Panacéia dos Amigos

quarta-feira

A MÚSICA DE UMA VIDA




Entre os Himba da Namíbia, no sul da África, a data de nascimento de uma criança é fixada, não no momento de sua vinda ao mundo, nem na de sua concepção, mas muito antes: desde o dia em que a criança é pensamento na mente de sua mãe.

Quando uma mulher decide que vai ter um filho, ela se senta e descansa debaixo de uma árvore, e escuta até ouvir a música da criança que está nascendo. E depois de ouvir a música dessa criança, ela volta para o homem que será o pai da criança para ensiná-la aquela música. E então, quando fazem amor para conceber fisicamente o filho, cantam o canto do filho, a fim de convidá-lo.

Quando a mãe está grávida, ela ensina o canto desta criança para as parteiras e mulheres mais velhas da aldeia. Assim, quando o bebê nasce, as velhas e as pessoas ao seu redor cantam sua canção para recebê-lo.

Conforme a criança cresce, os outros moradores aprendem sua música. Para que se a criança cair ou se machucar, sempre haja alguém para pegá-la e cantar sua música para ela. Da mesma forma, se a criança fizer algo maravilhoso ou passar pelos ritos de passagem com sucesso, o povo da aldeia cantará sua canção para ela em homenagem a ela.

Na tribo, há outra ocasião em que os moradores cantam para a criança. Se em algum momento da vida a pessoa cometer um crime ou ato social aberrante, o indivíduo é chamado ao centro da aldeia e as pessoas da comunidade formam um círculo ao seu redor. Em seguida, eles cantam sua canção. A tribo reconhece que corrigir o comportamento antissocial não é uma questão de punição, mas de amar e lembrar quem você é. Quando você reconhece sua própria música, você não quer ou precisa fazer nada que possa prejudicar a outra pessoa.

E assim é durante toda a vida. No casamento, as canções são cantadas juntos. E quando, envelhecida, esta criança está deitada em sua cama, pronta para morrer, todos os aldeões conhecem sua canção, e cantam sua canção pela última vez. "


Por: Shomari Uhuru Vaz

sexta-feira

A ESCOLHA DOS PAIS COM OS QUAIS O ESPÍRITO VAI ENCARNAR COMO FILHO


A escolha dos pais com os quais o espírito vai encarnar (como filho) acontece justamente porque eles podem oferecer ao espírito a possibilidade de “ativar” determinados complexos de encarnações passadas.

Isto significa que a criança terá naquela família as dificuldades e facilidades necessárias para ela cumprir aquilo que foi planejado antes de nascer (missão de vida).

– O retorno do espírito para o corpo é planejado. A família em que ele nascerá será aquela capaz de propiciar o positivo e o negativo que ele precisa para evoluir.

- A escolha da família na qual um espírito vai reencarnar é determinada pelas qualidades e defeitos que fazem parte do núcleo familiar. Toda família possui características que estimulam positivamente ou negativamente a criança, que está em processo de formação.

Explico-me: uma mãe amorosa, mas medrosa, engravidou. Suas vibrações foram de profundo amor, aceitação e alegria. Junto veio o receio e a insegurança. O espírito que nascerá será estimulado por todos os sentimentos, pensamentos, vibrações e sensações da mãe. Tanto as vibrações de amor quanto as vibrações de insegurança (por exemplo) vão influenciar na formação do feto.

Suponhamos que esta mãe tenha medo de perder o emprego. Este conjunto de pensamentos, sentimentos, vibrações e sensações chega até o feto. O feto não tem condições de lidar com estes estímulos. Ele usa o “banco de dados” do espírito. O espírito é a referência, a memória e a percepção do feto. Ou seja, é o espírito quem dá sentido aos estímulos que chegam da mãe. Chamamos estes estímulos de dinamizadores, pois eles dinamizam e estimulam a memória espiritual, fazendo com que parte dela seja impregnada na mente do bebê antes dele nascer, durante o parto e mesmo depois do nascimento.

Suponhamos agora que em uma encarnação passada este espírito tenha passado fome por causa de desemprego. As vibrações da mãe dinamizam esta memória do espírito e o resultado poderá ser a ansiedade no feto. A ansiedade no feto gerará uma criança ansiosa (que terá que enfrentar o desafio da ansiedade em sua vida).

