O
processo alquímico é o principal trabalho dos
alquimistas (frequentemente chamado de "A Grande Obra").
Trata-se da manipulação dos metais, e da fabricação
da Pedra Filosofal. As matérias-primas do processo alquímico
são, entre outras, o orvalho, o sal, o mercúrio e o
enxofre. De um modo geral, o processo alquímico é
descrito de forma velada usando-se uma complicada simbologia que
inclui símbolos astrológicos, animais e figuras
enigmáticas. O orvalho é utilizado para umedecer ou
banhar a matéria-prima. O sal é o dissolvente
universal. Os outros dois elementos, mercúrio e enxofre são
as principais matérias-primas da alquimia. O enxofre é
o princípio fixo, ativo, masculino, que representa as
propriedades de combustão e corrosão dos metais. O
mercúrio é o princípio volátil, passivo,
feminino, inerte. Ambos, combinados, formam o que os alquimistas
descrevem como o "coito do Rei e da Rainha".
O sal,
também conhecido por arsênico, é o meio de
ligação entre o mercúrio e o enxofre, muitas
vezes associado à energia vital, que une corpo e alma.
A
linguagem dos textos alquímicos com freqüência faz
uso de imagens sexuais. E não é muito incomum que a
ligação de elementos seja comparada a um "coito".
Normalmente este casamento é associado à morte, e é
representado, com freqüência, ocorrendo dentro de um
sarcófago.
Enquanto
a união de ambos os elementos é representada por um
"casamento" ou "coito", o combate entre o enxofre
e o mercúrio, entre o fixo e o volátil, entre o
masculino e o feminino é comumente representado pela luta
entre o dragão alado e o dragão áptero.
Também
é muito freqüente o uso de símbolos da astrologia
na linguagem alquímica. Associam-se os planetas da astrologia
com os elementos da seguinte forma:
O Sol
com o ouro
A Lua
com a prata
Mercúrio com mercúrio
Vênus
com o cobre
Marte
com o ferro
Júpiter com estanho
Saturno com chumbo
Os
alquimistas acreditavam que o mundo material é composto por
matéria-prima sob várias formas, as primeiras dessas
formas eram os quatro elementos (água, fogo, terra e ar),
divididos em duas qualidades: Úmido (que trabalhava
principalmente com o orvalho), Seco, Frio ou Quente. As qualidades
dos elementos e suas eminentes proporções determinavam
a forma de um objeto, por isso, os alquimistas acreditavam ser
possível a transmutação: transformar uma forma
ou matéria em outra alterando as proporções dos
elementos através dos processos de destilação,
combustão, aquecimento e evaporação.
Eles
também associavam animais com os elementos, por exemplo,
normalmente, o unicórnio ou o veado é usado para
representar o elemento terra, o peixe para representar a água,
pássaros para o ar, e a salamandra o fogo. Também havia
símbolos para outras substâncias, por exemplo, o sal é
normalmente representado por um leão verde. O corvo simboliza
a fase de putrefação do processo alquímico, que
assume uma cor negra. Enquanto que um tonel de vinho representa a
fermentação, fase muito freqüentemente citada
pelos alquimistas no processo alquímico.
Segundo
os alquimistas a matéria passaria por quatro estágios
principais, que por vezes, também tem significado espiritual:
Nigredo: ou Operação Negra, é o estágio
em que a matéria é dissolvida e putrefata (associada ao
calor e ao fogo);
Albedo: ou Operação Branca, é o estágio
em que a substância é purificada (associada à
ablução com Aquae Vitae, à luz da lua, feminina
e à prata);
Citrinitas: ou Operação Amarela, é o estágio
em que se opera a transmutação dos metais, da prata em
ouro, ou da luz da lua, passiva, em luz solar, activa;
Rubedo: ou Operação Vermelha, é o estágio
final, em que se produz a Pedra Filosofal - o culminar da obra ou do
casamento alquímico.
Os
processos apresentam perigo real de explosão (algumas
composições resultam em reações
violentas, que se aproximam da pólvora), queimaduras
(temperatura próximas dos 1000 °C e quase sempre acima dos
100 °C, ácidos e bases fortes), envenenamento (gases) e
toxicidade por metais (Mercúrio, Antimónio, Chumbo). Os
perigos psicológicos são também reais, em
conseqüência de trabalho excessivo, concentração
prolongada, frustração repetida, falta de repouso, por
vezes isolamento, estímulos à imaginação,
etc.
O
homunculus
Talvez
uma das mais interessantes idéias dos alquimistas seja a
criação de vida humana a partir de materiais
inanimados. Não se pode duvidar da influência que a
tradição judaica teve neste aspecto, pois na cabala
existe a possibilidade de dar vida a um ser artificial, o Golem.
O
conceito do homúnculo (do latim, homunculus, pequeno homem)
parece ter sido usado pela primeira vez pelo alquimista Paracelso
para designar uma criatura que tinha cerca de 12 polegadas de altura
e que, segundo ele, poderia ser criada por meio de sémen
humano posto em uma retorta hermeticamente fechada e aquecida em
esterco de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se
formaria o embrião. Outro alquimista famoso que tentou criar
homúnculos foi Johanned Konrad Dippel, que utilizava técnicas
bizarras como fecundar ovos de galinha com sêmen humano e tapar
o orifício com sangue de menstruação.
Podemos
observar que esta ideia dos alquimistas ficou profundamente marcada
na consciência da humanidade, e tem aparecido regularmente no
imaginário popular, na forma de monstros artificiais, como nos
animes/mangás Fullmetal Alchemist e Ragnarok, no jogo de RPG
Promethean the created e no mais famoso deles, Frankenstein (obra
literária de Mary Shelley).
