao certo até que ponto as teorias estão corretas e qual é o grau de envolvimento de Pitágoras com o caso de Hipaso.

 

Pensadores influenciados por Pitágoras

A filosofia pitagórica influenciou vários outros filósofos, matemáticos e cientistas posteriores a ele. Somente na Grécia, vimos em Platão e Aristóteles ecos da filosofia pitagórica. Para Platão, a transmigração da alma (reencarnação) realmente acontecia e a busca pelo conhecimento racional superior era uma maneira de aproximar-se da alma e dos elementos divinos.

Aristóteles remonta a Pitágoras para buscar elementos que corroborem a sua filosofia, essencialmente as ideias matemáticas de codificação universal. Outros pensadores, como Galileu, Giordano Bruno, Isaac Newton, Leibniz e Kepler foram, de algum modo, influenciados por Pitágoras.

 

Por Francisco Porfírio

Professor de Filosofia"


DODECAEDRO: O QUINTO ELEMENTO


    De acordo com muitos grandes pensadores da Antiguidade, que eram em sua maioria filósofos e matemáticos, não havia dúvida que a própria ideia de Cosmos existisse concretamente no Hyperurânio, de modo que Pitágoras e Platão chegaram à conclusão de que a matéria física tinha, em última instância, natureza geométrica, e que em todas as coisas “Deus geometriza“.

    Platão descreve, no Timeu, o trabalho que plasma um cosmo composto por quatro elementos simbolizados por quatro poliedros, respectivamente: tetraedro (fogo), octaedro (ar), cubo (terra) e icosaedro (água). Mas “ainda faltava uma construção, a quinta, e o deus usou-a para o Tudo“. Trata-se do dodecaedro e Plutarco nos ajuda a entender por qual motivo o símbolo do universo deve ser esse e não uma esfera.

    O motivo principal, embora não o único, é que este sólido consiste em doze faces (pentágonos regulares) correspondentes aos 12 meses do ano. Doze é também o perímetro do triângulo egípcio, com catetos 3 e 4, e hipotenusa 5. A importância simbólica deste triângulo retângulo encontra-se no fato que, enquanto para os números lineares a soma de 1+2=3 expressa a manifestação (epifania) da Divindade em campo unidimensional, no caso do triângulo egípcio permite que ela se manifeste em duas dimensões. De fato: 32+42=52. Note-se que, em ambos os casos, os três números são consecutivos. Não menos importante é o fato que a superfície do dodecaedro é dividida em 360 triângulos escalenos e, consequentemente, o sólido pode ser decomposto em 360 tetraedros onde 360 é o número de dias do ano egípcio e caldeu. Entre outras coisas, o dodecaedro pode ser considerado formado por 12 pirâmides com base pentagonal -correspondentes às suas 12 faces- e, portanto, posto em estreita relação com os números sólidos piramidais.



    Sendo que cada uma das faces contém um pentagrama inscrito, como escreveu Arturo Reghini: “pode-se dizer que tanto o dodecaedro como cada uma de suas faces estão marcados com a mesma harmonia; a harmonia do pentagrama coincide com a harmonia do dodecaedro”. De acordo com o ilustre esoterista italiano, “Assim como o pentagrama, que contém infinitos pentagramas, o dodecaedro contém um número infinito de dodecaedros”.

    Efetivamente, este poliedro notável é inscrito numa esfera e, em seu interior, há uma segunda esfera tangente às faces do dodecaedro; uma terceira esfera, intermédia entre as duas anteriores, vê as arestas do sólido tangentes à sua superfície. Segue-se que, uma vez que todos os sólidos Platônicos são inscrito numa esfera, eles são praticamente contidos no interior do dodecaedro um número infinito de vezes; portanto, os padrões repetitivos dos sólidos Platônicos que se encaixam uns nos outros são objectivamente fractais.



    Euclides, em seu livro XIII dos Elementos, explica como construir um dodecaedro a partir de um cubo. É obtido um polítopo com 12 faces, 30 arestas e 20 vértices; lembramos que o número de faces do dodecaedro é o mesmo que o número das arestas do hexaedro (cubo) e do octaedro.