Desta forma, o bebê que nasce é uma continuidade do espírito que nele está encarnado. Ele nasce com informações de outras encarnações e do plano espiritual. O bebê não é uma página em branco, ele possui uma riqueza extraordinária de informações e recursos (é assim que se forma a personalidade do bebê).

A formação da mente é acompanhada pela entrada de conteúdo do espírito, que molda o novo corpo que está se formando.

Somos uma continuidade. Somos um corpo novo conduzido por um espírito antigo, que já teve muitas encarnações, possui muitos recursos, habilidades, conhecimentos, condicionamentos, traumas, etc.

Toda criança é um espírito repleto de vida e de história. É muito importante saber trabalhar com esta história e aproveitar os recursos que foram arduamente desenvolvidos em dezenas (ou centenas) de encarnações.

Lembre-se: o feto está ligado a um espírito que possui capacidade de percepção e memória. Os acontecimentos desta fase da vida são armazenados e influenciam a formação da mente do bebe. Desta forma, as primeiras memórias que o bebê terá serão um misto de memórias intrauterinas com memórias de encarnações passadas.

“A família é o campo de provas para a evolução do espírito;”

A mãe insegura (do exemplo anterior) deve se sentir culpada? Não, nunca. A escolha dela (e do pai) para receber aquele espírito deve-se ao conjunto de suas qualidades e dificuldades. O espírito nasce em um novo corpo para lutar, superar dificuldades e evoluir. Ele está reencarnando porque possui muito à aprender e amadurecer. As dificuldades que são dinamizadas na formação do feto JÁ estão presentes no espírito e devem ser por ele resolvidas.

Traduzindo: a família dinamiza somente aquilo que o espírito que está reencarnando carrega no “coração”. É igual na vida cotidiana: o que esperar de um ingrato? Ingratidão. E de uma pessoa desonesta? Desonestidade. Se alguém der um prato de comida para um ingrato, o que será dinamizado? Ingratidão. Talvez o ingrato pense e sinta raiva: “ela me deu arroz com feijão, deveria ter me dado macarrão”. Se esta pessoa for grata, ela não terá ingratidão por receber um prato de comida. Só é dinamizado o que está no “coração” desta pessoa. O que não existir, não pode ser estimulado.

Da mesma forma, se a mãe emitir vibrações de insegurança e o espírito for seguro, ela não irá dinamizar nada. Tudo de bom ou ruim que for dinamizado no espírito é porque já está presente neste espírito. Se no seu “coração” (espírito não tem coração, imagem simbólica) houver paz, o espírito sentirá paz mesmo que os pais não sintam esta paz. O que existir pode ser estimulado, o que não existir não será estimulado. O que for dinamizado (estimulado) será o que o filho terá de bom ou ruim para enfrentar.

Os filhos são uma benção para a família porque com sua personalidade única contribuem para que os pais também aprendam com eles. Todos aprendem, porque todos possuem muito à aprender e evoluir.


Por: Regis Mesquita (Formado em psicologia e especializado em Psicologia Junguiana, especialista em Terapia de Regressão, escritor e palestrante espírita)

quarta-feira

TRABALHO INTERIOR


Um dia, uma pessoa subiu a montanha onde se refugiava uma mulher eremita que estava meditando e perguntou-lhe:

- O que você está fazendo nessa solidão?, Ao que ela respondeu:

- Eu tenho um monte de trabalho.

- E como você pode ter tanto trabalho? Não vejo nada por aqui ...

- Tenho que treinar dois falcões e duas águias, tranquilizar dois coelhos, disciplinar uma cobra, motivar um burro e domar um leão.

- E onde estão eles que não os vejo?

- Eu os tenho dentro.

Os falcões se lançam sobre tudo que vem pela frente, bom ou ruim, tenho que treiná-los para pular em coisas boas. Eles são meus olhos.

As duas águias com suas garras machucam e destroem, eu tenho que ensiná-las a não causar danos. Eles são minhas mãos.

Os coelhos querem ir para onde querem, não para enfrentar situações difíceis, tenho que ensiná-los a ter calma mesmo que haja sofrimento, ou tropeço. Eles são meus pés.

