Panacéia dos Amigos

sexta-feira

Expressionismo




O expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos da arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia. Manifestou-se inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento do fauvismo francês, o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros representantes das chamadas "vanguardas históricas". Mais do que meramente um estilo com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou diversos artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. O movimento surge como uma reacção ao positivismo associado aos movimentos impressionista e naturalista, propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a "expressão" – em oposição à mera observação da realidade – a "impressão".

O expressionismo compreende a deformação da realidade para expressar de forma subjectiva a natureza e o ser humano, dando primazia à expressão de sentimentos em relação à simples descrição objetiva da realidade. Entendido desta forma, o expressionismo não tem uma época ou um espaço geográfico definidos, e pode mesmo classificar-se como expressionista a obra de autores tão diversos como o holandes Piet Zwiers, Matthias Grünewald, Pieter Brueghel, o Velho, El Greco ou Francisco de Goya. Alguns historiadores, de forma a estabelecer uma distinção entre termos, preferem o uso de "expressionismo" – em minúsculas – como termo genérico, e "Expressionismo" –com inicial maiúscula– para o movimento alemão.
Através de uma paleta cromática vincada e agressiva e do recurso às temáticas da solidão e da miséria, o expressionismo é um reflexo da angústia e ansiedade que dominavam os círculos artísticos e intelectuais da Alemanha durante os anos anteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-guerras (1918-1939). Angústia que suscitou um desejo veemente de transformar a vida, de alargar as dimensões da imaginação e de renovar a linguagem artística. O expressionismo defendia a liberdade individual, o primado da subjectividade, o irracionalismo, o arrebatamento e os temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou perverso. Pretendeu ser o reflexo de uma visão subjectiva e emocional da realidade, materializada através da expressividade dos meios plásticos, que adquiriram uma dimensão metafísica, abrindo os sentidos ao mundo interior. Muitas vezes visto como genuína expressão da alma alemã, o seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Fruto das peculiares circunstâncias históricas em que surge, o expressionismo veio revelar o lado pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna, industrializada, se vê alienado e isolado.

O expressionismo não foi um movimento homogéneo, coexistindo vários pólos artísticos com uma grande diversidade estilística, como a corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die Brücke), surrealista (Klee), ou a abstracta (Kandinsky). Embora o seu maior pólo de difusão se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se também por meio de artistas provenientes de outras partes da europa como Modigliani, Chagall, Soutine ou Permeke, e no continente americano como, por exemplo, os mexicanos Orozco, Rivera, Siqueiros e o brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes: Die Brücke (fundado em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas independentes e não afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reação ao individualismo expressionista e procurasse a função social na arte, a sua distorção das formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro directo da primeira geração expressionista.

A transição do século XIX para o XX assistiu a inúmeras transformações políticas, sociais e culturais. A burguesia vive um período áureo de grande ostentação económica e influência política, a Belle Époque, que se manifestaria nas artes através do modernismo, movimento artístico que responde ao luxo e ostentação copiosos procurados pela nova classe dirigente. No entanto o receio perante a ocorrência de um novo episódio revolucionário, face às constantes revoluções ocorridas ao longo de todo o século XIX desde a Revolução Francesa (o último em 1871, durante a Comuna de Paris), levou a classe política a decretar uma série de concessões sociais, como a reforma laboral, a segurança social e o ensino básico obrigatório. A queda da taxa de analfabetismo e o aumento da literacia traduziu-se no crescimento assinalável dos meios de comunicação social, e numa difusão dos fenômenos culturais a uma escala e velocidade sem precedentes que estaria na origem da cultura de massas.