    Outra propriedade notável do dodecaedro aparece quando são traçados quatro planos paralelos (x, y, z e t) dois dos quais coincidentes com os pentágonos das bases (x e t) e os outros dois (y e z) que passam através dos outros dois pentágonos identificados pelos cinco vértices vizinhos às bases. Desta forma obtemos quatro segmentos a, b, c, d, cada um dos quais é razão áurea do anterior.



    Reghini  mostra como a secção de ouro da altura h do dodecaedro é igual ao lado da estrela decagonal s inscrita na face pentagonal do dodecaedro e que o raio r da circunferência circunscrita a esta face é a parte de ouro do lado s da estrela decagonal inscrita; enfim, o lado da decágono inscrito é razão áurea do raio r. Destarte, para uma propriedade das proporções, já conhecida na Antiguidade, esses elementos formam a famosa Proporção da Babilônia:

h : s = r : l

    Ou seja, o segundo termo s é a média aritmética dos valores extremos, enquanto que o terceiro termo r representa a sua média harmônica.

    Os centros das faces do dodecaedro são, por sua vez, os vértices de um icosaedro inscrito e, por conseguinte, os vértices de três retângulos douradas que se cruzam em planos perpendiculares entre eles. O hexaedro inscrito no dodecaedro tem como aresta a diagonal da face pentagonal e, portanto, a aresta do dodecaedro é a secção de ouro da aresta do cubo.

    Em tudo, no dodecaedro, a seção áurea ocorre 120 vezes e o próprio Platão escreve no Fédon: “O dodecaedro é o poliedro que mais se aproxima à perfeição da superfície esférica e, além disso, contém a verdade mística da seção áurea que expressa, em termos matemáticos, a divindade de forma esférica“.

    As razões pelas quais Platão apontava o dodecaedro como sendo o símbolo do universo, muito válidas no seu tempo, já não seriam mais tão significativas à luz do conhecimento moderno sobre a estrutura da matéria, se não fosse para a conjectura de um grupo de astrofísicos franceses e norte-americanos que, analisando dados recentes da radiação cósmica de fundo, chegaram à conclusão que a forma do Cosmo poderia ser a dum dodecaedro, embora no contexto de uma geometria esférica.

    Esta informação valiosa, que liga o dodecaedro ao Universo, é um estímulo poderoso para desenvolver a análise das principais constantes adimensionais usando, como instrumento de investigação, os valores de geometria do dodecaedro.

    (...) Em conclusão, embora não tenha sido possível, pelo menos por enquanto, encontrar um algoritmo capaz de gerar relações entre diferentes grandezas físicas, unificando destarte as quatro forças da natureza, foi demonstrado que o dodecaedro contém as constantes adimensionais mais importantes da Física. Nada nos impede de pensar que o Demiurgo as tenha escondido neste poliedro para nos sugerir que o Cosmos não é fruto do acaso, mas de um projeto inteligente, onde o dodecaedro, com sua perfeição geométrica, é a prova tangível desse projeto.

 

Texto: https://principedaliberdade.wordpress.com/ 

quarta-feira

SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS FILOSÓFICOS

 


Pergunta - O que é a verdade?

Resposta - É a ideia idêntica ao ser.

P - O que é a realidade?

R - É a ciência idêntica ao ser.

P - O que é a razão?

R - É o verbo idêntico ao ser.

P - O que é a justiça?

R - É o motivo dos atos idênticos ao ser.

P - O que é o absoluto?

R - É o ser.

P - Concebe-se algo acima do ser?

R - Não, mas concebe-se no próprio ser algo de supereminente e de transcendental.

P - O que é?

R - A razão suprema do ser.

P - Conheceis e podeis defini-la?

R - Somente a fé afirma-a e nomeia-a Deus.

P - Existe algo acima da verdade?

R - Acima da verdade conhecida existe a verdade desconhecida.

P - Como se pode racionalmente supor essa verdade?

R - Pela analogia e pela proporção.

P - Como se pode defini-la?

R - Pelos símbolos da fé.

P - Pode-se dizer da realidade a mesma coisa que da verdade?

R - Exatamente a mesma coisa.

P - Existe algo acima da razão?

R - Acima da razão finita existe a razão infinita.

P - O que é a razão infinita?

R - É esta razão suprema do ser a que a fé chama de Deus.

P - Existe algo acima da justiça?

R - Sim, de acordo com a fé, existe a providência em Deus e, no homem, o sacrifício.

P - O que é o sacrifício?

R - É o abandono benévolo e espontâneo do direito.

P - O sacrifício é racional?

R - Não, é uma espécie de loucura maior que a razão, pois a razão é forçada a admirá-lo.

P - Como chamar um homem que age de acordo com a verdade, a realidade, a razão e a justiça?

R - É um homem moral.

P - E se pela justiça ele sacrifica seus atrativos?

R - É um homem de honra.

P - E se, para imitar a grandeza e a bondade da Providência, ele faz mais do que seu dever e sacrifica seu direito pelo bem dos outros?

R - É um herói.

P - Qual é o princípio verdadeiro do heroísmo?

R - É a fé.

P - Qual é o seu sustento?

R - A esperança.

P - E sua regra?

R - A caridade.

P - O que é o bem?

R - É a ordem.

P - O que é o mal?

R - É a desordem.

P - Que prazer é permitido?

R - O gozo da ordem.

P - Que prazer é proibido?

R - O gozo da desordem.

P - Quais são as consequências de um e de outro?

R - A vida e a morte na ordem moral.

P - O inferno, com todos os seus horrores, tem, pois, razão de ser no dogma religioso?

R - Sim, é a consequência rigorosa de um princípio.

P - E que princípio é esse?

R - A liberdade.

P - O que é a liberdade?

R - É o direito de fazer o dever com a possibilidade de não o fazer.

P - O que é faltar com o dever?

R - É perder o direito. Ora, sendo o direito eterno, perdê-lo significa perda eterna.

P - Não se pode reparar uma falta?

R - Sim, pela expiação.

P - O que é a expiação?

R - É uma sobrecarga de trabalho. Assim, porque fui preguiçoso ontem, devo realizar, hoje, uma dupla tarefa.

P - Que pensar dos que se impõem sofrimentos voluntários?

R - Se é para remediar a atração brutal do prazer, são sábios; se é para sofrer no lugar dos outros, são generosos; mas, se o fazem sem conselho e sem medida, são imprudentes.

P - Assim, diante da verdadeira filosofia, a religião é sábia em tudo a que ordena?

R - Vós o vedes.

P - Mas se enfim estivermos errados em nossas esperanças eternas?

R - A fé não admite essa dúvida. Mas a própria filosofia deve responder que todos os prazeres da terra não valem um dia de sabedoria, e que todos os triunfos da ambição não valem um só instante de heroísmo e de caridade.

 

Fonte: “Eliphas Levi; A Chave dos Grandes Mistérios”.


segunda-feira

A VIDA DOS MÍSTICOS




 Uma das mais ricas fontes de ensinamentos ocultos da tradição cristã é a vida dos místicos. Essa fonte e a dos grupos esotéricos constituem prova viva e sempre renovada da tese da revelação permanente. A Igreja Católica Romana prega que a Bíblia foi escrita sob a inspiração do Espírito Santo (por isso seria isenta de erros). Mas a Igreja sempre foi enfática em limitar a extensão dessa inspiração, negando-a para todos os outros documentos que não estivessem incluídos na lista daqueles considerados canônicos. Se, teoricamente, a Igreja considera que a inspiração teria ocorrido quando os evangelistas supostamente escreveram a Bíblia, na prática ela deixa implícito que deveria haver algum tipo de inspiração, senão permanente pelo menos esporádica, para explicar como os textos bíblicos foram modificados oficialmente tantas vezes ao longo dos séculos, em concílios, sem perder a veracidade inicial. 

 Interpretações teológicas à parte, o fato é que a inspiração divina sempre existiu e continuará a ocorrer cada vez mais no futuro, à medida que maiores contingentes de discípulos ingressem no Caminho da Perfeição. Os místicos são, por definição, indivíduos que alcançaram certo grau de abertura espiritual caracterizada por níveis crescentes de contato interior. [1] Essas visões e contatos interiores com o Eu Superior nada mais são do que aquilo que os Padres da Igreja Primitiva chamavam de inspiração do Espírito Santo? Esse tipo de contato, que possibilita a apreensão direta da verdade, é responsável pela firmeza inquebrantável da fé típica dos místicos. [2] Vivendo num mundo interior de visão espiritual, o místico passa por um processo de transformação acelerada. As experiências interiores reforçam sua determinação de prosseguir com a transformação exterior, necessária para o aprofundamento de sua vida interior até alcançar o objetivo de todos os místicos, a vida unitiva, o Supremo Bem da consciência de união com Deus.

 Uma consequência natural dos contatos interiores do místico é que ele passa a confiar cada vez menos nas autoridades constituídas, mesmo em se tratando da hierarquia eclesiástica. Para evitar conflito com seus superiores religiosos, alguns místicos procuram experiências de caráter muito reservado. [3] Outros orientam sua consciência de forma a que sua experiência interior seja pautada por seus conceitos religiosos, como Mechthilde de Magdeburg.[4] O místico, assim, torna-se, de certa forma, extremamente individualista, ainda que humilde. Um estudioso da vida dos místicos, que pode falar com conhecimento de causa em virtude de suas próprias experiências interiores, diz:

 Devemos distinguir o místico do homem piedoso. Ambos podem ser religiosos e, igualmente, devotados a um credo ou ritual; mas o último se baseia na autoridade da igreja ou do ritual de uma forma que o temperamento do místico não aceita. O místico é sempre um espinho na carne de uma igreja estabelecida, porque será guiado pela autoridade até onde lhe convier. [5]

 As igrejas cristãs, católicas e protestantes, sempre tiveram relações tensas com seus místicos. O católico que admira profundamente a vida de santidade de místicos como Francisco de Assis, Teresa de Ávila e João da Cruz, conhecendo os encômios prestados pela Igreja a estes Santos, geralmente não imagina que possam ter sido perseguidos pela mesma Igreja que agora lhes presta louvor. Francisco de Assis teve que se explicar ao Vaticano em virtude do rigoroso voto de pobreza que estabeleceu para sua ordem, pois com isso causou considerável constrangimento à hierarquia clerical da época, vivendo em grande fausto e opulência, em meio à pobreza do povo.

 Teresa de Ávila foi examinada pela Inquisição, aquela terrível instituição que tanto sofrimento trouxe à humanidade em nome do Deus de compaixão. Felizmente, a ajuda divina transformou aquela tentativa de cerceamento da Inquisição numa grande dádiva para o mundo, pois Teresa foi instruída por seu confessor, a mando da Inquisição, a escrever suas experiências espirituais, que tanta suspeita causava a seus superiores. Apesar das condições inusitadas em que foi forçada a escrever (devia entregar seus escritos cada dia a seu confessor e, ao recomeçar no dia seguinte, ou quando viável, não tinha permissão para consultar o que tinha escrito anteriormente),[6] a inspiração divina, que guia todos os que realmente vivem para Deus, permitiu que suas obras literárias servissem de fundamento e orientação para místicos e buscadores espirituais desde então. João da Cruz, por sua vez, foi perseguido e jogado na prisão por seus superiores eclesiásticos onde, na solidão, passou por experiências místicas que lhe deram inspiração para suas obras mais profundas e reveladoras.

 Apesar de todos esses percalços, o cristianismo institucional sempre reconheceu e aceitou a realidade da experiência mística, contanto que fosse circunscrita aos ditames da ortodoxia. Como a guardiã autonomeada da salvação humana, a teologia reservou para si o poder de decisão final em todos os assuntos religiosos. Ela condenava incondicionalmente aqueles cuja busca por esclarecimento interior os afastava das restrições impostas pela ortodoxia. Essas restrições aos instintos naturais do coração e da mente dividiam a congregação e resultaram em cisões. O místico não podia aceitar o conceito de que uma instituição mortal pudesse ser legitimamente capacitada a ditar as regras da salvação humana. A associação íntima entre Deus e o homem está além da alçada do clero. [7]

 O caminho místico, como descrito pela tradição monástica ocidental, desde os primeiros séculos com os anacoretas e cenobitas, passando pela Idade Média e Renascença, inclui uma imensa variedade de experiências. Evelyn Underhill, em seu monumental tratado sobre misticismo, alerta que:

 Não se descobriu nenhum místico em quem todas as características observadas de consciência transcendental estivessem resumidas e que, por isto, possa ser tratado como caso típico. Em alguns casos, estados mentais que são distintos e mutuamente exclusivos ocorrem simultaneamente. Em outros, estágios que foram considerados como essenciais são inteiramente omitidos, em outros, ainda, sua ordem parece ser invertida. Parece inicialmente que nos confrontamos com um grupo de seres que chegam ao mesmo fim sem obedecer a nenhuma lei geral?[8]

 Em que pese essa enormidade de experiências distintas, alguns estudiosos dividem a vida dos místicos em três etapas:

 · Via negativa, ou purgativa. Primeira etapa, em que o postulante deve proceder a uma mudança radical de vida, com o assíduo combate aos vícios, paixões e apegos. Constitui um processo de despojamento das coisas do mundo, também conhecido por kenosis (palavra grega que significa esvaziamento), para abrir espaço em seu coração para preenchimento com as coisas espirituais.

 · Via positiva, ou iluminativa. A etapa intermediária de cunho mais positivo, em que o místico procura cultivar as virtudes que, promovendo a sintonia com a perfeição divina, levam às expansões de consciência conhecidas como iluminação. 

 ·Via unitiva, ou perfeita. O coroamento de todo o esforço do místico, marcado pela contemplação que leva o praticante à suprema manifestação terrestre da realidade divina. Nessa etapa, o místico passa por experiências que interpreta como ver a Deus, chegando, mais tarde, a unir-se a Ele. Pode-se perceber na via unitiva três níveis de realização espiritual: a união rara, a intermitente e a estável ou plena. [9]

 Essa classificação em etapas será útil para a compreensão da metodologia de transformação apresentada na última parte deste livro. Teresa de Ávila, no entanto, sugere que a experiência mística passa por sete estágios. [10] Sua classificação é extremamente útil para o entendimento dos tipos de oração ou meditação. Esses sete estágios, ou moradas, como ela prefere chamar, têm um paralelo com o processo de individuação, como apresentado por Jung. Os três primeiros representam a primeira fase do processo de individuação, caracterizado pela expansão da personalidade e sua adaptação ao mundo exterior. As três últimas moradas representam a segunda fase do processo de individuação, caracterizado pelo retraimento necessário para a adaptação à vida interior. O quarto estágio é uma etapa de transição em que o indivíduo começa a redirecionar a ênfase de sua vida do exterior para o interior. [11]

 O misticismo, portanto, não é um credo, mas uma qualidade de percepção espiritual. Por isso, a experiência dos místicos é de suma importância para o estudo do lado interno da tradição cristã, pois eles demonstram em sua vida que o instrumental que nos foi legado por Jesus para que se possa alcançar a meta final de união com Deus ainda está disponível e vem sendo usado com sucesso por inúmeros peregrinos ao longo dos séculos.

 NOTAS:

[1] O contato interior ocorre quando a consciência usual do indivíduo é influenciada por sua parte divina, seu Eu Superior. Esse contato ocorre em diferentes níveis, podendo ir desde um impulso inconsciente para pensar sobre algum conceito ou ideia, até a instrução consciente por vozes nem sempre identificada, como é o caso dos místicos.

[2] Otto, Rudolf, Mysticism East and West. A Comparative Analysis of the Nature of Mysticism (The Macmillan Co., 1932), pg. 29-37.

[3] Dan Merkur, Gnosis. An Esoteric Tradition of Mystical Visions and Unions (State University of New York Press, 1993), pg. 11.

[4] Mechthild of Magdeburg, The Revelations of Mechthild of Magdeburg (1219-1297) (Londres: Longmans, Green, 1953), pg. 9.

[5] C. Jinarajadasa, The Nature of Mysticism (Adyar, India: Theosophical Publishing House, 1934), pg. 4

[6] Teresa de Ávila, Castelo Interior ou Moradas (S.P.: Paulus, 1981), pg. 11, 80.

  

Fonte: OS ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ de Raul Branco