O burro está sempre cansado, é teimoso, não quer carregar sua carga muitas vezes. É meu corpo.

O mais difícil de domar é a cobra. Embora ela esteja trancada em uma gaiola forte, ela está sempre pronta para morder e envenenar qualquer pessoa ao seu redor. Eu tenho que discipliná-la. É minha língua.

Eu também tenho um leão. Oh ... quão orgulhoso, vaidoso, ele pensa que é o rei. Eu tenho que domá-lo. É meu ego.

- Eu tenho um monte de trabalho..


sexta-feira

COMO LIDAR COM AS PERTURBAÇÕES ESPIRITUAIS




Para se compreender as perturbações espirituais é necessário entender primeiro como elas acontecem.


“É pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves. Pode-se impedir a sua manifestação, mas não aniquilá-lo”. (Livro dos Espíritos, questão 833).


E será que os espíritos podem influenciar nossos pensamentos e nossas ações? Esclarece a Doutrina Espírita, que muito mais do que supomos.


Esse intercâmbio entre as duas esferas, material e espiritual, acontece frequentemente e chamam atenção para a necessidade de cuidar da qualidade dos pensamentos, quando se deseja criar sintonias positivas.


Segundo  explica a física quântica, tudo que a mente pode conceber e acreditar, ela pode realizar, mostrando o grande poder das ondas do pensamento.


A partir desses conceitos compreende-se que quando essas frequências do pensar sofrem interferências negativas, as perturbações espirituais passam a acontecer, permitindo um elo entre emissor e receptor.


Muitas vezes, essas influências ocultas são tão sutis que nem mesmo se percebe, criando-se espaço para um processo obsessivo, cujo ponto de ligação entre obsessores e obsediados são os pensamentos e os sentimentos, que alimentam um ao outro.


Para se libertar dessas influencias espirituais menos felizes que causam o desequilíbrio é preciso buscar melhorar o padrão vibratório e a mudança no comportamento diário, procurando se afastar das influencias negativas pelo pensamento.


A harmonia espiritual nasce do desejo profundo de se libertar da influência de “mentes menos felizes”, perseverando no caminho da luz, capaz de combater a escuridão interior.


Enquanto a ignorância aprisiona, o despertar para a realidade do espírito com todo seu potencial criador sobre pensamentos e desejos, apresenta um caminho de infinitas possibilidades rumo à evolução.  Nos alertou Jesus:  “A minha paz vos deixo. A minha paz vos dou, não vo-la dou como o mundo

quarta-feira

O ESPIRITISMO E A BÍBLIA



Uma pessoa nos escreveu afirmando que nós espíritas não seguimos a Bíblia, porque em  Deuteronômio cap.18 - v 9 a 14 diz para não evocar os mortos. Daí eu respondi com outra pergunta:

- Vocês seguem todas as leis do antigo testamento? Por exemplo: em Deuteronômio 22: 22 diz para apedrejar até à morte os adúlteros. Em Levítico 20:13 proíbe o homossexualismo e a pena para quem desobedecer é a morte.  Em Deuteronômio 21-18 à 21 diz: "Os filhos desobedientes e rebeldes, que não ouçam seus pais e se comprometam no vício, serão apedrejados até a morte." Quem segue estas leis? Se seguíssemos sairíamos apedrejando ou seríamos apedrejados, não é? 

Na verdade, a proibição da evocação dos mortos, feita por Moisés é prova que os espíritos poderiam se comunicar, pois como proibir algo que não existe? E esta proibição aconteceu para inibir os abusos. Se hoje há abuso, imaginemos naquela época. 

Em Números, Moisés recebeu queixas de Josué que dizia haver dois homens profetizando (usando a mediunidade) nos arredores de Israel. Era Eldade e Medade. Moisés quis saber o que ambos faziam e ele foi informado que estavam curando, orientando, ajudando, etc.. Então, Moisés disse:

- Quem dera todo o povo do Senhor fosse profeta (médium) e que o Senhor pusesse o Seu Espírito sobre ele.

