Sempre me chamou a atenção o estilo particular de Watson Portela. Já vi seu traço em capas especiais para personagens americanos, histórias de humor para revistas dos trapalhões, tiras de humor e nas paralelas. Seu traço tem uma capacidade camaleônica de se adaptar talentosamente a cada linguagem.
Uma curiosidade interessante é que Watson chegou, em sua trajetória, a pintar capas de LPs. Nos anos 70 para o álbum Até a Amazônia? (1978) do grupo Quinteto Violado. Nestes tempos, Watson Portela trabalhava como um datilógrafo.
Em paralelas, Watson criava roteiros adultos, intensos e instigantes. Temas complexos se misturavam a toques entre o erotismo e o bizarro, humor negro e o simplesmente hilário. Por vezes, me parecia estar assistindo alguns capítulos de "Acredite se quiser" e "Além da imaginação".
Alguns dos conceitos das histórias ainda marcam minha memória. A sociedade do não-pensamento, a nova vinda de um messias, a alma penada do cangaceiro, os justiceiros futuristas, enfim diversos enredos surpreendentes.
Em uma dessas histórias, Portela tratou do preconceito de forma sensacional. Na trama, um garoto, afro, foi acusado injustamente de abusar e matar uma jovem no metrô, na verdade, a moça não estava morta e sim "travada" de tão bêbada e estava seminua porque estava vendendo o corpo por doses de bebida. Mas, sem se preocupar em saber a verdade uma multidão enlouquecida persegue o jovem para lincha-lo. A maneira como Watson encerra esta história é um tapa na cara na hipocrisia da sociedade que finge não ser racista ou não notar o racismo inerente em nossas menores atitudes subconscientes.
Aos que desconhecem o trabalho genial desse artista insano (no melhor sentido da palavra), não percam tempo e procurem por aí. Vale a pena!
Obras:
* Chet, inspirado em Tex (Chet era uma brincadeira com Tex ao contrário). Era escrita por seu irmão Wilde Portela.
* Paralelas
* Paralelas II
* Vôo Livre
* Spektro
* Pesadelo
* Também desenhou Velta
* Aventura & Ficção (Editora Abril)
* Jovem Radical (Editora Abril)/1988