De acordo com muitos grandes pensadores da Antiguidade, que eram em sua maioria filósofos e matemáticos, não havia dúvida que a própria ideia de Cosmos existisse concretamente no Hyperurânio, de modo que Pitágoras e Platão chegaram à conclusão de que a matéria física tinha, em última instância, natureza geométrica, e que em todas as coisas “Deus geometriza“.
Platão descreve, no Timeu,
o trabalho que plasma um cosmo composto por quatro elementos simbolizados por
quatro poliedros, respectivamente: tetraedro (fogo), octaedro (ar), cubo
(terra) e icosaedro (água). Mas “ainda faltava uma construção, a quinta, e o
deus usou-a para o Tudo“. Trata-se do dodecaedro e Plutarco nos ajuda a
entender por qual motivo o símbolo do universo deve ser esse e não uma esfera.
O motivo principal, embora
não o único, é que este sólido consiste em doze faces (pentágonos regulares)
correspondentes aos 12 meses do ano. Doze é também o perímetro do triângulo
egípcio, com catetos 3 e 4, e hipotenusa 5. A importância simbólica deste
triângulo retângulo encontra-se no fato que, enquanto para os números lineares a
soma de 1+2=3 expressa a manifestação (epifania) da Divindade em campo
unidimensional, no caso do triângulo egípcio permite que ela se manifeste em
duas dimensões. De fato: 32+42=52. Note-se que, em ambos os casos, os três
números são consecutivos. Não menos importante é o fato que a superfície do
dodecaedro é dividida em 360 triângulos escalenos e, consequentemente, o sólido
pode ser decomposto em 360 tetraedros onde 360 é o número de dias do ano
egípcio e caldeu. Entre outras coisas, o dodecaedro pode ser considerado
formado por 12 pirâmides com base pentagonal -correspondentes às suas 12 faces-
e, portanto, posto em estreita relação com os números sólidos piramidais.
Sendo que cada uma das
faces contém um pentagrama inscrito, como escreveu Arturo Reghini: “pode-se
dizer que tanto o dodecaedro como cada uma de suas faces estão marcados com a
mesma harmonia; a harmonia do pentagrama coincide com a harmonia do
dodecaedro”. De acordo com o ilustre esoterista italiano, “Assim como o pentagrama,
que contém infinitos pentagramas, o dodecaedro contém um número infinito de
dodecaedros”.
Efetivamente, este
poliedro notável é inscrito numa esfera e, em seu interior, há uma segunda
esfera tangente às faces do dodecaedro; uma terceira esfera, intermédia entre
as duas anteriores, vê as arestas do sólido tangentes à sua superfície.
Segue-se que, uma vez que todos os sólidos Platônicos são inscrito numa esfera,
eles são praticamente contidos no interior do dodecaedro um número infinito de
vezes; portanto, os padrões repetitivos dos sólidos Platônicos que se encaixam
uns nos outros são objectivamente fractais.
Euclides, em seu livro
XIII dos Elementos, explica como construir um dodecaedro a partir de um cubo. É
obtido um polítopo com 12 faces, 30 arestas e 20 vértices; lembramos que o
número de faces do dodecaedro é o mesmo que o número das arestas do hexaedro
(cubo) e do octaedro.
Outra propriedade notável do
dodecaedro aparece quando são traçados quatro planos paralelos (x, y, z e t)
dois dos quais coincidentes com os pentágonos das bases (x e t) e os outros
dois (y e z) que passam através dos outros dois pentágonos identificados pelos
cinco vértices vizinhos às bases. Desta forma obtemos quatro segmentos a, b, c,
d, cada um dos quais é razão áurea do anterior.
Reghini mostra como a
secção de ouro da altura h do dodecaedro é igual ao lado da estrela decagonal s
inscrita na face pentagonal do dodecaedro e que o raio r da circunferência circunscrita
a esta face é a parte de ouro do lado s da estrela decagonal inscrita; enfim, o
lado da decágono inscrito é razão áurea do raio r. Destarte, para uma
propriedade das proporções, já conhecida na Antiguidade, esses elementos formam
a famosa Proporção da Babilônia:
h : s = r : l
ou seja, o segundo termo s
é a média aritmética dos valores extremos, enquanto que o terceiro termo r
representa a sua média harmônica.
Os centros das faces do
dodecaedro são, por sua vez, os vértices de um icosaedro inscrito e, por
conseguinte, os vértices de três retângulos douradas que se cruzam em planos
perpendiculares entre eles. O hexaedro inscrito no dodecaedro tem como aresta a
diagonal da face pentagonal e, portanto, a aresta do dodecaedro é a secção de
ouro da aresta do cubo.
Em tudo, no dodecaedro, a
seção áurea ocorre 120 vezes e o próprio Platão escreve no Fédon: “O dodecaedro
é o poliedro que mais se aproxima à perfeição da superfície esférica e, além
disso, contém a verdade mística da seção áurea que expressa, em termos
matemáticos, a divindade de forma esférica“.
As razões pelas quais
Platão apontava o dodecaedro como sendo o símbolo do universo, muito válidas no
seu tempo, já não seriam mais tão significativas à luz do conhecimento moderno
sobre a estrutura da matéria, se não fosse para a conjectura de um grupo de
astrofísicos franceses e norte-americanos que, analisando dados recentes da
radiação cósmica de fundo, chegaram à conclusão que a forma do Cosmo poderia
ser a dum dodecaedro, embora no contexto de uma geometria esférica.
Esta informação valiosa,
que liga o dodecaedro ao Universo, é um estímulo poderoso para desenvolver a
análise das principais constantes adimensionais usando, como instrumento de
investigação, os valores de geometria do dodecaedro.
(...) Em conclusão, embora
não tenha sido possível, pelo menos por enquanto, encontrar um algoritmo capaz
de gerar relações entre diferentes grandezas físicas, unificando destarte as
quatro forças da natureza, foi demonstrado que o dodecaedro contém as constantes
adimensionais mais importantes da Física. Nada nos impede de pensar que o
Demiurgo as tenha escondido neste poliedro para nos sugerir que o Cosmos não é
fruto do acaso, mas de um projeto inteligente, onde o dodecaedro, com sua
perfeição geométrica, é a prova tangível desse projeto.
Texto: https://principedaliberdade.wordpress.com/
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