Então, o problema com Moisés não era com o profetismo (mediunidade) e sim com o mau profetismo. A exploração do profetismo. Nós espíritas, evocamos os "MORTOS" quando há uma intenção útil, como fez Allan Kardec e, quando eles (desencarnados) querem e podem se comunicar, são eles que nos evocam. Aliás, não só nós espíritas, mas todos aqueles com sensibilidade mediúnica ostensiva. Já que a mediunidade não foi inventada pelos espíritas, e nem é de nossa propriedade. 

Na Bíblia, por exemplo, há várias comunicações mediúnicas, e o Espiritismo nem existia. Um exemplo é o rei Saul buscando uma médium para aconselhar-se com Samuel que já estava “MORTO”. 

Essa passagem está em I Samuel, cap. 28: vv 8 á 15. O rei Saul proibiu a evocação de mortos, mas ele mesmo a transgrediu. Jesus evocou os espíritos do próprio Moisés e de Elias no monte Tabor? Será que Moisés deu um puxão de orelha em Jesus dizendo: “Você transgrediu a minha lei?” Claro que não. 

POR QUE OS ESPÍRITAS SÓ SEGUEM O NOVO TESTAMENTO? Porque no antigo testamento há leis ESCRITAS por Moisés e leis RECEBIDAS por Moisés. Ele escreveu leis para conter os abusos daquele povo ignorante da época. 

Ele dizia que eram leis de Deus para que o povo as seguissem. E as que ele recebeu são os 10 mandamentos, estas sim são de Deus. Tanto é verdade que muitas leis de Moisés diz: “deve ser apedrejado até a morte”, e em um dos dez mandamentos diz: ‘não matarás”. Moisés era contraditório? Não.

Então, tomemos cuidado para não julgarmos antes de conhecermos, cuidado com alguns pregadores de púlpitos que falam mal de uma religião sem conhecê-la separando irmãos, criando desarmonia, desavença, correndo o perigo de incentivar, seguidores fanáticos, à violência e, sem enxergar os erros em sua própria conduta e religião. Respeitando a religião alheia estaremos seguindo a máxima do Cristo que diz para fazermos ao próximo o que queremos que nos façam. Pensemos nisso!


FONTE: (Cecal)/Facebook

SEJAMOS LUZ.

 PAZ E BEM.🍀🌻🍀                                     H.L

O QUE É SOLIDÃO?

 



Solidão não é a falta de gente para, conversar, passear, namorar ou fazer sexo……isto é carência. 


Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar… isto é saudades. 


Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe às vezes para realinhar os pensamentos……isto é equilíbrio. 


Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a nossa vida… isto é um princípio da natureza. 


Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado … isto é circunstância.

 

Solidão é muito mais que isto… 


Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma. 


Francisco Cândido Xavier

terça-feira

O TEMPO NÃO EXISTE

 


‘O tempo não existe’: a visão de Carlo Rovelli, físico tido como ‘novo Stephen Hawking’

O renomado físico teórico Carlo Rovelli, um dos fundadores da chamada gravidade quântica em loop, defende que devemos pensar em um mundo em que o tempo não é mais uma variável contínua.

"O tempo não existe. E eu tenho 15 minutos para convencê-los disso", diz Carlo Rovelli, após olhar seu relógio de pulso.

Assim começa uma palestra TEDx feita em 2012 pelo físico italiano, que não costuma aparecer na imprensa internacional.

Uma das vezes em que ele ganhou destaque foi na revista britânica New Statesman, numa reportagem assinada por George Eaton intitulada "O físico rockstar Carlo Rovelli explica por que o tempo é uma ilusão", em tradução livre.

"A determinação de Rovelli em tornar a física quântica acessível e suas prodigiosas vendas de livros o levaram a ser chamado de 'o novo Stephen Hawking'", destaca o artigo.

Em 2020, no evento "The Nature of Time" (A Natureza do Tempo), organizado pela revista New Scientist, o físico teórico pegou uma corda e a esticou de uma ponta a outra do palco. E pendurou uma caneta no meio da corda para marcar o presente.

Rovelli disse: "É aqui que estamos."

Ele então ergueu o braço direito e apontou para a direita: "Esse é o futuro." Na sequência, apontou para a esquerda: "E esse é o passado."