No
entanto, também é possível que o homúnculo
seja quer uma alegoria, quer uma interpretação
demasiado literal das imagens alegóricas alquímicas
respeitantes à criação, pela arte, de novas
entidades minerais, sejam elas objetivos finais ou intermédios.
Essas imagens comportam, muitas vezes, a representação
de um ser emblemático, humano, animal ou quimérico,
numa retorta.
A
alquimia medieval acabou fundando, com os estudos sobre os metais, as
bases da química moderna. Diversas novas substâncias
foram descobertas pelos alquimistas, como o arsênico. Eles
também deixaram como legado alguns procedimentos que usamos
até hoje, como o famoso banho-maria, devido a alquimista
Maria, a Judia, considerada fundadora da Alquimia na Antiguidade; a
ela atribui-se também a descoberta do ácido clorídrico.
Ironia do destino, o desejo dos alquimistas de transmutar os metais
tornou-se realidade nos nossos dias com a fissão e fusão
nuclear.
Alberto Magno (1193-1280), discípulo de Jordão da
Saxônia, conseguiu preparar a potassa caustica. Foi o primeiro
a descrever a composição química do cinábrio,
do alvaiade, do mínioe do arsênico derivado do anidrido
arsênico.
Arnaldo de Vilanova estudou a terebentina, cujo nome era oleum
mirabile, a essência de rosmarinho, os ácidos
clorídrico, sulfúrico e azótico
Raimundo Lúlio, discípulo de Arnaldo de Vilanova,
preparou o bicarbonato de potássio e descobriu o ácido
azótico e os calomelanos.
Paracelso, condiscípulo de Agrippa, do alquimista Tritêmius,
identificou o zinco; pioneiro na utilização medicinal
dos compostos químicos
Henning Brand descobriu o elemento químico do fósforo,
e a vendeu a outro alquimista alemão Johann Daniel Kraft, que
tratou de sua produção e comercialização.
Tomás
de Aquino, discípulo de Alberto Magno escreveu largamente
sobre o arsênico
Roger
Bacon, discípulo de Roberto de Grosseteste, escreveu um longo
tratado sobre os metais
Giambattista della Porta preparou o óxido de estanho II
O
Renascentista Basile Valentin descobriu os ácidos sulfúrico
e clorídrico[2] e dissertou sobre o antimônio, os vinhos
e a aguardente.
Andréas Libavius produziu o acetato de chumbo, o ácido
canfórico e o sulfato de amônio, como também foi
pioneiro nos processos químicos de destilação,
filtração e sublimação.
A
psicologia moderna também incorporou muito da simbologia da
alquimia. Carl Jung reexaminou a simbologia alquímica
procurando mostrar o significado oculto destes símbolos e sua
importância como um caminho espiritual. Mas com certeza a maior
influência da alquimia foi nas chamadas ciências ocultas.
Não há ramo do ocultismo ocidental que não tenha
recebido alguma idéia da alquimia, e que não a
referencie.
No
entanto, os alquimistas tradicionais, "metálicos",
continuam a existir e agora apresentam os seus trabalhos na Web, em
sites, fóruns e blogs, incluindo fotografias das substâncias
necessárias ou que vão obtendo, ou dos seus
equipamentos, bem como os seus próprios comentários à
obra de outros autores, clássicos e contemporâneos.
Acima de
tudo, a alquimia deixou uma mensagem poderosa de busca pela
perfeição. Em um mundo tomado pelo culto ao dinheiro a
à aparência exterior, em que pouco o homem busca a si
próprio e ao seu íntimo, as vozes dos antigos
alquimistas aparecem como um chamado para que o homem reencontre seu
lado espiritual e superior; ou a que, na mais simples das análises,
tenha um qualquer objectivo na vida, ainda que longínquo,
através do viver uma aventura que se pode cumprir numa divisão
esquecida da casa.
Hoje em
dia, a alquimia está voltando a se evidenciar no dia-a-dia das
pessoas com best-sellers como a série de livros Harry Potter e
outros como O Alquimista e O Código da Vinci; os mangás/animes
Fullmetal Alchemist e Fullmetal Alchemist: Brotherhood (também,
a seus quatro OVAs); além de outras obras, como Fera Ferida,
uma novela televisiva, e em jogos, como Orychi, um RPG.
Algumas
das principais obras de alquimia
O
Arcano Hermético (de Jean d'Espagnet)
Anfiteatro da Sabedoria Eterna (de Heinrich Khunrath)
Atalanta Fugiens (de Michael Maier)
Aurora Consurgens (de São Tomás de Aquino)
Five
treatises of the philosophers stone - Alfonso V King of Portugal (de
D. Afonso V)
A
Aurora dos Filósofos (de Paracelso)
A
Carruagem Triunfal do Antimônio (de Basilio Valentim)
As
Seis Chaves (de Eudoxus)
Coelum Philosophorum (de Paracelso)
A
fabricação de Ouro (de Francis Bacon)
Baopozi (de Ge Hong)
O
Parentesco dos Três (de Wei Boyang)
Museu
Hermético
Rosarium Philosophorum
Tabula de Esmeralda (de Hermes Trismegistus)
O
Tratado Dourado (de Hermes Trismegistus)
Corpus Hermeticum (de Hermes Trismegistus)
Teorias e símbolos dos Alquimistas (de Albert Poisson)
Mutus
Liber (editado por Eugene Canseliet)
As
Moradas dos Filósofos (de Fulcanelli)
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