Panacéia dos Amigos

quinta-feira

Como ocorreu a comprovação da Teoria Geral da Relatividade de Einstein

Após a guerra, Eddington partiu para São Tomé e Príncipe, onde um eclipse solar total seria visível em 29 de maio de 1919. Segundo a relatividade geral, uma estrela visível nas proximidades do Sol deveria aparecer em uma posição ligeiramente mais afastada deste porque sua luz deveria ser ligeiramente desviada pela ação da gravitação exercida pela massa do Sol. Esse efeito pode ser observado somente durante um eclipse total do Sol, pois senão a luminosidade do Sol impede a visibilidade da estrela em questão.

A relatividade geral predizia um desvio duas vezes maior do que o predito pela gravitação newtoniana. Durante o eclipse, Eddington tirou diversas fotografias das regiões situadas em torno do Sol. Uma das fotografias de Eddington do eclipse de 1919, apresentada no seu artigo de 1920 anunciando seu sucesso.A meteorologia não estava boa, e as placas fotográficas revelaram-se de péssima qualidade e difíceis de medir. Ele anotou mesmo assim no seu caderno: … uma placa que confirmava as predições de Einstein.

Esse resultado, cuja exatidão foi discutida posteriormente, foi aclamado como uma prova conclusiva da Relatividade Geral sobre o modelo newtoniano; a notícia foi publicada em jornais em todo o mundo como uma importante descoberta. Ela também é a origem da história de que somente três pessoas entendiam a Relatividade; quando perguntado por um repórter que sugeriu isso, Eddington replicou brincando "Oh, who's the third?" (Oh, quem é a terceira?).

Outra história conta que Einstein, ao ser questionado por um repórter sobre o que ele teria feito se as medidas efetuadas por Eddington não estivessem de acordo com as predições da teoria Geral da Relatividade, teria respondido: "Eu diria que o bom Deus está enganado". Eddington também estudou o interior das estrelas e calculou sua temperatura baseando-se na energia necessária para manter a pressão exercida pelas camadas próximas da superfície. Com isso, ele descobriu a relação massa-luminosidade das estrelas. Eddington calculou também a abundância do hidrogênio e elaborou uma teoria explicando a pulsação das cefeidas. O fruto dessas pesquisas está relatado em seu importante trabalho The Internal Constitution of Stars (1926).

Em 1920, tomando como base as medidas precisas de átomos efetuadas por Francis Aston, Eddington foi o primeiro a sugerir que a fonte de energia das estrelas provinha da fusão nuclear do hidrogênio em hélio. Essa teoria revelou-se correta, mas ele teve um longo debate sobre esse assunto com James Jeans, que acreditava que essa energia proviesse da contração da estrela sobre si mesma. Dos anos 1920 até sua morte, ele se concentrou cada vez mais naquilo que ele chamava de "teoria fundamental", cujo objetivo era a unificação da teoria quântica, da teoria da Relatividade e da gravitação, e que se baseava essencialmente em uma análise numerológica das relações adimensionais entre constantes fundamentais. Eddington foi enobrecido em 1930 e recebeu a Ordem do Mérito em 1938.

Recebeu ainda diversas outras honrarias, entre elas a medalha de ouro da Astronomical Society of the Pacific (1923), a medalha de ouro da Royal Astronomical Society (1924), da National Academy of Washington (1924), da Société astronomique de France (1928) e da Royal Society (1928). Além de ser eleito à Royal Society, foi também eleito à Royal Society of Edinburgh, à Royal Irish Academy, à National Academy of Sciences, bem como a diversas outras sociedades científicas.

quarta-feira

Harmonias da música e do crescimento

Por Harmonia geralmente entendemos um ajuste, uma junção ordenada e agradável dos diferentes que em si já carregam muitos contrastes. Nesse sentido, Harmonia é uma relação dinérgica na qual elementos diferentes e muitas vezes contrastantes complementam-se ao juntar-se. Que tal junção dinérgica está no núcleo de todas as harmonias é sugerido pela origem da palavra harmonia, do grego harmos, juntar. O conceito de Harmonia remonta a Pitágoras que, de acordo com a lenda, o descobriu ao ouvir o som do martelar das diversas bigornas em uma ferraria. Essa observação levou-o por analogia a outros instrumentos, como as cordas em vibração de uma lira. Descobriu que duas cordas tangidas ao mesmo tempo soam melhor quando são iguais ou quando tem 1/2, 2/3 ou 3/4 do comprimento da outra. Em outras palavras, quando o comprimento das cordas tangidas se relaciona em proporções que se expressam nos menores números inteiros: 1, 2, 3 e 4.