"Esse é o tempo do nosso dia a dia: uma longa fila, uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida, que podemos medir com relógios", disse. "E todos nós concordamos com os intervalos de tempo entre dois momentos diferentes ao longo do caminho, ao longo desta linha."

Depois acrescentou: "Quase tudo o que eu disse está errado. Em termos factuais, isso está incorreto. É como se eu dissesse que a Terra é plana".

"O tempo não funciona assim, ele o faz de uma maneira diferente", emendou.

E esclareceu: "Essas não são ideias especulativas que aparecem em sonhos estranhos de físicos. São fatos que medimos em laboratório, com instrumentos, e que podem ser verificados".

'Pura rebelião'

Nascido em Verona, na Itália, em 1956, Rovelli confessa que sua adolescência foi "pura rebelião". O mundo em que ele vivia era diferente do que considerava "justo e belo" e, em meio a essa decepção, a ciência veio ao seu encontro.

No mundo acadêmico, o jovem pesquisador descobriu "um espaço de liberdade ilimitada", que ele relembra em um de seus livros.

"No momento em que meu sonho de construir um novo mundo colidiu com a realidade, me apaixonei pela ciência, que contém um número infinito de novos mundos", descreve.

"Enquanto eu escrevia um livro com meus amigos sobre a revolução estudantil (um livro que a polícia não gostou e me custou uma surra na delegacia de Verona: 'Diga-nos os nomes de seus amigos comunistas!'), mergulhei cada vez mais no estudo do espaço e do tempo, tentando entender os cenários que haviam sido propostos até então."

Gravidade quântica

Rovelli decidiu dedicar sua vida ao desafio de conciliar duas teorias: a mecânica quântica (que descreve o mundo microscópico) e a relatividade geral de Albert Einstein.

"Para chegar a uma nova teoria, devemos construir um esquema mental que não tenha a ver com nossa concepção usual de espaço e tempo", diz. "Você tem que pensar em um mundo em que o tempo não é mais uma variável contínua, mas uma outra coisa."

Ao buscar possíveis soluções para o problema da gravidade quântica, Rovelli foi um dos fundadores da teoria da gravidade quântica em loop, também conhecida como teoria do loop, que apresenta uma estrutura fina e granular do espaço.

Essa teoria tem aplicações em diferentes campos – por exemplo, o estudo do Big Bang ou as formas de abordar e entender os buracos negros.

Buraco negro recém-descoberto pode ter se formado antes das estrelas e das galáxias

O físico italiano tem uma carreira brilhante, que inclui inúmeros prêmios e livros. Uma dessas publicações, "Sete Breves Lições de Física" (Editora Objetiva), foi traduzida para 41 idiomas e vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Ele também foi professor na Itália, nos Estados Unidos, no Reino Unido e atualmente é pesquisador do Centro de Física Teórica de Marselha, na França.

Rovelli respondeu por escrito a algumas perguntas da BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC Mundo - O que é o tempo? Ele realmente existe?

Carlo Rovelli - Sim, claro que o tempo existe. Do contrário, o que é que sempre nos falta? Mas a ideia comum que temos sobre o que é o tempo e como ele funciona não serve para entendermos átomos e galáxias. Nossa concepção usual de tempo funciona apenas em nossa escala e quando vamos medir as coisas com muita precisão.

Se quisermos aprender mais sobre o universo, temos que mudar a nossa visão do tempo. Porque o que costumamos chamar de "tempo", sem pensar muito sobre o que isso significa, é realmente um emaranhado de fenômenos diferentes. O tempo pode parecer simples, mas é realmente complexo: ele é feito de muitas camadas, algumas das quais são relevantes apenas para certos fenômenos, e não para outros.

BBC Mundo - O que o senhor descobriu quando se perguntou: por que só podemos conhecer o passado e não o futuro?

Rovelli - A razão de termos informações sobre o passado e não sobre o futuro é estatística. Tem a ver com o fato de não vermos os detalhes das coisas. Não vemos, por exemplo, as moléculas individuais que compõem o ar da sala em que estamos. Mas, no mundo microscópico, não há essa distinção entre o passado e o futuro.

