Há várias versões para a origem das 78 cartas que compõem o Tarô -
hoje conhecido como um dos mais populares oráculos. A Planeta na Web
apresenta aqui um apanhado destas versões, com o objetivo de iluminar um
pouco mais esse baralho repleto de simbolismo, que vem intrigando e
ajudando tantas pessoas em sua busca pelo auto-conhecimento.
Em geral, para quem é
chamado a se embrenhar pelo fascinante simbolismo do Tarô, pouco importa
sua origem. Mas não deixa de ser curioso compreender que a profusão de
baralhos hoje disponível em qualquer livraria pode, na realidade, ser
fruto de um baralho criado no início do século XV, no norte da Itália,
usado unicamente para um jogo semelhante ao Bridge, conhecido como Jogo
de Triunfos. De acordo com Ana Correa, também há registros que as cartas
eram usadas para o ensino de virtudes para as crianças. .
Nessa
época, os baralhos de cartas de jogar já eram comuns na Europa. Há
documentos que atestam a existência, por volta de 1440, de um baralho de
cartas de triunfos , com pinturas alegóricas de animais. Em 1450, o
recém-instalado duque de Milão, Francesco Sforza, escreveu uma carta a
um de seus subalternos requerendo que ele comprasse vários pacotes de
cartas de triunfos para serem usadas na corte. Esta mensagem é
interessante porque o duque menciona as cartas de triunfo e as cartas de
jogar, distinguindo-as claramente, pois este último baralho seria sua
segunda opção de compra. De acordo com registros históricos, as
primeiras cartas datariam do reinado de Filippo Maria Visconti, duque de
Milão, no período de 1416 a 1447.
Naquela época a
Itália era uma colcha de retalhos de cidades-estado. O Vaticano
controlava a maior parte do centro do país, e o reino da França fazia
fronteira com o reino de Savoya. Rapidamente, as cartas de triunfo se
espalharam pela França. Foi por volta de 1530 que a palavra tarochi
(ancestral da francesa tarô) apareceu pela primeira vez. Aparentemente, a
razão para a mudança de nome foi uma inovação feita pelos jogadores,
que descobriram que o jogo de triunfos poderia ser jogado com um baralho
de cartas comum, se eles simplesmente declarassem que um determinado
naipe servia como triunfos , no início do jogo. Logo, triunfo se
tornou um termo ambíguo e uma nova palavra era necessária para se
referir ao tradicional jogo que usava as cartas com figuras como trunfos
permanentes e que havia se tornado tremendamente popular,
particularmente entre a nobreza italiana e francesa da época. Foi assim
que a palavra tarochi começou a ser usada, embora sua etimologia
permaneça sujeita a conjecturas.
Embora
evidências históricas documentem que as cartas de triunfos nasceram
como cartas de jogo, existe a possibilidade de que as 22 cartas que
formam os arcanos maiores do Tarô tenham sido criadas com outros
propósitos. Embora nenhum documento tenha sobrevivido para corroborar
esta hipótese, o fato é que os símbolos e imagens deste baralho não
parecem ter sido selecionados arbitrariamente.
Um dos possíveis
criadores desse inventivo jogo de cartas pode ter sido o sábio Marziano
de Tortona, que foi tutor do duque Filippo Maria Visconte. Ele era
especialista em astrologia (ou astronomia, pois nessa época essas duas
disciplinas ainda caminhavam juntas) e lhe servia como secretário.
