Panacéia dos Amigos

quinta-feira

The Commitments

The Commitments, um filme genial dirigido por Alan Parker em 1991, que conta a história de um jovem que decide montar uma banda de Soul Music com músicos inexperientes em Dublin.

O jovem é Jimmy Rabbitte (Robert Arkins) que com 21 anos que quer tornar-se o empresário a levar a soul music para estourar na Irlanda. Após entrevistar dezenas de candidatos Jimmy seleciona as mais estranhas figuras e forma a banda "The Commitments", com músicos inexperientes e incertos de que realmente gostariam de fazer música.

Os primeiros ensaios são desastrosos, mas há um potencial e todos resolvem investir. Após muitas peripécias e sempre interpretando sucessos dos grandes astros da música, logo, começam a galgar os primeiros degraus do sucesso, no entanto, os desentendimentos não demoram a aparecer.

Os personagens são muito bem construídos em personalidades marcantes e contrastantes. Com o sucesso surgem conflitos de ego, inseguranças, desconfiança. A banda passa por seu teste e a sorte é lançada em um show que irá decidir o sucesso ou a dissolução.

Enfim, é um filme cativante com personagens carismáticos, bom roteiro e direção segura. Um grande destaque para a trilha sonora repleta de grandes canções!

Uma curiosidade é que Alan Parker, não utilizou atores no filme, e sim, entrevistou bandas em Dublin, para escolher quem iria constituir o elenco deste filme, atigindo uma maior naturalidade nas interpretações. E que figuras ele foi arrumar! Um filme muito divertido e bem-feito. Vale a pena conferir.

Trailer:http://www.youtube.com/watch?v=o_aO9pv0Y7I

Mustang Sally : http://www.youtube.com/watch?v=Sxc8Sm0nXpE&feature=related

Dark End of the Street: http://www.youtube.com/watch?v=65GfSt75MVc

Midnight Hour: http://www.youtube.com/watch?v=3Sdic9JQhMo&feature=related

terça-feira

THE BEATLES

Em outro post da Panacéia Essencial falamos sobre esta banda fundamental e atemporal, porém, é um texto que sempre me incomodou. A função dele era informar sobre os Beatles e o faz com eficiência, mas, sempre me deixou com a incômoda sensação de ser insuficiente. Afinal, é dos BEATLES que estamos falando! Assim, resolvi escrever este post para aprofundarmos mais sobre a importância dos fab four.

"E no ínicio não havia nada, então Deus criou os fab four e viu que era bom...".

Brincadeira à parte, uma vez li que a música pop/rock pode ser dividida em AB e DB, antes e depois dos Beatles e, realmente, os fatos concordam com esta afirmação. The Beatles influenciou musicalmente a tudo e a todos. De Frank Sinatra a Radiohead, de Tom Jobim a Skank.

Nada se equipara ao fenômeno Beatles na história da música. De "Please please me " até ''Abbey Road" a banda trilhou uma trajetória de brilhantismo e revolução musical até então nunca sonhados.

O ritmo vibrante, a ousadia de estilo com as letras diretas românticas e otimistas do ínicio de carreira que melhoravam a cada disco. De " Please please me" a "Help", as letras mais profundas e o uso da cítara indiana em "Rubber Soul", as inovações eletrônicas e utilização de intrumentos de música clássica a partir de "Revolver", a genialidade de "Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band" com diversas influências tais como Música clássica, psicodelismo, música indiana, e inovações eletrônicas inéditas com maior número de canais e efeitos, a capa referencial com inúmeras figuras importantes da cultura moderna, e o marco histórico deste disco de ser o primeiro da música a trazer as letras no encarte para que todos pudessem trilhar os caminhos psicodélicos das intrincadas composições. Muitos, como Phil Collins, concordam que Sgt. Foi o pontapé inicial do mais tarde chamado Rock progressivo.

Todos os avanços de Sgt. Aprofundam-se ainda mais em "Magical Mistery Tour" com canções fenomenais como "I am the Walrus " e "A Fool on the Hill". Chega a vez do "Álbum Branco", o disco duplo mais conhecido do mundo com suas mais de 30 canções que vão do rock básico ao psicodelismo, somente o Pink Floyd repetiria tal força com "Wall". Após o lançamento da trilha sonora de "Yellow Submarine", os Beatles retornam ao rock sem os efeitos do psicodelismo com "Let it Be", e então, com seu maior sucesso em que toda a sua trajetória parece ter sido resumida lançam o último disco intitulado "Abbey Road".