BBC Mundo - O senhor falou sobre a elasticidade do tempo e sobre um dia em que "vivenciamos coisas diretamente, como encontrar nossos filhos mais velhos que nós mesmos no caminho de volta para casa". Como isso pode acontecer?

Rovelli - A pergunta correta é a oposta: por que quando nos separamos e nos encontramos novamente, o seu e o meu relógio medem o mesmo intervalo de tempo?

Não há razão para que devam medir esse mesmo tempo. A experiência nos diz isso apenas porque nossas medições não são precisas o suficiente. Se fossem, veríamos que o tempo corre em velocidades diferentes para pessoas diferentes, dependendo de onde estão e como se movem. Portanto, eu poderia me separar de meus filhos e reencontrá-los em um tempo que significa apenas um ano para mim, mas 50 anos para eles. Nesse cenário, eu ainda sou jovem e eles envelheceram. Isso certamente é possível. O motivo pelo qual normalmente não vivenciamos esse tipo de experiência é apenas que nossa vida na Terra se move numa velocidade lenta entre nós e, nesse caso, as diferenças de tempo são pequenas.

BBC Mundo - Algum dia poderemos viajar ao passado?

Rovelli - Considero extremamente improvável. Viajar para o futuro, por outro lado, é o que fazemos todos os dias.

BBC Mundo - O que o senhor quer dizer com isso?

Rovelli - Viajar ao passado é difícil. Mas viajar para o futuro é muito fácil. Faça o que fizer, você está viajando sempre para o futuro: o amanhã é o futuro do hoje.

BBC Mundo - Sabemos que o senhor gosta muito de gatos e prefere não se referir ao gato de Schrödinger e a discussão se ele está vivo ou morto (ou dormindo). O senhor poderia explicar por que, segundo esse famoso experimento, o animal pode estar vivo e morto ao mesmo tempo?

Rovelli - Acho que o gato não está realmente acordado e dormindo ao mesmo tempo. Considero que, com respeito a si mesmo, o gato está definitivamente acordado ou dormindo. Mas quando se trata de mim e de você, pode não haver nem um estado, nem outro. Porque eu acho que as propriedades das coisas (incluindo os átomos e os gatos) são relativas a outras coisas e só se tornam reais nas interações com elas. Se não houver interações, não há propriedades.

BBC Mundo - Como o senhor explicou, a discussão entre os físicos da mecânica quântica não é apenas sobre o gato estar vivo e morto ao mesmo tempo, mas também sobre o experimento com dois eventos, A e B, nos quais A vem antes de B, mas também B vem antes de A. Como isso pode ser possível?

Rovelli - Quando dizemos que um evento A é anterior a um evento B, o que queremos dizer é que pode haver um sinal indo de A para B. Por exemplo, sua pergunta é anterior à minha resposta, porque me chega antes que eu possa respondê-la.

No entanto, às vezes pode acontecer que seja realmente impossível enviar um sinal de A para B, mas também impossível enviar um sinal de B para A. Então, nenhum é anterior ao outro.

A razão de não estarmos acostumados com isso é porque a luz viaja muito rápido, então tendemos a pensar que podemos ver tudo "instantaneamente". Mas a verdade é que não podemos. Portanto, sempre existem eventos que não são ordenados de acordo com esse tempo.

BBC Mundo - O que o senhor quer dizer quando afirma que existem muitas versões diferentes da realidade, embora todas pareçam iguais em grande escala?

Rovelli - As propriedades de todas as coisas são relativas a outras coisas. As propriedades do mundo em relação a você não são necessariamente as mesmas em relação a mim. Normalmente, não vemos essas diferenças nas propriedades físicas porque os efeitos quânticos são muito pequenos. Mas, em princípio, podemos ver mundos ligeiramente diferentes.

BBC Mundo - O senhor disse que temos que reorganizar a forma como pensamos a realidade. Como podemos fazer isso? O que estamos perdendo se não tentarmos seguir por esse caminho?

Rovelli - Podemos continuar vivendo nossas vidas ignorando a física quântica, mas se estamos curiosos sobre como a realidade funciona, temos que encarar que as coisas são realmente estranhas.

