Muito bem. Como se descreve ou definem as impressões, histórias de toda uma fase da sua vida? Legião Urbana para muitos da minha geração fez parte da trilha sonora de muitos momentos, e na verdade, mais que isso, se tornaram leituras precisas e de uma identificação imediata da mensagem com nosso pensamento.Dentre as que foram importantes para mim na época (Porque, hoje, elas se perderam pelo caminho, sendo apenas lembranças da trajetória. O tempo, amigos é benéfico e eficaz para transformar montanhas em grãos de areia) destaco "Metal contra as nuvens" (Ah, esta letra medieval com bem boladas alusões aos sentimentos, e a ligação com os meus primeiros tempos como jogador de RPG –Role Playing Game – a torna muito especial), "Pais e Filhos" (Especialmente, com a versão em que se toca Stand by me, cantei muito isto em várias rodas de violão regadas a vinho. Desde os "vinhos-vinagre" aos melhores da casta!), "Teatro de Vampiros", "Quase sem querer", "Índios", "Há tempos" (O clipe da música, ainda que simples é muito interessante pelas referências que podemos tirar prestando atenção aos livros na estante atrás de Russo e a carta "justiça" do tarô colocada num momento chave da canção), "Monte Castelo" (adoro as referências literárias e bíblicas), "Perfeição (Detesto a melodia-quase-rap, mas, aprecio demais a letra e as referências as lendas gregas).
Metal contra as nuvens merece um aparte. Vejo muito pouco ser dito sobre ela. Não sei se a maioria dos fãs não a compreendeu ou ignorou simplesmente. Mas, tudo nela é genial a começar pela ousadia do texto medieval muito longe do "lugar-comum" da maioria dos jovens da época (Dos de hoje, então, nem pensar. A capacidade de referencial histórico está bem reduzida).Além do que, trata-se de uma canção longa, um verdadeiro épico, começo, meio e fim de uma história poética de temor e coragem, descrença e fé, desespero e esperança. (Sei que "Faroeste Caboclo" também se encaixa nisto, e gosto muito desta música, porém, "Metal" é mais sofisticada e rica, enquanto considero "Faroeste" mais crua e direta ao ponto, além de não dar a menor margem alguma esperança) Se puderem, ouçam com atenção "Metal contra as nuvens" e tentem decifrar as várias camadas de entendimento desta música.
É um texto de desencanto, um lamento de nobreza diante das sombras do mundo tais como a inveja e a traição. Na época, a música gerou entre nosso grupo de jogadores um debate de horas e horas sobre a identidade do narrador (embora, provavelmente, Renato não tenha nem sequer pensado em personagens da fantasia medieval, mas, como jogadores de RPG gostávamos de conjecturas) que poderia ser um paladino em desencanto ou talvez um bardo, provavelmente um elfo, com saudades de seu povo.Um texto sobre a coragem de não se render ante as piores adversidades: "Não me entrego sem lutar, tenho ainda coração. Não aprendi a me render, que caia o inimigo, então!".E sobre esperança: "Tudo passa, tudo passará... e nossa história não estará pelo avesso assim... sem final feliz. Teremos coisas bonitas para contar! E até lá, vamos viver temos muita ainda por fazer, não olhe para trás, apenas começamos! O mundo começa agora! Apenas começamos!".
Trechos sensacionais considerando que valiam tanto para fundo musical de nossos personagens, como valeram, em várias ocasiões, para nós mesmos.Afinal, pensando bem, o que pode o "Metal contra as nuvens?" Se percebemos bem se trata de outra imagem abstrata. O metal é forjado pelos homens, em geral, as forjas ficavam nos subterrâneos dos castelos e com ele busca-se a dominação dos outros pela guerra. Mas, as nuvens pertencem ao céu, estão num patamar distante da engenhosidade do homem, pertencem à criação de um ponto mais cósmico e divino. Metal contra as nuvens é um ato de agressão inútil porque o metal não pode ferir as nuvens que são e continuaram sendo. E no fim, todo o ato de agressão é, em si, inútil. Renato pensou nisso tudo? Não sei, talvez. Mas, o artista é uma antena de mensagens abstratas e pode não as traduzir, mas as transmite. E podemos cada um, nos entregar as leituras de acordo ao que compreendemos.
Vocês vêm como é. O que deveria ser um texto sobre a Legião, praticamente se tornou um "tratado" de "Metal contra as nuvens", mas, enfim, Legião é essencialmente isto. Uma série de canções, muitas vezes crônicas de nossa vida, mais cruas ou mais simbólicas, porém, sempre significativas.Alguma mais, outra menos dependendo de quem ouve. Mas, Legião tem o mérito de jamais ser irrelevante. Você pode questionar a capacidade musical dos integrantes (pois, afinal eram herdeiros do punk e não da música erudita), mas, não a relevância, pois ninguém é indiferente ao trabalho da Legião Urbana. Se deixar uma mensagem é o papel do artista, se não passar "em branco" pela sua geração é o que traz grandeza a sua trajetória. Então, a Legião cumpriu seu papel, com sinceridade e no fim, isto é tudo o que importa. Assim foi, assim é.
Há tempos:
http://www.youtube.com/watch?v=h3zzDSpYPR8&feature=PlayList&p=50E5E66D3D8F0A04&index=0&playnext=1
Metal contra as nuvens:
http://www.youtube.com/watch?v=nW6qKn6VSco
nunca tinha visto Metal Contra as Nuvens com todo esse simbolismo. Sempre gostei dessa música, mas porque ela meio que me faz viajar. Mas acho que o objetivo dessa música é realmente fazer com que a gente entenda ela sem perceber.
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