Além da música The Beatles foram referenciais sob vários aspectos. Foram os primeiros a ousar usar cabelos compridos, impulsionaram a calça jeans e foram os primeiros ídolos a venderem de tudo: camisetas, bonés, bonecos, perucas, bottoms, enfim inventaram o mercado pop que hoje existe.

Foram a primeira banda a se apresentar em grandes estádios, no que seriam copiados pelas bandas que viriam a seguir.

Foram os responsáveis pela criação dos primeiros videoclips a rodar pelo mundo, porque como não excursionariam mais a partir de 66 passaram a valorizar o uso da imagem.

Falando em imagem seus filmes são considerados cult, especialmente o primeiro A Hard Day´s Night e Yellow Submarine um desenho psicodélico que é um forte registro da época que o concebeu.

A primeira transmissão via satélite contou com os Beatles enviando para o mundo a mensagem pacifista de All You Need is Love.

The Beatles são uma influência e referência constante na música. Até mesmo dentro do heavy metal e hard rock, bandas como Black Sabbath, Judas Priest, Kiss e Queen não deixaram de proclamar sua admiração.

A banda foi a única a colocar 05 músicas simultaneamente no top 10 americano.

É a banda que mais vendeu discos em toda a história: 03 bilhões até aqui.

Definitivamente, The Beatles entrou para a história como uma banda que marcou profundamente a música e os costumes de uma época ou várias. Um fenômeno não repetido por nenhuma banda até hoje. Como disse Lennon uma vez todo o barco dos anos 60 estava indo na mesma direção, mas o Beatles ficavam no topo da vigia e eram os primeiros a gritar "Terra a vista"!

Enfim, meus caros, ao encerrar este texto, após todos estes fatos vamos repetir a matéria anterior, dizendo novamente: The Beatles é pura panaceia essencial!

segunda-feira

No Suprises - Radiohead

A heart that's full up like a landfill

Um coração que se encheu como um aterro

A job that slowly kills you

um trabalho que te mata lentamente,

Bruises that won't heal

feridas que não cicatrizam.

You look so tired and unhappy

Você aparenta estar tão cansado-infeliz,

Bring down the government

Derrube o governo,

They don't, they don't speak for us

eles não, eles não falam por nós.

I'll take a quiet life

Eu vou levar uma vida tranqüila,

A handshake of carbon monoxide

Um aperto de mão de monóxido de carbono,

No alarms and no surprises

Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,

No alarms and no surprises

sem sustos e sem surpresas,

No alarms and no surprises

sem sustos e sem surpresas.

Silent, silent

Silêncio, silêncio.

This is my final fit, my final bellyache with

Este é meu ajuste final, minha dor de barriga final.

No alarms and no surprises

Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,

No alarms and no surprises

sem sustos e sem surpresas,

No alarms and no surprises please

sem sustos e sem surpresas, por favor.

Such a pretty house, such a pretty garden

Uma casa tão bonita , e um jardim tão bonito.

No alarms and no surprises (let me out of here)

Sem nenhum susto e nenhuma surpresa (Tire-me daqui)

No alarms and no surprises (let me out of here)

Sem nenhum susto e nenhuma surpresa (Tire-me daqui)

No alarms and no surprises please (let me out of here)

sem sustos e sem surpresas, por favor. (Tire-me daqui)

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=qqsyXdj_p_I

High and Dry - Radiohead

High and Dry

Numa pior

Two jumps in a week, I bet you think that's pretty clever don't you boy? Dois saltos numa semana, eu aposto como acha que isso é engenhoso, não acha garoto?

Flying on your motorcycle, watching all the ground beneath you drop. Voando em sua moto , observando todo chão abaixo de você desabar

You'd kill yourself for recognition, kill yourself to never ever stop. Você se mataria por reconhecimento Se mataria para nunca, jamais parar

You broke another mirror, you're turning into something you are not. Você quebrou outro espelho. Você está se transformando em algo que não é

Don't leave me high, don't leave me dry Não me deixe mal. Não me deixe sozinho

Don't leave me high, don't leave me dry Não me deixe mal. Não me deixe sozinho

Drying up in conversation, you will be the one WHO cannot talk. Calando-se na conversa, você será o único que não pode falar

All your insides fall to pieces, you just sit there wishing you could still make love Todo seu interior cairá em pedaços, você apenas sentado aí desejando que ainda possa amar

They're the ones who'll hate you when you think you've got the world all sussed out Eles são os únicos que te odiariam, quando você achar que decifrou o mundo

They're the ones who'll spit at you. You will be the one screaming out.

Eles são os únicos que cuspirão em você, você será o único que estará gritando

It's the best thing that you've ever had, the best thing that you've ever, ever had.

Essa é a melhor coisa que você já teve. A melhor coisa que você sempre, sempre teve.

It's the best thing that you've ever had, the best thing you've had has gone away. Essa é a melhor coisa que você já teve. A melhor coisa que você já teve se foi.

Don't leave me high, don't leave me dry Não me deixe mal. Não me deixe sozinho

Don't leave me high, don't leave me dry Não me deixe mal. Não me deixe sozinho

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=NCPDiEz-GcE

sexta-feira

Síntese das Antíteses

"Só temos consciência do belo,

Quando conhecemos o feio.

Só temos consciência do bom,

Quando conhecemos o mau.

Porquanto, o Ser e o Existir,

Se engendram mutuamente. O fácil e o difícil se completam. O grande e o pequeno são complementares. O alto e o baixo formam um todo. O som e o silêncio formam a harmonia. O passado e o futuro geram o tempo. Eis porque sábio age Pelo não - agir. E ensina sem falar. Aceita tudo e não fica com nada. O sábio tudo realiza e nada considera seu. Tudo faz - e não se apega à sua obra. Não se prende aos frutos da sua atividade. Termina sua obra, E está sempre no princípio. E por isto a sua obra prospera." Lao – Tse

Belly

Belly é uma banda do ínicio dos anos 90, liderada pela cantora compositora e guitarrista Tanya Donnely, que marcou o cenário musical com seu pop lírico de melodias doces e assobiáveis.
A história do Belly se confunde com o The Breeders, que ficou conhecida por aqui com a música Cannonball. Quando deixou sua primeira banda, a Throwing Muses(após quase dez anos), Tanya Donelly formou o Breeders com sua amiga Kim Deal, que tinha se afastado dos Pixies. Mesmo ainda atuante no Breeders, Donelly resolveu formar o Belly.
Abandonando o antigo grupo lançou em 93 o primeiro álbum do Belly, "Star" que teve boa recepção da crítica. O disco trazia grandes canções como Someone to die for, Angel e seu maior sucesso Feed the tree (uma canção bem feminista). O nome Belly segundo sua líder seria na verdade "Both pretty and ugly".
Conheci o Belly na mesma época que o Cocteau Twins. Eram bandas que para mim se diferenciavam de tudo o que havia ouvido antes. Canções melodiosas, doces e agradáveis. Outras com pegada e energia. Todas bem compostas.Especialmente marcante na época (95?), foi a canção "Swett Ride" que se tornou um espécie de clássico entre os que conheciam a banda.
O trabalho seguinte "King" foi menosprezado pela crítica, o que não concordo. "King" possuía boas músicas mas, talvez, não fosse tão melodioso como seu antecessor, contrariando expectativas o que gerou descontentamento com o público.Seja como for, este trabalho marcou o fim de Belly. Sendo a compositora, cantora e guitarrista continou uma carreira solo que, a meu ver, não repetiu o brilho do tempo da banda.
Sweet Ride: http://www.youtube.com/watch?v=IuM6ByWEHkw&feature=PlayList&p=57C21F566D771728&playnext=1&playnext_from=PL&index=14
Gepetto:(Vejam na Panacéia dos Vídeos)

segunda-feira

Radiohead

Radiohead. A banda liderada por Thom Yorke é uma das principais bandas de rock do mundo. E, na minha opinião pessoal, a principal banda dos últimos tempos.
A razão para isto é que o Radiohead incorpora raros atributos ao seu trabalho. Qualidade musical, ousadia criativa, visão artística e critica do mundo e empatia. Seus discos são clássicos. Pablo Honey trazia a visceral "Creep", "Anyone can play guitar", "Pop is dead". Embora ainda cru, o som do Radiohead já apontava em 93 uma tendência que seria seguida anos mais tarde por bandas como Coldplay, Keane e influenciaria mesmo veteranos como o U2. Em 93, a música do Radiohead se elevava sobre o som simplório do grunge e se colocava à parte da ingenuidade do chamado "britpop" ainda por nascer. O ano de 95 trouxe "The Bends", a partir de então, para qualquer um mais atento, o Radiohead demonstrava um som muito mais elaborado do que seu próprio trabalho anterior e indo além da cena inglesa do momento (Oasis, Blur, Charlatans, Pulp e outros). Clássicos como "High and dry", "Just" e "Fake plastic trees" vieram a luz e acompanhados de videoclips muito bem elaborados e intrigantes (Uma marca registrada do Radiohead). Destaque para "Just" que conta uma história genial que nos prende em seu desenvolvimento tanto quanto a música. Os shows eram arrebatadores. O Radiohead não era apenas uma banda de estúdio, seus músicos eram excelentes e faziam um show do mesmo nível. O carisma, a voz e a empatia de Thom Yorke se mostravam, como é até hoje, formidáveis. O ano de 97 veio com a chegada de "OK, Computer!, considerado por muitos o mais importante disco de rock da década de 90. Elogiado pela crítica e público o disco trazia faixas como "Paranoid android", "No surprises" e "Karma Police". "OK, Computer" era um disco conceitual em que uma música se mesclava a outra criando uma atmosfera particular tão futurista quanto melancólica. Na época, apenas o "Spiritualized", se aproximava deste som, o que levou os apressados a criar um novo movimento o "Space Rock". Muitos caíram na tentação de compara-lo a outros discos históricos tais como "Ziggy Stardust and Diamond Dogs" e é claro "Sgt. Pepper and Lonely Hearts Club Band". Os membros da banda nunca esconderam que, entre outras diversas influências, o quarteto de Liverpool também foi referencial. Mas, eu particurlamente, não vejo tanto a influência musical e sim uma semelhança na atitude das duas bandas de jamais se entregar ao lugar comum e de buscar uma inovação real. Levando sua música a sério. Para os que gostam de coincidências uma interessante une os dois grupos. Os Beatles foram contratados pela Parlophone, uma subsidiária da EMI, ora , a mesma Parlophone contratou o Radiohead. Diante da veneração mundial, o Radiohead percebeu que o som que havia criado e marcado na história musical seria então, uma referência a ser copiada exaustivamente por várias outras bandas (o que de fato aconteceu), assim, a banda resolve mudar as regras do jogo. Chega então, o enigmático "Kid A". Foi um processo criativo tortuoso conduzido por Yorke que vivia um misto de inspiração e crise criativa num mesmo momento. Yorke batalhou para criar um novo caminho e isto o levou a diversos atritos com o restante da banda que não conseguia entender os rumos tomados por seu líder e isto quase resultou na dissolução do grupo. Mas, enfim, na montagem final, as coisas se tornaram mais claras e com a aprovação de todos o trabalho seguiu adiante. "Kid A" desconstrói o som do Radiohead, poucas guitarras, poucas palavras, influências de jazz e eletrônica. Basicamente, uma trilha sonora futurista, um som ambiente voltado à experimentação. A crítica e público se dividiram, mas, convergiram para a mesma opinião, o Radiohead não se renderia facilmente ao mesmismo do mainstream das grandes bandas. Sua ousadia criativa, quase uma rebeldia, continuaria. Na seqüência vieram "Ameniasic" e "Halt the thief". Neles a experimentação continua. Apesar disso a popularidade e as vendas do Radiohead sobem como nunca, apesar de seu som nem sempre ser bem compreendido. Enfim, seu mais recente lançamento foi "In Rainbows" que trouxe uma inovação em suas vendas. O CD foi disponibilizado na Internet faixa por faixa e cabe ao público pagar a banda o valor que quisesse. Um verdadeiro desafio a todo o sistema musical dominado pelas gravadoras e um ato de coragem e ousadia ao se expor ao julgamento público ou simplesmente de oferecer a todos sua música pelo preço que pudessem pagar. No trabalho do "In Rainbows", em si, o Radiohead concedeu um pequeno retorno às origens de seu som mais melodioso e menos experimental, mas se esta tendência irá continuar ou não somente a genial mente de Thom Yorke poderá responder.
E até lá, o pop e o rock aguardam os novos caminhos apontados por esta banda inventiva e sempre relevante.

