Este filme sobre o qual escrevo “A guerra dos botões” se encaixa nestes momentos. A história e o título podem até soar pueril. Nada mais do que as aventuras e desventuras, na Irlanda da década de 1950, de dois grupos rivais de crianças - os Ballys e os Carriks - que brigam por qualquer motivo e, em secretas reuniões, preparam-se para o confronto final, na busca do prêmio máximo: os botões das roupas de seus inimigos. Daí o motivo do título do filme. A batalha é iniciada, com táticas de dar inveja ao mais criativo dos generais, mas a medida que avança, as coisas vão ficando sérias.
Esta versão de 1994 foi a segunda refilmagem de La Guerre des Gosses (A Guerra dos Meninos), de 1936. Uma nova versão que ainda não assisti foi lançada em 2011. Quando fui convidado a ver o filme imaginei que seria como um filme infantil, com alguma moral e sentido. Mas é muito mais. Dirigido com inspiração, com uma belíssima fotografia, e com atores mirins carismáticos este filme é na verdade uma crítica as guerras, as traições, e as repressões que sofremos no dia a dia simbolizada aqui pela pressão paterna, policial, dos professores e dos amigos.
No transcorrer do filme compreendemos que em todos os nossos conflitos, não passamos de crianças que lutam desesperadamente por coisas no fundo insignificantes (botões) quando, na verdade muito mais felizes seriam se brincassem juntas. Em suma, não somos menos infantis que os “generais” que conduzem a guerra dos botões. Como em um belo poema somos levados pela história percebendo as analogias e símbolos em que a mensagem maior é o valor da amizade e dos momentos de alegria, que afinal devem ser mais valorizados que quaisquer disputas.
Bem realizado, emocionante e reflexivo, um filme marcante que pude assistir pelos idos de milnovencentosenoventaecincoouseis e que ainda figura agradavelmente em minhas memórias, sem dúvida, um trabalho no qual vale a pena cada minuto para assistir..