Sabe-se
com certeza que em algum momento em torno de 1515, o duque ordenou que
Marziano inventasse um jogo de cartas de acordo com suas instruções. Ao
invés dos naipes comuns, o novo baralho representava virtude, riqueza,
pureza e prazer, simbolizados por figuras de pássaros: águias, fênix,
rolas e pombas. A cada naipe também havia quatro cartas maiores
retratando divindades clássicas. Essa concepção de baralho é um
antecedente da idéia de triunfos , mas embora essas não sejam as cartas
que hoje conhecemos como Tarô, Marziano chegou a escrever um livro para
acompanhar esse baralho de cartas. Seu livro não fornecia significados
divinatório nem regras para um jogo de cartas, seu foco era o
significado alegórico das figuras e sua hierarquia. Talvez não seja
exagerado supor que algum tempo mais tarde, o duque Filippo tenha
instruído seu secretário a conceber outro baralho com cartas alegóricas
que, desta vez, significavam as forças que controlam o destino humano.
Outras
versões atestam que os Tarocchi de Veneza teriam sido os primeiros a
conter a fórmula dos baralhos de tarô conhecidos hoje: 78 lâminas,
subdivididas em 22 arcanos maiores e 56 menores. Estes últimos tinham
quatro naipes Denari (dinheiros), Coppe (cálices ou copas), Spade
(espadas) e Bastoni (bastos ou bastões) -, cada um deles integrado por
um rei, uma rainha, um cavalheiro e dez cartas numeradas. Tarô e o
ocultismo
O
interesse moderno do Tarô como um instrumento divinatório teria se
originado no séc. XVIII, a partir do movimento ocultista francês e, mais
tarde, inglês.
Formado em teologia e pastor da Igreja Reformada,
Antoine Court Gebelin (1725-1784) devotou 20 anos à pesquisa que
resultou em nove volumes publicados sob o nome de Le Monde Primitif,
analysé et compare avec leê monde moderne. No primeiro volume de sua
obra, Gebelin apresenta a teoria de que as cartas de Tarô nasceram das
páginas do Livro de Thot salvo das ruínas dos templos egípcios. Conta-se
que tal livro possuiria as respostas para todos os problemas da
humanidade e foi concebido por sacerdotes após consultas com o deus da
magia, Thot, que também seria o Mercúrio egípcio. Esses sacerdotes
teriam ocultado esse conhecimento secreto no baralho de tarô.
Gebelin
também acreditava que os ciganos eram na verdade egípcios que se
dispersaram pela Europa, e teria sido deles que se originou o costume de
ler a sorte nas cartas. Entretanto há inúmeras evidências que
demonstram que os ciganos, forçados a sair da Índia no começo do século
XV, só estenderam suas peregrinações pela Europa quando as cartas - que
devem ter sido introduzidas na continente pelos árabes - já eram
conhecidas há algum tempo.
Um de
seus maiores seguidores, o peruqueiro Alliete, inverteu a ordem de seu
nome, e como Etteilla publicou muitos livros, entre eles, seu famoso
trabalho Manière de se récréer avec lê Jeu de Cartes nommés Tarot.
Etteile
sabia como arrebatar a imaginação e a mente do povo da sua época.
Adaptou o baralho do tarô ao seu próprio sistema e promoveu ao máximo a
cartomancia. Desse modo, Alliette transformou-se no grande adivinho
Etteilla e, instalado no Hotel De Crillon, em Paris, pressagiou o
destino de muitos franceses que seriam vitimados pelos acontecimentos de
1789.
Enquanto Gebelin e Etteilla procuraram,
zelosamente, provar a origem egípcia das cartas do tarô, Eliphas Levi
acreditou que elas fossem um alfabeto sagrado e oculto, atribuído, pelos
hebreus, a Enoch, filho mais velho de Caim; pelos egípcios, a Hermes
Trimegistus, ao deus egípcio Thoth; e, pelos gregos, a Cadmus, que
fundou a cidade de Tebas.
Eliphas Levi foi um filósofo e um
simbolista profundo. Padre da Igreja Romana, seu verdadeiro nome era
Alphonse Louis Constant. Mas por causa de suas obras filosóficas e
ocultistas, traduziu seu nome para o hebreu Eliphas Levi Zahed.
Levi
encontrou no tarô uma síntese da ciência e a chave universal da Cabala,
pois as dez esferas ou emanações que formam o diagrama cabalístico
conhecido como Sephiroth, ou Árvore da Vida, são interligadas por 22
caminhos, cada qual representado por uma das 22 letras do alfabeto
hebraico.
Levi, portanto, proclamou que as 22 cartas dos Arcanos
Maiores poderiam ser corretamente atribuídas a cada uma das letras do
alfabeto hebraico, constituindo, assim, uma unidade completa de letras,
cartas e caminhos.
Outro autor que contribuiu significativamente
para o ocultismo do Tarô e para a adaptação das 22 cartas-trunfo do
baralho às 22 letras do alfabeto hebraico foi Gerard Encausse
(1865-1917), médico francês que escreveu sob o nome de Papus. Fundador e
líder da Ordem espiritual e maçônica dos Martinistas e membro da Ordem
Cabalística da Rosa Cruz, Papus baseou a sua filosofia ocultista na
doutrina teosófica concernente ao nome divino YHVH. Os conceitos e
aplicações dos códigos e dos diagramas de Papus são apresentados no seu
famoso trabalho The Tarot of the Bohemians - Absolute Key to Occult
Science.
Autor de um dos mais famosos baralhos de Tarô, Dr.
Arthur Edward Waite (1857-1942) foi membro da Ordem do Golden Dawn e um
genuíno estudioso e pesquisador do ocultismo. Entre seus livros está The
Key to the Tarot e The Holy Kabbalah. Para ele, a chave do Tarô reside
única e exclusivamente no simbolismo das cartas, que formam uma espécie
de alfabeto capaz de infinitas combinações que sempre fazem sentido. O
Tarô incorpora as representações simbólicas das idéias universais, por
trás das quais estão todos os subentendidos da mente humana , disse
Waite. É nesse sentido que ele contém a doutrina secreta, que é a
percepção, por uns poucos, de verdades encerradas na consciência de
todos, muito embora elas não tenham sido claramente reconhecidas pelas
pessoas comuns .
Tarô de Marselha
Um
dos mais velhos desenhos que hoje se encontram a nossa disposição, o
Tarô de Marselha surgiu no final do século XV, na França, e tornou-se
popular em toda a Europa. Para Ana Correa, é o baralho que tem a
simbologia mais próxima da cultura ocidental, e é o que ela costuma
introduzir a seus alunos. Embora alguns de seus exemplares sejam
vendidos acompanhados de um texto explicativo, originalmente o Tarô de
Marselha é vendido só como baralho e seus símbolos e figuras servem de
ponte para que a intuição do leitor alce vôo e interprete sua linguagem.
Tarô de Etteilla
As cartas do tarô de Etteilla,
conhecidas como as cartas do Grande Etteilla, são um conjunto de cartas
emblemáticas baseadas nos desenhos dos tarôs típicos e acompanhadas por
uma série numeral, começando com o número 1, Ettelila questionnant
(Etteila consultando) e indo até o número 78, Folie (A Loucura). Os
desenhos de Etteilla representam um afastamento em relação às figuras
simbólicas padrão, encontradas na maioria dos outros baralhos de Tarô.
Os desenhos das cartas são quase todos de figuras de corpo inteiro. Os
títulos estão em ambas extremidades das cartas e variam levando em
consideração os significados invertidos.
Esse conjunto de cartas,
desenhado e preparado para fins divinatórios por Etteilla, vinha
acompanhado de um livro de explicações e orientações, intitulado Maniére
de tirer - Lê Grand Etteilla où tarots Egyptiens.
Tarô Rider-Waite
Famoso
baralho criado por Arthur Edward Waite e desenhado, sob a sua
supervisão, por Miss Pámela ColmanSmith. O baralho foi editado
primeiramente pela Rider&Co.;, em 1910, e por isso ficou conhecido
como baralho Rider. Tornou-se o mais popular em países de língua
inglesa. Neste Tarô, Waite presumiu, corretamente, que O Bobo, sendo uma
carta sem número e representado por O, não devia ser colocado entre as
cartas número 20 e 21, conforme fora sugerido por Levi e por Papus, mas
que a suas seqüência natural seria antes do Mago, como um atributo da
primeira letra do alfabeto hebraico, o Aleph. Ele também mudou de lugar
as cartas da Força e da Justiça. Geralmente mostrada com o número XI, a
Força é indicada por Waite com o número VIII, trocando de lugar com a
Justiça. Outra inovação de Waite foi trazer figuras simbólicas nas
cartas numeradas, ao invés de apenas o símbolo do naipe. Com esta
mudança, cada carta do baralho faz uma sugestão psicológica imediata na
mente do leitor.
Tarô de Thoth
Outro
membro famoso da Ordem do Golden Dawn, o famoso ocultista Aleister
Crowley criou o Tarô de Thoth (deus egípcio da magia), pintado por Lady
Frieda Harris, em 1940, mas publicado somente em 1966. Esse baralho tem
figuras psicologicamente intensas (beirando o psicodelismo) e um desenho
bastante abstrato e visceral. Embora as interpretações de Crowley
tenham conexões com as de Waite, essa cartas afastam-se completamente
dos desenhos usuais de tarô.
Tarô de
Wirth
As 22 cartas dos Arcanos maiores que acompanham o livro de Oswald
Wirth, Le Taro dês Imagiers du Moyen Age, contêm letras hebraicas
desenhadas no canto inferior direito de cada carta. Por exemplo, o Aleph
é atribuído à carta número I, Lê Bateleur (O Mago). As cartas de Wirth
são impressas em admiráveis cores metálicas e ostentam algarismos
romanos na parte de cima. O baralho de Case Paul Foster Case, em seu
livro The Taro, A Key to the Wisdom of the Ages, usa, para as 22 cartas
dos Arcanos Maiores, desenhos que em alguns casos são similares aos
desenhos de Waite. As cartas de Case trazem um número arábico no canto
inferior esquerdo e uma letra hebraica no canto inferior direito. O
Aleph, por exemplo, é atribuído ao Bobo, enquanto que Beth é atribuído
ao Mago. Os desenhos em branco e preto do baralho Case permite que a
pessoa lhes dê o colorido que preferir. Tarô de C.C. Zain O baralho do
tarô usado por C.C. Zain em seu livro The Sacred Tarot, publicado pela
Igreja da Luz, também é em branco e preto e se presta para colorir.
Embora as cartas sejam ricas em matéria de simbolismo egípcio, elas se
afastam completamente dos símbolos usuais de Tarô. The Motherpeace
Tarot Este é o primeiro baralho de cartas circulares. Ele promove uma
espiritualidade feminista, dentro de um contexto shamanico e decultura
tribal. Osho Zen Tarot Embora contenha 78 cartas que podem ser postas
em correspondência com as dos baralhos de tarô tradicionais, esse tarô
suprimiu totalmente a distinção entre arcanos maiores e menores. Cada
carta é uma bela e psicológica imagem em si, pretendendo ser
profundamente transformadora. Tarô Mitológico Criados por Juliete
Charman-Bourke e Liz Greene, todos os arcanos deste tarô são
representados por entidades e histórias da mitologia grega. O conjunto
de cartas que forma cada naipe dos arcanos menores retrata um mito ou
tragédia grega: o de Copas a lenda de Eros e Psiqué; o de Paus, ao mito
de Jasão e Os Argonautas em busca do Velocino de Ouro; o de Espadas, a
tragédia de Orestes e a maldição da Casa de Atreu, o de Ouros, a
história Dédalus, arquieto, escultor e artesão ateniense que construiu o
labirinto para o rei Minos de Creta.
Um texto de Débora Lerrer
Fontes: Tarô Clássico, de Stuart Kaplan, Editora Pensamento Jung e o Tarô, de Sallie Nichols, Editora Cultrix
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