A proporção 1:1, que é a identidade, é chamada de uníssono. A proporção 1:2, que produz o mesmo som da corda inteira, apenas mais agudo, é chamada de oitava porque alcança os oito intervalos da escala (as oito teclas brancas do teclado). Os gregos chamavam a essa proporção diapason: dia, “através”; pason, de pas ou pan significando “tudo”. O som agradável da proporção 2:3 era chamado diapente (penta, cinco), hoje em dia é chamado quinta, por abranger cinco intervados. A consonância da proporção 3:4 era chamada diatessaron (tessares, “quatro”) ou quarta.

terça-feira

Om Mani Padme Hum..

Uma explicação sobre o mantra de seis sílabas, Om Mani Padme Hum:
  • Om fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino dos deuses. O sofrimento do reino dos deuses surge da previsão da própria queda do reino dos deuses [isto é, de morrerem e renascerem em reinos inferiores]. Este sofrimento vem do orgulho.
  • Ma fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino dos deuses guerreiros (sânsc. asuras). O sofrimento dos asuras é a briga constante. Este sofrimento vem da inveja.
  • Ni fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino humano. O sofrimento dos humanos é o nascimento, a doença, a velhice e a morte. Este sofrimento vem do desejo.
  • Pad fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino animal. O sofrimento dos animais é o da estupidez, da rapina de um sobre o outro, de ser morto pelos homens para obterem carne, peles etc., e de ser morto pelas feras por dever. Este sofrimento vem da ignorância.
  • Me fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino dos fantasmas famintos (sânsc. pretas). O sofrimento dos fantasmas famintos é o da fome e o da sede. Este sofrimento vem da ganância.
  • Hum fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino do inferno. O sofrimento dos infernos é o calor e o frio. Este sofrimento vem da raiva ou ódio.

Om Mani Padme Hum..

(Adaptado de Thinley Norbu, The Small Golden Key to the Treasure of the Various Essential Necessities of General and Extraordinary Buddhist Dharma. Traduzido por Lisa Anderson. Boston: Shambhala, 1999. Pág. 101.)

segunda-feira

Lendas Históricas - O mouro cristão - Portugal

"Segundo consta, em Castro Marim existia um milagre do Cristão. Ele vivia em terras de Espanha, era um grande escravo. De noite, a cama que tinha era uma arca em género de caixão, a alimentação que tinha durante o dia era pão e água, vivia como escravo.

De noite, já referi, isolavam-nos dentro nessa arca, e em cima dessa arca ficava um guarda-costas.

Era um escravo, durante a noite não bebia água nem fazia necessidades. Um belo dia, houve uma grande enchente, chuvas. Aquela cidade espanhola, não me recorda agora, inundou-se, e aquela água toda veio a dar ao rio Guadiana. Entrou pelo rio Guadiana e entrou numa travessal de Castro Marim. Deu aqui à seca, entrou um dia e uma noite, subiu o mar, e depois quando chegou a Castro Marim era de madrugada. Ora de madrugada os galos cantam, os cães ladram, e então o guarda que estava em cima dessa arca dizia então:

- Que terra é esta com alta senhoria, cantam os galos e tocam os sinos à poesia?

Os sinos tocavam a rebate, os galos a cantar, os cães, não é verdade, porque pressentiam, sentiam aquele caso. As autoridades, juntou-se muito povo, e o homem foi solto da arca. Levaram-no então para a capela da Nossa Senhora da Fontinha, perto, ali a 10 metros desviado da igreja matriz. Na dita ermida havia uma grande fonte de correr agua, ainda hoje existe lá um poço. Essa fonte com os anos desapareceu. Existe lá um poço, e estava um grande freixo. O freixo era muito grande, fazia uma muita grande sombra e ali se juntaram e baptizaram o dito homem. Soltaram-no, não é verdade, foi cristão..e foi assim.

Na dita igreja de Nossa Senhora dos Mártires, esta terra teve sempre a fama e foi verdade, vinham para aqui pessoas que praticavam certos crimes, vinham para aqui ‘desterrados’, chamavam-lhe a terra dos ‘degradados’. Viviam no castelo, comiam duas vezes por dia, não é verdade, e um deles era muito inteligente em pinturas, e soube desta história, e fez um grande quadro, uma tela grande que tinha a data de 1550. Uma tela grande, com uma grande moldura larga, aí com 1,5 metro por 70/80 de largura, enfim, e estava na igreja.

No outro lado estavam as autoridades que chegaram nessa altura, a presenciarem o coiso. Duas telas, com umas grandes molduras muito largas na referida igreja.

Depois disso, aqueles quadros prolongaram muito tempo e estiveram ali expostos na igreja Nossa Senhora dos Mártires juntamente com a tal corrente de ferro que esteve ali pendurada. Cuja corrente encontra-se na sacristia.