O progresso tecnológico no campo das artes, sobretudo depois da aparição da fotografia e do cinema, faz com que toda a comunidade artística se interrogue sobre o seu papel na sociedade. A imitação da realidade deixou de fazer sentido, uma vez que as novas técnicas tornaram o processo mais fácil, rápido e reprodutível. As novas teorias científicas como a teoria da relatividade de Einstein, a psicanálise de Freud ou a subjectividade do tempo de Bergson, abriram a porta a noções subjectivas da realidade, fornecendo elementos para que o mundo artístico se questionasse sobre as próprias fronteiras da objectividade. A procura de novas linguagens artísticas e novas formas de expressão traduziu-se na formação de vários movimentos de vanguarda que exploravam uma nova relação do artista com o público. Os vanguardistas pretendem integrar a arte com a própria sociedade e fazer da sua obra uma expressão do inconsciente coletivo da sociedade que representava. Por sua vez, a interacção com o espectador leva a que este se envolva na percepção e compreensão da obra, assim como na sua difusão e mercantilização, factor que estará na origem do crescimento exponencial das galerias de arte e dos museus.

O expressionismo integra aquilo que se convencionou designar por "vanguardas históricas"; o imenso grupo de movimentos artísticos surgidos desde o início do século XX anterior à I Guerra Mundial até o fim da II Guerra Mundial em 1945. Esta designação inclui ainda, entre outros, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o construtivismo, o neoplasticismo, o dadaísmo e o surrealismo. A vanguarda está intimamente ligada ao conceito de modernidade, caracterizado pelo fim do determinismo e da supremacia da religião, substituídos pela razão e pela ciência, pelo objectivismo e pelo individualismo, e pela a confiança na tecnologia, no progresso e nas próprias capacidades do ser humano. O artista pretende desta forma colocar-se a si próprio na linha da frente do progresso social e dar voz às ideias progressistas através da sua obra.

O termo "expressionismo" foi utilizado pela primeira vez pelo pintor francês Julien-Auguste Hervé, que usou a palavra "expressionisme" para designar uma série de quadros apresentados no Salão dos Independentes de Paris em 1901, assumindo a sua diferença em relação ao impressionismo. O termo alemão "expressionismus" foi adaptado directamente do francês5 , tendo sido referido pela primeira vez no catálogo da XXII Exposição da Secessão de Berlim em 1911, que reunia obras de artistas alemães e franceses. Na literatura, foi usado pela primeira vez em 1911 pelo crítico Kurt Hiller.6 Já numa fase posterior, o termo "expressionismo" foi popularizado pelo escritor Herwarth Walden, editor da revista Der Sturm (A tormenta), que se viria a tornar o principal meio de divulgação do expressionismo alemão. Walden usou inicialmente o termo para todas as vanguardas surgidas entre 1910 e 1920. O seu uso de forma exclusiva para a arte alemã de vanguarda surge a partir de uma proposta de Paul Fechter no seu livro Der Expressionismus (1914) que, com base nas teorias de Worringer, veio a estabelecer uma relação entre as novas manifestações artísticas e a expressão da alma coletiva alemã.

O expressionismo surge a partir de uma reacção ao impressionismo. Ao contrário dos impressionistas, que procuravam no espaço da tela transmitir uma "impressão" do mundo à sua volta, os expressionistas procuravam representar o seu próprio mundo interior, uma "expressão" dos seus próprios sentimentos. A linha e a cor são usadas de forma emotiva e carregadas de simbolismo. Esta ruptura com a geração precedente fez com que o expressionismo se tornasse sinónimo de arte moderna durante os primeiros anos do século XX.8 O expressionismo implicou um novo conceito da arte, entendida como uma forma de captar a existência, de transluzir em imagens o substrato que subjace sob a realidade aparente, de refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza. Assim, o expressionismo foi o ponto de partida de um processo de transmutação da realidade que cristalizou no expressionismo abstrato e o informalismo. Os expressionistas utilizavam a arte como uma forma de refletir os seus sentimentos, o seu estado anímico, propenso pelo general à melancolia, à evocação, a um decadentismo de corte neorromântico. Assim, a arte era uma experiência catárquica, onde se purificavam os desafogos espirituais, a angústia vital do artista.

