A razão para isto é que o Radiohead incorpora raros atributos ao seu trabalho. Qualidade musical, ousadia criativa, visão artística e critica do mundo e empatia.
Seus discos são clássicos. Pablo Honey trazia a visceral "Creep", "Anyone can play guitar", "Pop is dead". Embora ainda cru, o som do Radiohead já apontava em 93 uma tendência que seria seguida anos mais tarde por bandas como Coldplay, Keane e influenciaria mesmo veteranos como o U2.
Em 93, a música do Radiohead se elevava sobre o som simplório do grunge e se colocava à parte da ingenuidade do chamado "britpop" ainda por nascer.
O ano de 95 trouxe "The Bends", a partir de então, para qualquer um mais atento, o Radiohead demonstrava um som muito mais elaborado do que seu próprio trabalho anterior e indo além da cena inglesa do momento (Oasis, Blur, Charlatans, Pulp e outros).
Clássicos como "High and dry", "Just" e "Fake plastic trees" vieram a luz e acompanhados de videoclips muito bem elaborados e intrigantes (Uma marca registrada do Radiohead). Destaque para "Just" que conta uma história genial que nos prende em seu desenvolvimento tanto quanto a música. Os shows eram arrebatadores. O Radiohead não era apenas uma banda de estúdio, seus músicos eram excelentes e faziam um show do mesmo nível. O carisma, a voz e a empatia de Thom Yorke se mostravam, como é até hoje, formidáveis.
O ano de 97 veio com a chegada de "OK, Computer!, considerado por muitos o mais importante disco de rock da década de 90. Elogiado pela crítica e público o disco trazia faixas como "Paranoid android", "No surprises" e "Karma Police". "OK, Computer" era um disco conceitual em que uma música se mesclava a outra criando uma atmosfera particular tão futurista quanto melancólica. Na época, apenas o "Spiritualized", se aproximava deste som, o que levou os apressados a criar um novo movimento o "Space Rock". Muitos caíram na tentação de compara-lo a outros discos históricos tais como "Ziggy Stardust and Diamond Dogs" e é claro "Sgt. Pepper and Lonely Hearts Club Band".
Os membros da banda nunca esconderam que, entre outras diversas influências, o quarteto de Liverpool também foi referencial. Mas, eu particurlamente, não vejo tanto a influência musical e sim uma semelhança na atitude das duas bandas de jamais se entregar ao lugar comum e de buscar uma inovação real.
Levando sua música a sério. Para os que gostam de coincidências uma interessante une os dois grupos. Os Beatles foram contratados pela Parlophone, uma subsidiária da EMI, ora , a mesma Parlophone contratou o Radiohead. Diante da veneração mundial, o Radiohead percebeu que o som que havia criado e marcado na história musical seria então, uma referência a ser copiada exaustivamente por várias outras bandas (o que de fato aconteceu), assim, a banda resolve mudar as regras do jogo.
Chega então, o enigmático "Kid A". Foi um processo criativo tortuoso conduzido por Yorke que vivia um misto de inspiração e crise criativa num mesmo momento. Yorke batalhou para criar um novo caminho e isto o levou a diversos atritos com o restante da banda que não conseguia entender os rumos tomados por seu líder e isto quase resultou na dissolução do grupo. Mas, enfim, na montagem final, as coisas se tornaram mais claras e com a aprovação de todos o trabalho seguiu adiante. "Kid A" desconstrói o som do Radiohead, poucas guitarras, poucas palavras, influências de jazz e eletrônica. Basicamente, uma trilha sonora futurista, um som ambiente voltado à experimentação. A crítica e público se dividiram, mas, convergiram para a mesma opinião, o Radiohead não se renderia facilmente ao mesmismo do mainstream das grandes bandas. Sua ousadia criativa, quase uma rebeldia, continuaria.
Na seqüência vieram "Ameniasic" e "Halt the thief". Neles a experimentação continua. Apesar disso a popularidade e as vendas do Radiohead sobem como nunca, apesar de seu som nem sempre ser bem compreendido.
Enfim, seu mais recente lançamento foi "In Rainbows" que trouxe uma inovação em suas vendas. O CD foi disponibilizado na Internet faixa por faixa e cabe ao público pagar a banda o valor que quisesse. Um verdadeiro desafio a todo o sistema musical dominado pelas gravadoras e um ato de coragem e ousadia ao se expor ao julgamento público ou simplesmente de oferecer a todos sua música pelo preço que pudessem pagar.
No trabalho do "In Rainbows", em si, o Radiohead concedeu um pequeno retorno às origens de seu som mais melodioso e menos experimental, mas se esta tendência irá continuar ou não somente a genial mente de Thom Yorke poderá responder.
E até lá, o pop e o rock aguardam os novos caminhos apontados por esta banda inventiva e sempre relevante.