Eu tenho perguntado o que é feito dessa corrente, mas depois do incêndio de 23 de Fevereiro de 1961 esses quadros arderam e essa corrente foi tirada da parede, e hoje se encontra na sacristia. É pena que essa corrente não esteja pendurada na igreja. Ali num recanto que coiso assim, mas entenderam retirar essa corrente de lá. Essa corrente era a tal que amarravam o tal escravo, o tal cidadão."

sexta-feira

Lendas Históricas - A lenda dos jovens seminus – Portugal

“ O monstro e o ermitão é uma lenda popular que deve ter surgido para explicar um curioso ritual que durou séculos: Todos os anos a população de Castelo Mendo enviava um grupo de rapazes seminus da cintura para cima à festa da Senhora de Sacaparte, que se realiza numa aldeia vizinha chamada Alfaiates.(…) (1)” Há muito tempo atrás, no início da Primavera, havia sempre um jovem desaparecido na terra. A população angustiada nada sabia do paradeiro desses jovens e muito se especulava sobre o mistério que vitimava a todos. Para evitar o pior em suas vidas, as mães evitavam mandar seus filhos sozinhos pelo campo.

No entanto, todas as medidas eram em vão: invariavelmente todo ano, um jovem desaparecia.

Então, um dia, três aldeões: um viúvo, um casado e um solteiro foram buscar os conselho de um velho ermitão, com fama de sábio, que vivia a léguas da aldeia, numa dobra da serra. Demoraram vários dias buscando sua toca. Enfim, o encontraram vestido de farrapos, com uma longa e comprida barba branca, recolhendo mel das abelhas.

O ermitão recebeu-os oferecendo-lhes a comida que tinha: mel, frutos silvestres, e leite de cabra. Ouviu-os atentamente e prometeu que lhes daria a resposta certa, de madrugada. Ansiosos, ficaram acordados a noite toda à espera da resposta.

“Da boca do ermitão saiu uma lengalenga que não só dava a chave do mistério, como apresentava a solução:

Nestas terras por azar/Anda um monstro traiçoeiro/Ai de quem ele avistar

Que o engole logo inteiro/Para este mal acabar

Ouçam bem esta rima/Dezoito moços hão-de-andar

Nus da cintura para cima/E assim mesmo hão-de andar

À Senhora de Sacaparte/Para o monstro ali vencer/Apenas com esta arte.(1)”

Depois de ouvir o conselho do sábio ermitão, os três homens agradeceram e partiram para a aldeia. Quando chegaram, o povo quis ouvir várias vezes as palavras ditas pelo ermitão. Tantas foram as vezes que ficou no ouvido esta rima:

“Mandar moços seminus/À Senhora de Sacaparte?

Se essa é a solução/Pois lá irão”

E assim se cumpriu esse ritual na romaria em honra de Nossa Senhora de Sacaparte em Alfaiates, uma aldeia vizinha. Durou até há cerca de cem anos atrás, quando um bispo pôs termo ao ritual. Atualmente não há memória desse ritual, apesar de continuar essa romaria.

É um prazer postar aqui na Panacéia, um pouco sobre as lendas portuguesas, e aproveito para enviar um afetuoso abraço a todos os portugueses que prestigiam a Panacéia com muitas visitas desde o ínicio deste blog! Muito obrigado!

quinta-feira

Lendas Históricas - Os três últimos desejos de Alexandre, o grande

Quando à beira da morte, Alexandre convocou os seus generais e relatou seus três últimos desejos:

1 - que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época;

2 - que fossem espalhados no caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados (prata, ouro, pedras preciosas...);

3 - que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.

Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões. Alexandre explicou:

1 - Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles NÃO têm poder de cura perante a morte;

2 - Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;

3 - Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos..

quarta-feira

Lendas Históricas - O nó Górdio e Alexandre, o grande

Esta é uma das lendas que mais aprecio. Li à respeito pela primeira vez em Watchmen, de Alan Moore. É provável que a lenda do nó górdio venha do século VIII a.C.

Conta-se que o rei da Frígia (Ásia Menor) morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um nó a uma coluna, nó este impossível de desatar e que por isso ficou famoso.

Górdio reinou por muito tempo e quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império, porém, ao falecer não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria toda a Ásia Menor. O único motivo de fama de Frigia se residia nesta carroça especial estacionada em um dos pátios. A carroça estava presa a uma canga pelo nó górdio. Durante mais de 100 anos, o nó górdio desafiara todos os esforços de inteligentes reis e guerreiros.

Até que em 334 a.C Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio.No dia designado, o pátio encheu-se de curiosos. Todos haviam falhado, pensavam, e dessa forma, com que novo método poderia Alexandre ter êxito ?

Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó facilmente em dois, desatando-o. Lenda ou não o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

É daí também que deriva a expressão "cortar o nó górdio", que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz.