Em idos de novecentos e noventa e
um, adolescente e estudante de ginásio fui encarregado com outros dois colegas
para cuidarmos de um artigo do jornal que estava sendo criado pela classe, o
lendário “V8, a Voz da Juventude” (que ainda guardo um exemplar comigo!). Mas,
eu não podia acreditar na má sorte que se fazia minha. Foi nos legado um artigo
sobre Economia. Economia! Como trataríamos disso? Os outros redigiram um texto
que era simplesmente muito chato, insuportável e aí me entregaram para
colaborar nele.
Fiquei lendo aquilo e achando
terrível. O que eu poderia fazer? Eu não gostava de economia, aliás tudo o que
envolve números me causa dificuldades, o pouco de economia que era capaz de
entender era quando Joelmir Beting explicava algo pela TV. Era isso. Não
preciso dizer que a maneira simples, direta e ao mesmo tempo tão bem informada
de Joelmir Beting serviu de astrolábio para seguir em uma direção segura neste
impulso jornalístico juvenil amador. O resultado? Peguei o texto dos meus
colegas e joguei no lixo e escrevi um texto simples, bem humorado falando de
economia. Quando leram aquilo quiseram me trucidar, mas em classe após ler
todos os artigos, a professora chamou a atenção da classe questionando quem
havia feito o texto de economia, achamos que era o fim, mas com a confirmação,
ela não só parabenizou o texto como o estabeleceu como referência para todos os
outros.
Lembrei-me desta história ao
saber da passagem do genial jornalista Joelmir Beting e deixo aqui minha
homenagem a alguém capaz de simplificar o complexo em prol da população que não
era obrigada a fazer faculdade de economia para entender o assunto tão
primordial a suas vidas.
Como dizia Joelmir ao final do
seus artigos televisivos nas altas madrugadas “E para pensar na cama”:
"Que fala de mim
na minha ausência,
é porque respeita a
minha presença..."
Bob Marley
Joelmir José Beting (Tambaú, 21
de dezembro de 1936 — São Paulo, 29 de novembro de 2012) foi um jornalista e
sociólogo brasileiro.. Profissional de grande contribuição para o jornalismo, a
economia e a comunicação, foi pioneiro na tradução dos difíceis termos técnicos
da economia para a vida cotidiana.Nascido em Tambaú, interior de São Paulo,
começou a trabalhar nas plantações da propriedade de sua família aos sete anos.
"A minha origem é, de certa forma, de boia-fria", lembraria o
jornalista em entrevista à revista Imprensa em julho de 2012.Depois de ser
coroinha na igreja da cidade, o padre Donizetti Tavares de Lima arrumou-lhe o
primeiro emprego, na rádio de Tambaú, aos quinze anos.
Aos dezenove anos de idade,
Beting foi para São Paulo onde estudou Sociologia na Universidade de São Paulo,
na mesma turma de nomes como Ruth Cardoso e Francisco Weffort.Em 1957, durante
o período universitário, iniciava sua carreira jornalística, como repórter
esportivo nos jornais O Esporte e Diário Popular. Deixou a área esportiva dois
anos depois, quando deixou sua paixão pelo Palmeiras falar mais alto na
transmissão de um Derby Paulista pela Rádio Panamericana e quase foi agredido
pela torcida corintiana.Foi contratado em 1966 pela Folha de S. Paulo para
lançar a editoria de Automóveis, fruto da repercussão de sua tese do curso de
Sociologia ("Adaptação da mão de obra nordestina na indústria
automobilística de São Paulo"), que fora publicada pelo Diário Popular na
íntegra. Dois anos depois lançou a editoria de Economia do mesmo jornal,
lançando uma coluna diária a partir de 1970.[2] A coluna tornou-se célebre por
desmistificar a economia numa época de inflação astronômica e reiteradas
medidas desastradas do governo. É de lá que nasceram alguns dos
"bordões" de Joelmir, como "Quem não deve não tem" e
"Na prática, a teoria é outra".
Paralelamente à coluna na Folha
(que transferiu para O Estado de S. Paulo em 1991), Joelmir passou, ainda em 1970, a participar de
programas de rádio, na Jovem Pan, e de televisão, na Record, onde se tornaria
conhecido do grande público, com suas participações nos telejornais da Rede
Globo, onde permaneceu entre agosto de 1985 e julho de 2003. O início na TV foi
em 1970, com o programa Multiplicação do Dinheiro, que funcionava como uma
mesa-redonda sobre assuntos econômicos, com participação dos economistas
Eduardo Suplicy e Miguel Colassuono. Em 1974 foi contratado pela Rede
Bandeirantes, onde ficaria até a sua estreia na Globo. Na Band, ancorou o
Jornal Bandeirantes, ao lado de Ferreira Martins, além de fazer comentários de
economia e reportagens especiais.O mesmo aconteceu na Rádio Bandeirantes, onde
fazia um comentário diário no programa O Trabuco, de Vicente Leporace. Com a
morte deste, em abril de 1978, juntou-se a José Paulo de Andrade e Salomão
Ésper para apresentar o Jornal Gente, criado no dia seguinte ao acontecido. O
trio voltaria a reunir-se em 2003, quando Joelmir foi novamente contratado pela
Bandeirantes. Entre os anos 1980 e 1990 foi também comentarista das rádios
Excelsior e CBN. No início do canal por assinatura Globonews, em 1996, foi um
dos apresentadores do programa Espaço Aberto.
Alguns de seus mais célebres
trabalhos na TV são o primeiro debate entre candidatos a eleições, na Band, e a
entrevista com os membros da equipe econômica de Fernando Collor em março de
1990, quando Zélia Cardoso de Mello e Ibrahim Eris, entre outros, foram
surpreendidos por Joelmir, Lilian Witte Fibe e Paulo Henrique Amorim, então
especialistas em economia da emissora. Quando Amorim detalhou uma das
principais medidas do Plano Collor, o confisco, Joelmir teve uma curiosa
reação, como descrita pela revista Imprensa: "Encarando a câmera, [ele]
arregalou os olhos e escancarou a boca, como se informasse, bem didaticamente,
a reação apropriada para a medida: espanto." A imagem seria usada pelo
Jornal do Brasil no dia seguinte, sob a manchete "A cara da nação".É
atribuída a Joelmir a ideia de premiar Pelé com uma placa comemorativa em
homenagem a um de seus mais belos gols, feito no Maracanã contra o Fluminense.
Desse fato surgiu a expressão "Gol de Placa", sempre dita pelos
profissionais de futebol do país quando descrevem um gol de rara beleza e muito
difícil de ser feito.Joelmir morreu em 29 de novembro de 2012 em São Paulo, em
decorrência de um AVC Hemorrágico, no Hospital Albert Einstein, após passar
mais de um mês internado para tratar de doença autoimune. Tinha dois filhos,
Gianfranco, publicitário e especialista em aviação, e Mauro, jornalista e
comentarista esportivo da Rede Bandeirantes. Sua morte foi anunciada aos
ouvintes da Rádio Bandeirantes pelo filho Mauro, durante a cobertura pós-jogo
da partida entre São Paulo e Universidad Católica, pela Copa Sul-Americana.
Quando morreu, exercia a função
de editor e comentarista econômico do Jornal da Band, apresentado por Ricardo
Boechat, participava do Jornal Gente e do Jornal Três Tempos, da Rádio
Bandeirantes, além do programa esportivo Beting&Beting, com seu filho Mauro
e seu sobrinho Erich, no canal fechado BandSports. Fazia também comentários
para o Primeiro Jornal e o Jornal da Noite, na Band, e para o canal de notícias
BandNews. Joelmir também apresentava o Canal Livre.
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