Na gênese do expressionismo, um fator fundamental foi a recusa do positivismo, do progresso cientificista, da crença nas possibilidades ilimitadas do ser humano baseadas na ciência e a técnica. Por outro lado, começou um novo clima de pessimismo, de cepticismo, de descontente, de crítica, de perda de valores. Vislumbrava-se uma crise no desenvolvimento humano, que efetivamente foi confirmada com o estouro da Primeira Guerra Mundial.10 Também cabe destacar-se na Alemanha a recusa do regime imperialista de Guilherme II por parte de uma minoria intelectual, afogada pelo militarismo pangermanista do cáiser. Estes fatores propiciaram um caldo de cultura no que o expressionismo se foi gestando progressivamente, com umas primeiras manifestações no terreno da literatura: Frank Wedekind denunciou nas suas obras a moral burguesa, frente à qual opunha a liberdade passional dos instintos; Georg Trakl evadiu-se da realidade refugiando-se num mundo espiritual criado pelo artista; Heinrich Mann foi quem mais diretamente denunciou a sociedade guilhermina.

A aparição do expressionismo num país como a Alemanha não foi um fato aleatório, mas é explicado pelo profundo estudo da arte durante o século XIX pelos filósofos, artistas e teóricos alemães, do romantismo e as múltiplas contribuições para o campo da estética de personagens como Wagner e Nietzsche, para a estética cultural e para a obra de autores como Konrad Fiedler ("Para julgar obras de arte visual", 1876), Theodor Lipps ("Estética", 1903-1906) e Wilhelm Worringer ("Abstração e empatia", 1908). Esta corrente teórica deixou uma profunda marca nos artistas alemães de finais do século XIX e princípios do XX, centrada sobretudo na necessidade de se expressar do artista (a "innerer Drang" ou necessidade interior, princípio que assumiu posteriormente Kandinsky), bem como a constatação de uma ruptura entre o artista e o mundo exterior, o ambiente que o envolve, fato que o torna num ser introvertido e alienado da sociedade. Também influiu a mudança acontecida no ambiente cultural da época, que se afastou do gosto clássico greco-romano para admirar a arte popular, primitiva e exótica –sobretudo da África, Oceania e Extremo Oriente–, bem como a arte medieval e a obra de artistas como Grünewald, Brueghel e El Greco.

Na Alemanha, o expressionismo foi mais um conceito teórico, uma proposta ideológica, do que um programa artístico coletivo, se bem que se aprecia um selo estilístico comum a todos os seus membros. Frente ao academicismo imperante nos centros artísticos oficiais, os expressionistas agruparam-se em torno de diversos centros de difusão da nova arte, especialmente em cidades como Berlim, Colônia, Munique, Hanôver e Dresde. Assim mesmo, o seu trabalho difusor através de publicações, galerias e exposições ajudaram a estender o novo estilo por toda Alemanha e, mais tarde, toda Europa.8 Foi um movimento heterogêneo que, à parte da diversidade das suas manifestações, realizadas em diversas linguagens e meios artísticos, apresentou numerosas diferenças e até mesmo contradições no seu seio, com grande divergência estilística e temática entre os diversos grupos que surgiram ao longo do tempo, e até mesmo entre os próprios artistas que os integravam. Até mesmo os limites cronológicos e geográficos desta corrente são imprecisos: se bem que a primeira geração expressionista (Die Brücke, Der Blaue Reiter) foi a mais emblemática, a Nova Objetividade e a exportação do movimento a outros países implicou a sua continuidade no tempo ao menos até a Segunda Guerra Mundial; geograficamente, se bem que o centro neurálgico deste estilo se situou na Alemanha, pronto se estendeu por outros países europeus e inclusive do continente americano.

Depois da Primeira Guerra Mundial o expressionismo passou na Alemanha da pintura ao cinema e ao teatro, que utilizavam o estilo expressionista nos seus décors, mas de modo puramente estético, desprovido do seu significado original, da subjetividade e do pungimento próprios dos pintores expressionistas, que se tornaram paradoxalmente em artistas malditos.14 Com o advento do nazismo, o expressionismo foi considerado como "arte degenerada" (Entartete Kunst), relacionando-o com o comunismo e tachando-o de imoral e subversivo, ao tempo que consideraram que a sua fealdade e inferioridade artística eram um signo da decadência da arte moderna (o decadentismo, pela sua vez, fora um movimento artístico que teve certo desenvolvimento). Em 1937 uma exposição foi organizada no Hofgarten de Munique com o título precisamente de Arte degenerada, visando injuriá-lo e mostrar ao público a baixa qualidade da arte produzida na República de Weimar. Para tal fim foram confiscadas cerca de 16 500 obras de diversos museus, não apenas de artistas alemães, mas de estrangeiros como Gauguin, Van Gogh, Munch, Matisse, Picasso, Braque e Chagall. A maioria dessas obras foram vendidas posteriormente a galeristas e marchands, sobretudo num grande leilão celebrado em Lucerna em 1939, embora cerca de 5000 dessas obras foram diretamente destruídas em março de 1939, supondo um notável prejuízo para a arte alemã.

Após a Segunda Guerra Mundial o expressionismo desapareceu como estilo, se bem que exercesse uma poderosa influência em muitas correntes artísticas da segunda metade de século, como o expressionismo abstrato norte-americano (Jackson Pollock, Mark Rothko, Willem de Kooning), o informalismo (Jean Fautrier, Jean Dubuffet), o grupo CoBrA (Karel Appel, Asger Jorn, Corneille, Pierre Alechinsky) e o neoexpressionismo alemão –diretamente herdeiro dos artistas de Die Brücke e Der Blaue Reiter, o qual é patente no seu nome, e artistas individuais como Francis Bacon, Antonio Saura, Bernard Buffet, Nicolas de Staël e Horst Antes.

Fonte: Wikipédia

quinta-feira

Piet Mondrian




Pieter Cornelis Mondrian, geralmente conhecido por Piet Mondrian (Amersfoort, 7 de Março de 1872 - Nova Iorque, 1 de Fevereiro de 1944) foi um pintor Holandês modernista. Participou do movimento artístico Neoplasticismo e colaborou com a revista De Stijl.

Nascido em ambiente rural com clima de fazenda e sítio, Piet Cornelis Mondrian vinha de uma família calvinista extremamente religiosa. Seu pai, um pastor puritano, desejava que o filho seguisse a carreira clerical. A religião marcou o jovem Piet e o sentimento metafísico iria permear sua obra durante toda a vida, em maior ou menor grau.

Tendo um tio que trabalhava com pintura, interessou-se pela carreira artística, mas foi obrigado a enfrentar a visão ortodoxa da família, que via na arte um caminho para o pecado. Vê, porém, na possibilidade de dar aulas uma resolução ao seu dilema: prometeu ao pai estudar artes, tornando-se um professor.

Insatisfeito com o magistério, Mondrian sente a necessidade de libertar-se e estabelecer-se como pintor, mas teme enfrentar ao pai (que de antemão desaprovava a ideia) e a si mesmo, tal o peso de sua formação religiosa. Quando entra em contato com a teosofia, porém, encontra em seu ideário uma resolução para o problema: a doutrina pregava o trilhar de um caminho evolutivo pessoal e a arte encaixava-se neste caminho. O contato com a teosofia irá manifestar-se no trabalho de Mondrian e marcará sua vida profundamente daí em diante.
Piet Mondrian começou a sua carreira como caminhoneiro ao mesmo tempo que ia praticando a sua pintura. A maior parte do seu trabalho deste período é influenciada pelo naturalista ou impressionista. No museu Gemeente, em Haia, estão expostos vários trabalhos deste período, incluindo exemplares pós-impressionistas tais como "O Moinho Vermelho" e "Árvores ao andar". (O museu também tem exemplos do seu trabalho geométrico posterior).