Legião Urbana..

Muito bem. Como se descreve ou definem as impressões, histórias de toda uma fase da sua vida? Legião Urbana para muitos da minha geração fez parte da trilha sonora de muitos momentos, e na verdade, mais que isso, se tornaram leituras precisas e de uma identificação imediata da mensagem com nosso pensamento.Dentre as que foram importantes para mim na época (Porque, hoje, elas se perderam pelo caminho, sendo apenas lembranças da trajetória. O tempo, amigos é benéfico e eficaz para transformar montanhas em grãos de areia) destaco "Metal contra as nuvens" (Ah, esta letra medieval com bem boladas alusões aos sentimentos, e a ligação com os meus primeiros tempos como jogador de RPG –Role Playing Game – a torna muito especial), "Pais e Filhos" (Especialmente, com a versão em que se toca Stand by me, cantei muito isto em várias rodas de violão regadas a vinho. Desde os "vinhos-vinagre" aos melhores da casta!), "Teatro de Vampiros", "Quase sem querer", "Índios", "Há tempos" (O clipe da música, ainda que simples é muito interessante pelas referências que podemos tirar prestando atenção aos livros na estante atrás de Russo e a carta "justiça" do tarô colocada num momento chave da canção), "Monte Castelo" (adoro as referências literárias e bíblicas), "Perfeição (Detesto a melodia-quase-rap, mas, aprecio demais a letra e as referências as lendas gregas).

Metal contra as nuvens merece um aparte. Vejo muito pouco ser dito sobre ela. Não sei se a maioria dos fãs não a compreendeu ou ignorou simplesmente. Mas, tudo nela é genial a começar pela ousadia do texto medieval muito longe do "lugar-comum" da maioria dos jovens da época (Dos de hoje, então, nem pensar. A capacidade de referencial histórico está bem reduzida).Além do que, trata-se de uma canção longa, um verdadeiro épico, começo, meio e fim de uma história poética de temor e coragem, descrença e fé, desespero e esperança. (Sei que "Faroeste Caboclo" também se encaixa nisto, e gosto muito desta música, porém, "Metal" é mais sofisticada e rica, enquanto considero "Faroeste" mais crua e direta ao ponto, além de não dar a menor margem alguma esperança) Se puderem, ouçam com atenção "Metal contra as nuvens" e tentem decifrar as várias camadas de entendimento desta música.

É um texto de desencanto, um lamento de nobreza diante das sombras do mundo tais como a inveja e a traição. Na época, a música gerou entre nosso grupo de jogadores um debate de horas e horas sobre a identidade do narrador (embora, provavelmente, Renato não tenha nem sequer pensado em personagens da fantasia medieval, mas, como jogadores de RPG gostávamos de conjecturas) que poderia ser um paladino em desencanto ou talvez um bardo, provavelmente um elfo, com saudades de seu povo.Um texto sobre a coragem de não se render ante as piores adversidades: "Não me entrego sem lutar, tenho ainda coração. Não aprendi a me render, que caia o inimigo, então!".E sobre esperança: "Tudo passa, tudo passará... e nossa história não estará pelo avesso assim... sem final feliz. Teremos coisas bonitas para contar! E até lá, vamos viver temos muita ainda por fazer, não olhe para trás, apenas começamos! O mundo começa agora! Apenas começamos!".
Trechos sensacionais considerando que valiam tanto para fundo musical de nossos personagens, como valeram, em várias ocasiões, para nós mesmos.Afinal, pensando bem, o que pode o "Metal contra as nuvens?" Se percebemos bem se trata de outra imagem abstrata. O metal é forjado pelos homens, em geral, as forjas ficavam nos subterrâneos dos castelos e com ele busca-se a dominação dos outros pela guerra. Mas, as nuvens pertencem ao céu, estão num patamar distante da engenhosidade do homem, pertencem à criação de um ponto mais cósmico e divino. Metal contra as nuvens é um ato de agressão inútil porque o metal não pode ferir as nuvens que são e continuaram sendo. E no fim, todo o ato de agressão é, em si, inútil. Renato pensou nisso tudo? Não sei, talvez. Mas, o artista é uma antena de mensagens abstratas e pode não as traduzir, mas as transmite. E podemos cada um, nos entregar as leituras de acordo ao que compreendemos.
Vocês vêm como é. O que deveria ser um texto sobre a Legião, praticamente se tornou um "tratado" de "Metal contra as nuvens", mas, enfim, Legião é essencialmente isto. Uma série de canções, muitas vezes crônicas de nossa vida, mais cruas ou mais simbólicas, porém, sempre significativas.Alguma mais, outra menos dependendo de quem ouve. Mas, Legião tem o mérito de jamais ser irrelevante. Você pode questionar a capacidade musical dos integrantes (pois, afinal eram herdeiros do punk e não da música erudita), mas, não a relevância, pois ninguém é indiferente ao trabalho da Legião Urbana. Se deixar uma mensagem é o papel do artista, se não passar "em branco" pela sua geração é o que traz grandeza a sua trajetória. Então, a Legião cumpriu seu papel, com sinceridade e no fim, isto é tudo o que importa. Assim foi, assim é.

