Budismo é uma família de crenças e práticas considerada por muitos uma religião, baseada nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, comumente conhecido como "O Buda" (o Iluminado), que nasceu onde hoje é o Nepal. Ele viveu e ensinou na região nordeste do subcontinente Indiano e provavelmente veio a falecer cerca de 400 a.C.
Ensinamentos e doutrina
Ao contrário do pensamento comum, o budismo não é uma religião, pois não existe um deus criador, não existem dogmas e nem proselitismo, porém também não seria correto denominá-la apenas como uma filosofia, pois aborda muito mais do que uma mera absorção intelectual. O Budismo não tem uma definição, tendo aquela que qualquer praticante lhe queira atribuir, contudo poderemos denominá-la de caminho de crescimento espiritual, através dos ensinamentos dos Buddhas.Os ensinamentos básicos do budismo são: evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente. O objetivo é o fim do ciclo de sofrimento, samsara, despertando no praticante o entendimento da realidade última - o Nirvana.O ponto de partida do budismo é a percepção de que o desejo causa inevitavelmente a dor. Deve-se portanto eliminar o desejo para se eliminar a dor. Com a eliminação da dor, se atinge a paz interior, que é sinônimo de felicidade.
A moral budista é baseada nos princípios de preservação da vida e moderação. O treinamento mental foca na disciplina moral (sila), concentração meditativa (samadhi), e sabedoria (prajña).Apesar do budismo não negar a existência de seres sobrenaturais (de fato, há muitas referências nas escrituras Budistas), ele não confere nenhum poder especial de criação, salvação ou julgamento a esses seres, não compartilhando da noção de Deus comum às religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamísmo).A base do budismo é a compreensão das Quatro Nobres Verdades, ligadas à constatação da existência de um sentimento de insatisfação (Dukkha) inerente à própria existência, que pode no entanto ser transcendido através da prática do Nobre Caminho Óctuplo.Outro conceito importante, que de certa forma sintetiza a cosmovisão budista, é o das três marcas da existência: a insatisfação (Dukkha), a impermanência (Anicca) e a ausência de um "eu" independente (Anatta). A flor de lótus e a cruz suástica são símbolos do Budismo .
Origens
Buda na ilha de Lantau, em Hong KongO budismo formou-se no nordeste da Índia, entre o século VI a.C. e o século IV a.C. Este período corresponde a uma fase de alterações sociais, políticas e econômicas nesta região do mundo. A antiga religiosidade bramânica, centrada no sacríficio de animais, era questionada por vários grupos religiosos, que geralmente orbitavam em torno de um mestre.Um destes mestres religiosos foi Siddhartha Gautama, o Buda, cuja vida a maioria dos académicos ocidentais e indianos situa entre 563 a.C. e 483 a.C., embora os académicos japoneses consideram mais provável a data 448 a.C. 368 a.C.. Siddhartha nasceu na povoação de Kapilavastu, que se julga ser a aldeia indiana de Piprahwa, situada perto da fronteira indo-nepalesa. Pertencia à casta guerreira (ksatriya).Várias lendas posteriores afirmam que Siddhartha viveu no luxo, tendo o seu pai se esforçado por evitar que o seu filho entrasse em contacto com os aspectos desagradáveis da vida. Por volta dos 29 anos, o jovem Siddhartha decidiu abandonar a sua vida, renunciando a todos os bens materiais, e adaptando a vida de um renunciante. Praticou o ioga (numa forma que não é a mesma que é hoje seguida nos países ocidentais), e seguiu práticas ascéticas extremas, mas acabou por abandoná-las, vendo que não conseguia obter nada delas. Segundo a tradição, ao fim de uma meditação sentado debaixo de uma figueira, descobriu a solução para a libertação do ciclo das existências e das mortes que o atormentava.Pouco depois decidiu retomar a sua vida errante, tendo chegado a um bosque perto de Benares, onde pronunciou um discurso religioso diante de cinco jovens, que convencidos pelos seus ensinamentos, se tornaram os seus primeiros discípulos e com que que formou a primeira comunidade monástica (sangha). O Buda dedicou então o resto da sua vida (talvez trinta ou cinquenta anos) a pregar a sua doutrina através de um método oral, não tendo deixado quaisquer escritos.
Principais doutrinas
As Quatro Nobres Verdades
Um dos principais ensinamentos do Buda é aquele que é o conhecido como as Quatro Nobres Verdades. Ele constitui a base de todas as escolas budistas.
Buda expôs as Quatro Nobres Verdades no Dhammacakkapavattana Sutta [6] (Samyutta Nikaya LVI.11) da seguinte forma:
A primeira nobre verdade: "(...) esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.(...)"
A segunda nobre verdade: "(...) esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir.(...)"
A terceira nobre verdade: "(...) esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele.(...)"
A quarta nobre verdade: "(...) esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta.(...)"
O Nobre Caminho Óctuplo
Tem sido sugerido que a forma de exposição da doutrina das "Quatro Nobres Verdades" segue um padrão que se assemelha ao do diagnóstico de uma doença: depois de ter apontado as origens do mal, o Buda mostrou um remédio que leva à cessação desse mal. Esse "remédio" é conhecido como o "Nobre Caminho Óctuplo" (em sânscrito: Astingika-Marga), e deve ser adoptado pelos budistas. Consiste, de acordo com o Magga-vibhanga Sutta (Samyutta Nikaya XLV.8), em:
Visão ou Entendimento correcto: "(...)E o que é o entendimento correto? Compreensão do sofrimento, compreensão da origem do sofrimento, compreensão da cessação do sofrimento, compreensão do caminho da prática que conduz à cessação do sofrimento. A isto se chama entendimento correto.(...)"
Intenção ou Pensamento correcto: "(...)E o que é pensamento correto? O pensamento de renúncia, o pensamento de não má vontade, o pensamento de não crueldade. A isto se chama pensamento correto.(...)"
Palavra ou Linguagem correcta: "(...)E o que é a linguagem correta? Abster-se da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira e da linguagem frívola. A isto se chama linguagem correta.(...)"
Actividade ou Acção correcta: "(...)E o que é ação correta? Abster-se de destruir a vida, abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta sexual imprópria. A isto se chama de ação correta.(...)"
Modo de vida correcto: "(..)E o que é modo de vida correto? Aqui um nobre discípulo, tendo abandonado o modo de vida incorreto, obtém o seu sustento através do modo de vida correto. A isto se chama modo de vida correto.(...)"
Esforço correcto: "(...)E o que é esforço correto? ) Aqui, bhikkhus, um bhikkhu gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. Ele gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (iii) Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (iv) Ele gera desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. A isto se denomina esforço correto.(...)"
Atenção correcta: "(...)E o que é atenção plena correta? Aqui, bhikkhus, um bhikkhu permanece focado no corpo como um corpo - ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece focado nas sensações como sensações – ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece focado na mente como mente - ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece focado nos objetos mentais como objetos mentais - ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. A isto se denomina atenção plena correta.(...)"
Concentração correcta: "(...)E o que é concentração correta? Aqui, bhikkhus, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entra e permanece no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração. Abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada pela atenção plena, plena consciência e equanimidade, acerca do qual os nobres declaram: 'Ele permanece numa estada feliz, equânime e plenamente atento.' Com o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas. A isto se denomina concentração correta.."
Escolas
O budismo dividiu-se em várias escolas, das quais algumas vieram a se extinguir. A principal divisão atualmente existente é entre a escola Theravada e as linhagens Mahayana e Vajrayana.
As escolas numericamente mais expressivas na atualidade são:
Theravada, estabelecida no sudeste asiático;
Zen japonês e Chan chinês, escolas com ênfase na meditação . Alguns estudiosos consideram estas escolas como uma linhagem Mahayana. Outros, no entando, dizem que, pela ênfase ser diferente, e pelo Zen/Chan ser "descendentes" também do Taoísmo, devem ser considerados uma escola à parte;
As escolas japonesas devocionais da Terra Pura (Jodo Shu) e Verdadeira Terra Pura (Jodo Shinshu), todas Mahayana;
escolas ligadas ao Grande Mestre Nitiren, como o Budismo Primordial HBS (Honmon Butsuryu-Shu), Soka Gakkai, Nitiren Shu, seguem todas a linhagem Mahayana;
as escolas tântricas do Budismo tibetano (Nyingma, Kagyu, Gelug, Sakya) que fazem parte da linhagem Vajrayana.
Há muita polêmica e confusão no ocidente em torno do budismo, devido principalmente à falta de informação correta. Muitos movimentos esoteristas e sincréticos procuram se apresentar como "verdadeiros budismos", "adaptações para o Ocidente", etc. Freqüentemente questiona-se quanto ao budismo ser ou não uma religião (por não aceitar a existência de um deus criador do mundo).
Fonte: Wikipédia
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