Após entrar em contato com a teosofia, Mondrian passa por um breve período simbolista, mas que lhe será fundamental para que atinja a abstração. Este período costuma-se confundir com a radical abstração que caracterizaria o resto de sua obra, já revelando uma certa tendência à geometrização e à síntese da realidade. Além do pensamento espiritual calcado na busca de uma essência matemática e racional para a existência que caracteriza a teosofia, Mondrian também exibiu um interesse quase obsessivo pelo jazz – pela identificação de sua alegria contagiante com o ritmo irregular que, ele também, possuiria um fundamento matemático.

A abordagem sequencial de três telas com árvores (A árvore vermelha - 1908, A árvore cinzenta - 1912 e Macieira em Flor - 1912), mostra como se processou a desconstrução figurativista de sua obra .

Em 19113 , visitou uma exposição cubista em Amsterdã que o marcou profundamente e teve grande influência no seu trabalho posterior.
A partir de 1917 até a década de 1940 desenvolve sua grande obra neoplástica.

Essa fase de sua obra, a mais popularmente difundida, se caracteriza por pinturas cujas estruturas são definidas por linhas pretas ortogonais (o uso de diagonais induziria a percepção a ver profundidade na tela e motivou o rompimento de sua amizade com Theo Van Doesburg). Essas linhas definem espaços que se relacionam de diferentes modos com os limites da pintura, e que podem ou não serem preenchidos com uma cor primária: amarelo, azul e vermelho, decisão que mostra sua estreita relação com as teorias estéticas da Bauhaus e da Escola de Ulm, e que definem pesos visuais diferentes para esses espaços. O blocos de cor, pintados de modo fosco e distribuídos assimetricamente, reforçam a idéia de um movimento superficial que se estende perpetuamente, indicando que o pintor investia na percepção de sua obra como uma abstração materialista e sem profundidade, criticando a pintura histórica enquanto produzia uma abstração racionalista, espiritualista e sobretudo concreta do mundo. Sua obra, muitas vezes copiada, continua a inspirar a arte, o design, à moda e a publicidade que a apropriam como design, sem necessariamente levar em conta sua fundamental e filosófica recusa à imagem.

Em 1930, Lola Prusac, estilista da Casa HERMES criou uma linha completa de bolsas e malas que são inspiradas diretamente das obras de Mondrian com cortes vermelhos, amarelos e azuis.

O seu quadro "Broadway Boogie Woogie", que pode ser visto no Museu de Arte Moderna de São Francisco, pertence à fase posterior ao Neoplasticismo, quando Mondrian se liberta das regras que ele próprio se impôs.

Fonte: Wikipédia

quarta-feira

Neoplasticismo




O termo Neoplasticismo refere-se ao movimento artístico de vanguarda capitaneado pela figura de Piet Mondrian, relacionado à arte abstrata.O Neoplasticismo defendia uma total limpeza espacial para a pintura, reduzindo-a a seus elementos mais puros e buscando suas características mais próprias. Muitos de seus ideais foram expostos na revista De Stijl (O Estilo).

A necessidade de ressaltar o aspecto artificial da arte (criação humana) fez com que os artistas deste movimento (notadamente Mondrian e Theo van Doesburg) usassem apenas as cores primárias (vermelho, amarelo, azul) em seu estado máximo de saturação (artificial), assim como o branco e o preto (inexistentes na Natureza, o primeiro sendo presença total e o segundo ausência total de luz).

Claramente um movimento de arte de pesquisa, os experimentos realizados pelos artistas neoplásticos foram essenciais para a arquitetura moderna, assim como para a formulação do que hoje se conhece por design. Apesar de afastados da Bauhaus devido a questões pontuais, ambos os movimentos fazem parte de um mesmo universo cultural.

Embora muitos vejam o Neo-Plasticismo como produto da revolta moral contra a violência irracional que assolava a Europa, alguns outros fatores foram essenciais para o nascimento do movimento, como o cubismo, que desfigurou os modos tradicionais de representação; o idealismo e a austeridade do protestantismo holandês; o viés místico da teosofia, movimento do qual Piet Mondrian era membro.