BBC Mundo - A metáfora que o senhor faz sobre a mecânica quântica e sua interseção com a filosofia, como se essas duas áreas do conhecimento fossem um casal se reunindo, se separando, depois voltando e se separando novamente, é fascinante. A mecânica quântica e a filosofia precisam uma da outra?

Rovelli - Creio que sim. No passado, a física fundamental também avançou graças à inspiração da filosofia.

Todos os grandes cientistas do passado eram leitores ávidos de filosofia. Não há razão para que as coisas sejam diferentes hoje.

Na minha opinião, o inverso também é verdadeiro: os filósofos que ignoram o que aprendemos sobre o mundo com a ciência acabam sendo superficiais.

BBC Mundo - Para o senhor, o livro "A Ordem do Tempo" é muito especial porque "finge ser sobre física, mas secretamente é o meu livro sobre o significado e a finitude da vida". Qual é o sentido da vida para Carlo Rovelli?

Rovelli - O sentido da vida para Carlo Rovelli é o que penso ser o sentido da vida para todos nós: a rica combinação de necessidades, desejos, aspirações, ambições, ideais, paixões, amor e entusiasmo, que surgem em várias medidas e em diferentes versões naturalmente de dentro de nós. A vida é uma explosão de significado.

Alguns projetaram o significado da vida fora de si mesmos, enquanto alguns ficaram desapontados ao perceber que havia algo ilusório em esperar que o significado viesse de fora.

Uma das minhas respostas favoritas a essa pergunta foi atribuída a um antigo sioux [etnia indígena norte-americana]: o propósito da vida é abordar com uma canção qualquer coisa que encontrarmos pela frente.

BBC Mundo - O senhor assinalou que na ciência muitos erros são cometidos quando fingimos estarmos certos, quando na verdade muitas vezes não temos essa certeza toda. O novo coronavírus trouxe muitas incertezas para nossas vidas. Como o senhor lidou com isso?

Rovelli - Eu tenho me esforçado não apenas para minimizar o risco para mim e para as pessoas que amo, mas também para minimizar meu próprio papel na disseminação da infecção.

Mas sabendo bem que o risco foi e continua a ser real e que milhões de pessoas morreram e ainda estão morrendo, tenho em mente que isso ainda pode acontecer comigo e meus entes queridos.

Essa constatação não deve ser motivo para pânico, mas também não gosto de esconder a cabeça na areia.

BBC Mundo - Que reflexões o senhor fez nestes tempos desafiadores para milhões de pessoas ao redor do mundo?

Rovelli - O que fico pensando é simples: não seria o momento de a humanidade trabalhar em conjunto, em vez de continuarmos a ficar uns contra os outros? O Ocidente está construindo novos inimigos: China, Irã, Rússia...

Não podemos viver de forma respeitosa e colaborativa, sem a necessidade de subjugar uns aos outros, de prevalecer sobre os outros, de vencer, em vez de cooperar para o bem comum?

A humanidade está enfrentando uma pandemia, milhões de mortes, desastres ambientais e ainda não conseguimos aprender a nos vermos como membros de uma única família, que é o que realmente somos.

A mecânica quântica é a descoberta de que a realidade é tecida por relacionamentos, mas permanecemos cegos para o fato de que prosperamos em relação aos outros, não uns contra os outros. Posso ser ingênuo, mas é isso o que penso todos os dias quando vejo o noticiário.

BBC Mundo - O senhor disse que gostou de ler "O Amor em Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez, porque "nestes tempos sombrios, é bom ler sobre o amor verdadeiro". Você pode nos contar mais sobre o que gostou no livro?

Rovelli - É um livro cheio de graça e luz. Retrata as muitas formas de amar e partilhar, com um olhar que sorri diante de toda essa complexidade.

Uma forma de amor é a lealdade da personagem Fermina Daza ao marido. Outra é a intimidade e a amizade de Florentino Ariza com dezenas e dezenas de mulheres. Mas esse amor absoluto entre ele [Ariza] e ela [Daza] é uma bela forma de amor, que foi venerado e valorizado por décadas, até que conseguiu florescer de forma maravilhosa quando os dois já estavam mais velhos.

Fonte: Por Margarita Rodríguez, BBC/ Portal G1.globo.com.