Achilina
di Enrico Bo Bardi – Lina Bo Bardi – nasceu no dia 05 de dezembro de 1914 em
Prati di Castello, em Roma. Filha de Giovanna Adriana Grazia e Enrico Bo, e
irmã mais velha de Graziela Bo, Lina mostrou desde pequena seu talento para as
artes. Seu pai – engenheiro, construtor e pintor – ensinou-lhe o desenho,
atividade que então passaram a praticar juntos desde os 10 anos de idade de
Lina – pintava a guache e aquarela, com o mesmo apreço aos detalhes que o pai.
Sua formação escolar e acadêmica foi inteiramente fundamentada em Roma. Em
1933, graduou-se no Liceu Artístico e, entre 1934 e 1939, foi uma das poucas
mulheres a frequentar a Facoltá di Architettura da Università degli Studi di
Roma. Aos 25 anos, se formou arquiteta, apresentando o trabalho intitulado
“Núcleo Assistencial da Maternidade e da Infância”, um projeto com estrutura de
concreto armado e vidro aparente, linguagem que mostrou certa inovação frente
ao estilo arquitetônico oficial da escola.
AS EXPERIÊNCIAS
PROFISSIONAIS EM MILÃO (1940-1946)
Em
1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Lina se mudou para Milão e associou-se
ao arquiteto Carlo Pagani, com quem fundou o estúdio Bo e Pagani e também com
quem realizou trabalhos para o escritório de Gio Ponti. Desenvolveu uma série
de artigos para periódicos italianos, tanto de autoria própria quanto conjunta,
além de colaborar na editoração e ilustração de diversas revistas, tais como Lo
Stile – nella casa e nell’arrendamento, Grazia, Belleza, Vetrina e
L’Ilustrazionoe Italiana. Em 1944 foi chamada para a codireção da revista
Dommus e, em 1945, novamente com Pagani, fundou e dirigiu a Quaderni di Domus.
No mesmo ano criaram, com a colaboração de Raffaele Carrieri e Bruno Zevi, a
revista A, Cultura della Vita, como síntese de “Attualità, Architettura,
Abitazione, Arte”, dedicada a levar os problemas da reconstrução a um público
não especializado, e preocupada em abordar os temas da vida cotidiana a partir
da consciência da realidade psicológica do pós-guerra. Com o fim da Guerra,
Lina retornou brevemente à Roma e, em uma visita ao Studio d’Arte Palma,
conheceu Pietro Maria Bardi, com quem se casou em 1946.
Em
1946, recém casados, Lina e Pietro Maria iniciam a aventura da vinda para o
Brasil, país com a perspectiva de prosperidade no campo das artes e cenário de
uma arquitetura promissora. Partiram de Gênova a bordo do cargueiro Almirante
Jaceguay, e desembarcaram, em outubro do mesmo ano, no Rio de Janeiro, onde
permaneceram nos primeiros meses. Recém chegados, foram convidados pelo
jornalista, empresário e político Assis Chateaubriand para fundar e dirigir o
Museu de Arte de São Paulo (MASP). Mudaram-se para São Paulo e já em 1947
realizaram as primeiras instalações do Museu, provisoriamente situado na Rua 7
de Abril. Em 1948, Lina criou, em parceria com Pietro Maria, o arquiteto
Giancarlo Palanti e Valeria Piacentini Cirell, o Estúdio de Arte Palma, dedicado
ao projeto e desenho de mobiliário moderno e industrial. Fundou e dirigiu em
1950, com Pietro Maria Bardi, a revista Habitat, oficialmente vinculada ao
recém fundado MASP e que se definia como a “revista das artes do Brasil”. Em
1951, ano em que naturalizou-se brasileira, Lina completou seu primeiro projeto
arquitetônico construído: a Casa de Vidro, sua residência e de Pietro Maria –
foi a primeira residência construída no bairro do Morumbi, implantada em um dos
pontos mais altos do loteamento e imersa em meio a densa vegetação de Mata
Atlântica. Ainda em 1951, fundou e dirigiu, com Pietro Maria Bardi, o Instituto
de Arte Contemporânea – escola também vinculada ao MASP e uma das primeiras
iniciativas de ensino de design no Brasil. No período entre 1955 e 1956, Lina
atuou como professora de Teoria da Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo em regime temporário para substituir um
professor – sua primeira experiência como docente. Nesta época escreveu sua
tese de magistério Contribuição Propedêutica ao Ensino da Teoria de
Arquitetura, para um concurso que foi eventualmente indeferido, de modo que a
arquiteta não conseguiu integrar formalmente o corpo docente da faculdade. Em
1957, realizou os primeiros estudos para a nova sede do Museu de Arte de São
Paulo na Avenida Paulista.