Estética
A redução a formas elementares, neutras, que por si só não provocam qualquer reação individual — as linhas retas e cores primárias — nos leva a duas outras preocupações essenciais dos teóricos do De Stijl: a ênfase estrutural e a necessidade vital do equilíbrio assimétrico.

Para Mondrian, o "mais puro de todos os membros" (na opinião de H.B. Chipp), "a beleza universal não surge do caráter particular da forma, mas sim do ritmo dinâmico (…) das relações mútuas das formas."

Rejeitando a simetria, os membros do De Stijl procuravam então, através da combinação de linhas e ângulos retos, um equilíbrio dinâmico que tocasse a "beleza universal", provocando a emoção de beleza que, por sua própria característica, é "cósmica" e "universal".

Pelo equilíbrio assimétrico, entende-se o comportamento dos artistas em atribuir valores semelhantes a combinações de linhas e cores diferentes, balanceando suas composições. Este exercício quase matemático transforma a tela em um plano e transforma o dualismo conteúdo-forma em uma unidade inseparável. A noção de unidade é fundamental — as relações equilibradas devem ser a mais pura representação do caráter universal da ordem, da harmonia e da unidade, características que também estão presentes na mente (se focalizarmos nela, seremos capazes de ver a unidade natural).

Este dualismo conteúdo-forma é apenas um entre os vários dualismos tratados por Mondrian em seus escritos. Para o pintor holandês, o Neo-Plasticismo tinha como missão reconciliar o dualismo matéria-espírito, além de resolver o dualismo entre individual e coletivo, resultado de uma visão artística onde a expressão pela arte deve refletir a consciência temporal do homem e vice-versa.

Para Van Doesburg e Mondrian, portanto, o De Stijl estaria cumprindo o papel de resolver o questionamento do homem moderno e ilustrar o desenvolvimento da consciência do homem do individual para o universal, a rejeição da ênfase no individualismo (o Neo-Plasticismo seria, de certa forma, a primeira expressão artística puramente plástica porque não aceitava a predominância da consciência individual). Nas palavras de Van Doesburg:

"Aquilo que se expressa positivamente na plasticidade moderna — uma proporção equilibrada do peculiar e da generalidade — manifesta-se mais ou menos também na vida do homem moderno e constitui a causa original da reconstrução social de que somos testemunhas."

A composição, como forma principal de expressão pela pintura, não renuncia ao elemento humano, permitindo ao artista expressar sua subjetividade enquanto for necessário, dando certa liberdade de escolha quanto à disposição dos elementos e do ritmo. O que ocorre é a redução drástica dessa influência individual, aumentando significativamente o caráter universal da obra.

Arquitetura
Vale ressaltar, como último ponto fundamental da doutrina Neo-Plástica, a visão sintética das artes. Segundo a análise de H.B. Chipp da ótica do movimento, "no futuro, a materialização concreta dos valores pictóricos suplantará a arte. Então, já não precisaremos de quadros, pois viveremos no meio da arte realizada."

Essa aproximação das artes revela-se nitidamente na grande participação e influência de arquitetos no De Stijl e no trabalho conjunto de Theo Van Doesburg, com muitos deles visando a produção de um ambiente que fosse em si mesmo uma expressão artística.

Dentre as obras arquitetônicas do De Stijl, a "Casa Schröder" projetada por Thomas Gerrit Rietveld (1888-1964), artista extremamente fiel às premissas teóricas do movimento, é uma das mais típicas — construída em Utrecht, em 1923-24, caracteriza-se pelo uso de linhas retas, planos e cores básicas como elementos constitutivos, "uma casa que se diria feita não para, e sim pelos moradores, utilizando elementos pré-fabricados", abolindo elementos ornamentais, com superfícies lisas, rejeitando a aparência rústica (conforme pregou Mondrian em sua obra "Le Néo-plasticisme: principe général de l’équivalence plastique").

A preocupação estrutural, em detrimento de quaisquer floreios ornamentais, expressa-se, portanto, não só na pintura de Mondrian como na arquitetura dos adeptos do De Stijl. O racionalismo de fundo místico, partindo da premissa de uma essência harmônica universal (isto é, um conceito impessoal de Deus), opera em todos os níveis artísticos do Neo-Plasticismo.

