Panacéia dos Amigos

terça-feira

Ghandi, o filme





Tive oportunidade de ver este filme recentemente, idos de 2009/2010. E apreciei muito. Ghandi é em si, uma das figuras mais intrigantes, carismáticas e preciosas do século vinte. E minha admiração por sua trajetória é de longa data. Por todo o século XX, Gandhi foi considerado um exemplo de humanismo e caráter, a ser seguido e ovacionado num período em que o capitalismo e a desigualdade social falavam mais alto. Albert Einstein já havia dito “que poucos acreditarão que um ser humano como este, em carne e osso, passou pela Terra”. Richard Attenborough conseguiu fazer uma bela homenagem à Gandhi, o filme atinge seu propósito com precisão – e nos abre os olhos para a construção de um mundo melhor. O filme teve uma inspirada atuação de Bem Kingsley e emociona em vários momentos. Foi lançado em 1982, sendo uma produção britânica-indiana, do gênero drama biográfico, com direção de Richard Attenborough.


O diretor Richard Attenborough levou cerca de 20 anos para viabilizar e concluir o filme Gandhi, projeto pessoal surgido após um profundo estudo sobre o famoso profeta. O diretor tenta captar, paulatinamente, toda a revolta que surge na mente de Gandhi (iniciada assim que o mesmo é expulso da primeira classe de um trem por ser considerado “de cor” pelos comissários de bordo); Um destaque é a fotografia (de Ronny Taylor e Billy Williams) que captura imagens monumentais das paisagens indianas; a figuração, já que mais de 200 mil figurantes compuseram a cena do funeral de Gandhi, e outros 100 mil reconstituíram a famosa cena à beira mar, em que o profeta defende a ideia de que o sal marinho não é propriedade do império; e claro, Ben Kingsley (vencedor do Oscar), que impressiona principalmente pela caracterização e pelo tom exato de sentimentalismo. Quem conhece um pouco da história de Gandhi, sabe que ele era um homem que pregava a paz (mesmo que seus seguidores interpretassem, muitas das vezes, a luta contra o imperialismo como uma disputa de sangue, e não de ideais). A voz suave e os trejeitos bondosos de Mahatma Gandhi são fielmente reproduzidos por Kingsley, nesta que é uma de suas melhores atuações..


Desde o século XVIII, por meio da Companhia Inglesa das Índias Orientais, o Império Britânico passou a colonizar gradativamente o território indiano, assumindo já no século XIX, todo o controle político e conseqüentemente o domínio militar e cultural. A trajetória de lutas pela independência da Índia teve um importante marco com a Revolta dos Cipaios (1857), que foi sufocada pelo Imperialismo britânico. Outro grande marco de lutas pela liberdade indiana foi a propagação da política de não-violência liderada por Mahatma Gandhi. É justamente sobre esse tema que Richard Attenborough dirige seu filme biográfico. Trata-se de um filme indicado para o Oscar em onze categorias e ganhador de oito - um drama biográfico produzido por ingleses e indianos.

O filme começa com o assassinato do grande líder e seqüencialmente com o seu cortejo fúnebre. Em flashback, volta-se ao passado, para o tempo em que o jovem advogado Gandhi encontrava-se na África do Sul. Período esse em que teve contato pela primeira vez com o regime de extrema discriminação racial - o apartheid. Acredita-se que o episódio em que fora expulso de um trem por se recusar a deixar a primeira classe, seja o “despertar de sua consciência social”, sua visão humanista e universalizante.


O diretor procura enfatizar mais elementos idealistas da política de Gandhi - elementos esses muito admirados pelo Ocidente -, do que o central de suas idéias políticas. A partir de então, começam as inúmeras manobras de desafio às autoridades britânicas em nome dos direitos civis da minoria hindu na África do Sul, contestando o sistema social baseado na desigualdade: se apropria da desobediência como instrumento para tanto. A sua popularidade já é notória tanto entre hindus e muçulmanos, quanto para os ingleses na Índia indicando o impacto das suas campanhas de enfrentamento às políticas de dominação inglesa na África do Sul. Podemos imaginar o seu período de passagem pela colônia sul-africana como de um laboratório. Foi lá que fez uso da desobediência civil pela primeira vez, fez uso da técnica que chamou de “Satyagraha” (força da verdade) - negação à submissão da injustiça contra a obrigatoriedade de registro do povo hindu; mobilizou os trabalhadores para protestar por conquista de direitos dos indianos na África do Sul, entre algumas manifestações que evidenciaram a aplicabilidade da técnica da desobediência como instrumento de confrontação e mobilização das massas indianas.

Desde o início do filme, podemos observar o seu caráter conciliador: Gandhi é o elo que unificam hindus e muçulmanos no processo de libertação do domínio imperialista britânico. A política da não-agressão alcançou não só o apoio das massas, mas também a burguesia indiana e o reconhecimento internacional. No entanto, sua aplicabilidade foi pensada para a realidade daquela Índia de inícios do século XX. O carisma de Mahatma Gandhi teve força para mobilizar as massas indianas, sendo a independência o propósito libertador que unia hindus e muçulmanos. Pouco a pouco, levando suas palavras motivadoras e pacifistas aos diversos povos por toda a Índia, Gandhi vai sistematicamente minando o sistema de dominação inglês: a união de hindus, siques e muçulmanos pela independência, a recusa dos camponeses em pagar os impostos, igualdade para as mulheres, a recusa à bebida alcoólica, o boicote ao tecido inglês, a marcha do sal, forçaram o Vice-rei da Índia a ceder a políticas reformadoras paulatinamente, desmoralizando a dominação inglesa. Nesse período Gandhi já sabia que a independência era questão de tempo.


Ao final, durante as conversações para o estabelecimento do Estado indiano independente, podemos verificar o início do que representaria mais tarde o maior desapontamento de Mahatma Gandhi: a divisão do país e a fundação do Domínio do Paquistão, em 1947 numa porção leste e outra à noroeste da Índia. Manter a Índia unificada entre hindus, siques e muçulmanos era uma pretensão nacionalista baseada em princípios e ideais humanistas, porém de fato seria insustentável. O carismático Gandhi teve força para manter os povos unidos contra a dominação imperialista britânica, mas não o bastante para conter interesses conflitantes de muçulmanos e hindus. Se por um lado estava representado na fundação do Paquistão um duro golpe nos ideais nacionalistas de Gandhi, sua maior vitória está na consolidação da independência indiana, diante de uma Inglaterra desmoralizada pela incapacidade de conter as mobilizações das massas baseadas na prática da não-violência.


Fonte:
http://obradoretumbante.wordpress.com/
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