OS ANOS EM SALVADOR
(1958-1964)
Em 1958, Lina foi a
Salvador para dar conferências na Escola de Belas Artes da Universidade da
Bahia e transferiu-se para lá no mesmo ano, após ser convidada para fundar e
dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Realizou o projeto de
restauro do Solar do Unhão e sua adaptação para a nova sede do recém inaugurado
museu. Em 1959, organiza com Martim Gonçalves – com quem realizou diversos
cenários para peças de teatro – a
exposição Bahia no Ibirapuera na V Bienal de Arte de São Paulo. Em 1963 ficou
responsável pela curadoria da exposição Nordeste, a primeira realizada após a
inauguração do Museu de Arte Moderna da Bahia. Durante esse período Lina se
relacionou com importantes artistas de vanguarda, como o fotógrafo Pierre
Verger e o cineasta Glauber Rocha. Deixou Salvador e regressou a São Paulo em
1964, ano do golpe militar.
DE VOLTA À SÃO PAULO E
A RETOMADA DO PROJETO DO MASP (1964-1968)
Em
1965, realizou estudos para três projetos não construídos: um museu para o
Instituto Butantã, um pavilhão de exposições no Parque Lage, no Rio de Janeiro,
e um dos seus raros estudos de urbanização, uma proposta para a praia de
Itamambuca, em Ubatuba. Retomou em 1966 o projeto do Museu de Arte de São
Paulo, desenvolvendo adaptações e detalhamentos, além do acompanhando do
canteiro de obras. O museu foi
inaugurado na Avenida Paulista, em 1968, com a exposição A mão do povo
brasileiro. Em 1967, fez o projeto gráfico da revista recém lançada Mirante das
Artes, editada por Pietro Maria Bardi.
IMERSÃO NA CENA TEATRAL (1969-1976)
Os
nove anos seguintes – que coincidem com os anos da ditadura militar – configuraram-se como um período em que Lina
dedicou-se majoritariamente à cenografia, em contato com importantes nomes da
cena teatral e cinematográfica do momento, tais como José Celso Martinez
Correia e Flávio Império. Iniciou, em 1969, sua parceria com Zé Celso
realizando a arquitetura cênica e o figurino da peça Na Selva das Cidades. Com
o mesmo diretor e com André Farias realizou, em 1970, também a cenografia do
filme Prata Palomares. Colaborou, em 1971, no filme Gracias Señor de Flávio
Império. Em 1975 Lina monta com o pintor Edmar José de Almeida a exposição
Repassos, no MASP, sobre o trabalho das tecedeiras do Triângulo Mineiro.
ÚLTIMA FASE DA
CARREIRA, GRANDES PROJETOS (1977-1992)
Em
1977 retornou à cena arquitetônica com o início do projeto do centro de lazer
do SESC Pompéia, que foi inaugurado em 1982. Consolidou nessa fase o início da
parceria com seus jovens colaboradores Marcelo Ferraz, André Vainer e Marcelo
Suzuki. No mesmo ano, realizou novas
instalações para o Museu de Arte Moderna do Parque Ibirapuera e, em 1984,
começou a elaborar os primeiros desenhos para o projeto da sede do Teatro
Oficina, ambos em São Paulo. Foi convidada em 1986, pela Prefeitura de
Salvador, para desenvolver um projeto de recuperação de seu centro histórico.
Nessa mesma ocasião, realizou outros projetos para a cidade, tais como o Teatro
e Fundação Gregório de Mattos, a Casa do Benin (no Pelourinho), a recuperação
das encostas da ladeira da Misericórdia e a Casa do Olodum. Em 1990 iniciou a
restauração do edifício do Teatro Oficina (inaugurado em 1994) e o projeto –
seu último – da nova sede do Palácio das Indústrias para a Prefeitura de São
Paulo. Ainda em 1990, Lina e Pietro Maria fundaram o Instituto Quadrante – hoje
Instituto Bardi/Casa de Vidro – com o intuito de “desenvolver isoladamente ou
em conjunto com o Museu de Arte de São Paulo – Assis Chateaubriand – MASP e,
ainda, com entidades nacionais e do exterior, atividades culturais e estudos
relacionados com a história da arte e da arquitetura” – esteve à frente da
vice-presidência desde a fundação até seu último ano de vida.
Faleceu em São Paulo,
no dia 20 de março de 1992, com 77 anos, tendo se tornado referência mundial pela
sua trajetória e conjunto excepcional de sua obra.
OBRAS DE LINA BO BARDI
Lina Bo Bardi possui
uma produção excepcional de obras arquitetônicas construídas de grande
reconhecimento e importância no Brasil e no mundo.
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