Influência Teosófica
O movimento teosófico, fundado por Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), alegava ter resolvido o conflito entre espiritualidade e ciência (conflito evidenciado, principalmente, pela teoria da evolução de Darwin) ao aplicar o conceito de evolução a uma escala cósmica — todo o universo estaria evoluindo, não só as espécies, e nós estaríamos vivendo sucessivas encarnações rumo à perfeição. A teosofia exerceu grande influência no trabalho do matemático M.H.J. Schoenmaekers, especialmente no tratado "Matemática Expressiva", que influenciou fortemente a concepção artística de Piet Mondrian na fase inicial do Neo-Plasticismo.

Como resultado, o De Stijl era visto por seus integrantes como mais do que um estilo artístico, possuindo um caráter quase messiânico, sendo uma forma de filosofia e religião. Seus ideais primários eram promover uma síntese místico-racional, uma busca pela ordem, pela harmonia perfeita existente que poderia ser acessível ao homem (e à sociedade) desde que este se subordinasse a ela. Trata-se, portanto, de uma missão de caráter ético-espiritual, a tentativa de alcançar a "beleza universal" citada por Mondrian.

Essa harmonia, essa ordem perfeita e universal poderia ser alcançada, segundo os membros do De Stijl, com a obediência às leis que regem a produção artística, que previam uma arte não-figurativa pois, "como representação pura do espírito humano a arte expressar-se-á numa forma esteticamente purificada, vale dizer, abstrata" . Como tal, visando a expressão de um princípio universal, o Neoplasticismo bania o individualismo excessivo (presente na arte figurativa) e reduzia a pintura aos elementos constitutivos da linha, do espaço, da cor (segundo Theo Van Doesburg, "o quadrado é para nós o que a cruz era para os antigos cristãos"). Nas palavras do próprio Mondrian:

"Uma expressão individual não se torna uma expressão universal por meio da representação figurativa, que se baseia em nossa concepção do sentimento, seja clássica, romântica, religiosa ou surrealista."

A arte não-figurativa, forma encontrada para atingir a "expressão universal", não é, todavia, fruto do inconsciente, do Id Freudiano, de lembranças individuais e pré-natais. Esta forma de expressão artística é fruto da intuição pura, do pensamento puro, embora tanto Mondrian quanto Van Doesburg admitam que os estímulos do mundo exterior são indispensáveis, pois eles provocam o desejo de criação, o desejo de tornar concreto (através da obra de arte) aquilo que só podemos sentir de forma vaga e imprecisa, mas que é inerente à vida e subjacente à realidade visível.

Um paralelo pode ser traçado entre esse sentimento voltado para a essência, além da representação figurativa, e o pensamento artístico de Platão — em certa medida, o De Stijl corrobora o pensamento do filósofo grego acerca dos méritos da arte enquanto cópia do mundo físico ("cópia da cópia", segundo Platão), colocando o "mundo das idéias" (na visão do De Stijl, o princípio uno essencial harmônico) como prioritário.

É importante ressaltar que os participantes do De Stijl, em especial Piet Mondrian, não concebiam a arte abstrata como sendo antagônica ou oposta à natureza. Para os artistas, a arte abstrata opõe-se à natureza animal e primitiva do homem, uma natureza grosseira que não corresponde à verdadeira natureza humana, encontrada nas leis universais, na essência que os Neo-Plasticistas objetivavam alcançar.

De forma alternativa, a concepção do De Stijl como uma tentativa de atingir o mundo como "Coisa-em-si" também é justificável, embora uma ressalva importante tenha de ser feita — enquanto Schopenhauer caracteriza o mundo como "Coisa-em-si" como incognoscível e caótico, cuja única força motriz é a Vontade, os teóricos do Neoplasticisimo afirmavam que esse estado, a "Coisa-em-si", era dotado da mais perfeita harmonia e equilíbrio, podendo ser alcançado através de um processo de ‘purificação’.