Há tempos:

http://www.youtube.com/watch?v=h3zzDSpYPR8&feature=PlayList&p=50E5E66D3D8F0A04&index=0&playnext=1

Metal contra as nuvens:

http://www.youtube.com/watch?v=nW6qKn6VSco

quinta-feira

Watson Portela

Tive o primeiro contato com o trabalho de Watson Portela (Recife, PE, 18 de outubro de 1950) através de algumas edições de "Paralelas", aonde este estranho universo era publicado. Foi surpreendente entrar em contato com aquelas histórias em que não havia barreiras de cenários ou temas.

De uma história para outra poderíamos estar numa sociedade futurista aonde era proibido pensar (ilustrada com balões vazios e balões repletos de informação), histórias de assombração e cangaceiros, tiras de humor e muitas outras.

Sempre me chamou a atenção o estilo particular de Watson Portela. Já vi seu traço em capas especiais para personagens americanos, histórias de humor para revistas dos trapalhões, tiras de humor e nas paralelas. Seu traço tem uma capacidade camaleônica de se adaptar talentosamente a cada linguagem.

Uma curiosidade interessante é que Watson chegou, em sua trajetória, a pintar capas de LPs. Nos anos 70 para o álbum Até a Amazônia? (1978) do grupo Quinteto Violado. Nestes tempos, Watson Portela trabalhava como um datilógrafo.

Em paralelas, Watson criava roteiros adultos, intensos e instigantes. Temas complexos se misturavam a toques entre o erotismo e o bizarro, humor negro e o simplesmente hilário. Por vezes, me parecia estar assistindo alguns capítulos de "Acredite se quiser" e "Além da imaginação".

Alguns dos conceitos das histórias ainda marcam minha memória. A sociedade do não-pensamento, a nova vinda de um messias, a alma penada do cangaceiro, os justiceiros futuristas, enfim diversos enredos surpreendentes.

Em uma dessas histórias, Portela tratou do preconceito de forma sensacional. Na trama, um garoto, afro, foi acusado injustamente de abusar e matar uma jovem no metrô, na verdade, a moça não estava morta e sim "travada" de tão bêbada e estava seminua porque estava vendendo o corpo por doses de bebida. Mas, sem se preocupar em saber a verdade uma multidão enlouquecida persegue o jovem para lincha-lo. A maneira como Watson encerra esta história é um tapa na cara na hipocrisia da sociedade que finge não ser racista ou não notar o racismo inerente em nossas menores atitudes subconscientes.

Aos que desconhecem o trabalho genial desse artista insano (no melhor sentido da palavra), não percam tempo e procurem por aí. Vale a pena!

Obras:

* Chet, inspirado em Tex (Chet era uma brincadeira com Tex ao contrário). Era escrita por seu irmão Wilde Portela.

* Paralelas

* Paralelas II

* Vôo Livre

* Spektro

* Pesadelo

* Também desenhou Velta

* Aventura & Ficção (Editora Abril)

* Jovem Radical (Editora Abril)/1988