Fonte: Wikipédia

terça-feira

Homem Vitruviano - Leonardo Da Vinci




O homem vitruviano (ou homem de Vitrúvio) é um conceito apresentado na obra Os dez livros da Arquitetura, escrita pelo arquiteto romano Marco VitrHomem Vitruviano - é um desenho famoso que acompanhava as notas que Leonardo da Vinci fez ao redor do ano 1490 num dos seus diários. Descreve uma figura masculina desnuda separadamente e simultaneamente em duas posições sobrepostas com os braços inscritos num círculo e num quadrado.1 A cabeça é calculada como sendo um oitavo da altura total. Às vezes, o desenho e o texto são chamados de Cânone das Proporções.

Examinando o desenho, pode ser notado que a combinação das posições dos braços e pernas formam quatro posturas diferentes. As posições com os braços em cruz e os pés são inscritas juntas no quadrado. Por outro lado, a posição superior dos braços e das pernas é inscrita no círculo. Isto ilustra o princípio que na mudança entre as duas posições, o centro aparente da figura parece se mover, mas de fato o umbigo da figura, que é o verdadeiro centro de gravidade, permanece imóvel.

O Homem Vitruviano é baseado numa famosa passagem do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio na sua série de dez livros intitulados de De Architectura, um tratado de arquitetura em que, no terceiro livro, ele descreve as proporções do corpo humano masculino:

  •  um palmo é o comprimento de quatro dedos
  • um pé é o comprimento de quatro palmos
  • um côvado é o comprimento de seis palmos
  • um passo são quatro côvados
  •  a altura de um homem é quatro côvados
  •  "erit eaque mensura ad manas pansas"
  •  o comprimento dos braços abertos de um homem (envergadura dos braços) é igual à sua altura
  •  a distância entre a linha de cabelo na testa e o fundo do queixo é um décimo da altura de um homem
  •  a distância entre o topo da cabeça e o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem
  •  a distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura  de um homem
  •  o comprimento máximo nos ombros é um quarto da altura de um homem
  •  a distância entre a o meio do peito e o topo da cabeça é um quarto da altura de um homem
  •  a distância entre o cotovelo e a ponta da mão é um quarto da altura de um homem
  •  a distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem
  •  o comprimento da mão é um décimo da altura de um homem
  •   a distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto
  •   a distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto
  •  o comprimento da orelha é um terço do da face
  •  o comprimento do pé é um sexto da altura

Vitrúvio já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas ficaram imperfeitas. Foi apenas com Leonardo que o encaixe saiu corretamente perfeito dentro dos padrões matemáticos esperados.O redescobrimento das proporções matemáticas do corpo humano no século XV por Leonardo e os outros é considerado uma das grandes realizações que conduzem ao Renascimento italiano.

O desenho também é considerado freqüentemente como um símbolo da simetria básica do corpo humano e, por extensão, para o universo como um todo. É interessante observar que a área total do círculo é idêntica à área total do quadrado (quadratura do círculo) e este desenho pode ser considerado um algoritmo matemático para calcular o valor do número irracional phi (aproximadamente 1,618).uvio Polião, do qual o conceito herda no nome. Tal conceito é considerado um cânone das proporções do corpo humano, segundo um determinado raciocínio matemático e baseando-se, em parte, na proporção áurea. Desta forma, o homem descrito por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. 

Originalmente, Vitrúvio apresentou o cânone tanto de forma textual (descrevendo cada proporção e suas relações) quanto através de desenhos. Porém, à medida que os documentos originais perdiam-se e a obra passava a ser copiada durante a Idade Média, a descrição gráfica se perdeu. Desta forma, com a redescoberta dos textos clássicos durante o Renascimento, uma série de artistas, arquitetos e tratadistas dispuseram-se a interpretar os textos vitruvianos a fim de produzir novas representações gráficas. Dentre elas, a mais famosa e (hoje) difundida é a de Leonardo da Vinci..