Panacéia dos Amigos

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quinta-feira

Entrevista com o DUO SIQUEIRA LIMA

Retorno, uma vez mais, com a “Panacéia das Entrevistas”. E, para minha imensa honra e alegria, trago aos visitantes deste blog aquele que é considerado um dos melhores grupos violínisticos da A mérica Latina e do qual gosto muito : o DUO SIQUEIRA LIMA!

Após acumularem vários prêmios como solistas, os violonistas Cecilia Siqueira e Fernando Lima se uniram no ano de 2002 com a intenção de juntarem as vivências musicais e culturais latino-americanas, além da formação erudita que cada um obteve, para formarem um duo de violões. Desde o ínicio deste trabalho, o duo vem recebendo críticas excepcionais, conseguindo uma rápida projeção nacional e internacional. Contando aproximadamente com cinco anos de existência, eles gravaram dois discos, "Tudo ConCorda" e “Lado a Lado”, se apresentaram em quase todo Brasil e vem realizando concertos em paises como Uruguai, Argentina, Espanha, Itália, Inglaterra, Áustria, Suíça, Irlanda, Hungria e Rússia.No Brasil, eles têm realizado concertos em importantes séries e festivais, já tendo se apresentado em diversos estados e gravado em vários programas de rádio e TV.

Claramente se percebe que toda essa repercussão se deve a entrega verdadeira do Duo à sua paixão pela música. Algo que não se mesura ou analisa de maneira exata, porque se trata de sentimento. Um sentimento que eles transmitem intensa e sinceramente ao seu público em suas apresentações. Confiram os links no término desta entrevista para conhecer o trabalho notável destes músicos sinceros, generosos e brilhantes.

A PANACÉIA ESSENCIAL: Contem-nos como se deu o interesse de vocês pela música e, conseqüentemente pelo violão? Comentem a tradição musical da região aonde nasceram e, como se deu a educação musical de cada um.

Cecilia – O meu interesse pela música foi inevitável. Nasci numa família de músicos profissionais, avôs, tios e pais todos unidos pela mesma paixão. Meu pai e minha mãe são professores de violão e foi com eles que dei os meus primeiros passos na música aos meus cinco anos de idade. O violão é um instrumento muito arraigado na cultura do meu país (Uruguai), e sempre tivemos grandes intérpretes de destaque internacional.

Fernando – Sou do interior de Minas Gerais, desde que me entendo por gente tinha uma violinha de brinquedo em minhas mãos, meu avô e meu pai sempre me incentivaram a ser um violeiro, então cresci ouvindo este tipo de música, como “Tonico e Tinoco”, “Tião Carreiro e Pardinho” etc. E foi com seis anos de idade que fiz minha primeira apresentação em público tocando viola caipira. O violão eu vim me interessar aos treze anos, ouvindo um disco de Dilermando Reis, foi amor a primeira audição.

APE - Quais professores se destacaram durante o aprendizado individual de cada um e o que vocês consideram que aprenderam de mais importante com cada um deles?

Cecilia – Todos os professores foram importantes, mais dois deles tiveram especial destaque no meu aprendizado: o professor César Amaro, foi quem me influenciou a escolher esta profissão e me deu as bases fundamentais para realizar uma carreira musical. E o professor Henrique Pinto, quem me ensinou a imprimir uma personalidade no meu som e foi o principal incentivador do nosso duo.

Fernando – Tive três professores, todos foram muito importantes. Luiz Carlos da Silva foi meu primeiro professor, quem me iniciou no violão clássico, ele é um músico muito eclético, o que me influenciou muito nesse aspecto de trabalhar com vários estilos etc. Depois estudei com Marcelino Diogo Leite, no “Conservatório Estadual Marciliano Braga”, em Varginha-MG, que foi quem me apresentou Henrique Pinto, que viria ser mais tarde meu principal mestre e mentor.

APE – Falem-nos agora como se deu o encontro que fez convergir estes dois caminhos para que se formasse o Duo Siqueira Lima. E gostaríamos de saber ainda, um pouco sobre a trajetória do Duo, e sobre os CDs lançados.

Duo Siqueira Lima – Nosso primeiro encontro se deu em um concurso internacional de violões, realizado em Caxias do Sul – RG (2001). Foi um momento de grande felicidade para nós dois, pois tivemos a honra de dividir o primeiro prêmio deste concurso, o que deu um grande empurrão em nossas carreiras, que até então era de solistas. E daí surgiu uma paixão musical simultânea entre nós dois e no ano seguinte já começamos a fazer algo juntos, mas a princípio não era nada muito sério... Fazíamos participações um no concerto do outro etc., até que surgiu a oportunidade de gravarmos o primeiro disco. Daí para cá fomos nos dedicando cada vez mais para o duo até que se transformou em nossa atividade principal. Gravamos dois CDs, Tudo ConCorda e Lado a Lado e completamos este ano dez turnês pela Europa, onde percorremos Espanha, Itália, Áustria, Suíça, França, Inglaterra, Irlanda, Hungria, Polônia, Belarus, Ucrânia e Rússia.

APE – O violão tem a característica natural de situar-se na tênue linha entre o popular e o clássico. Isto exige um preparo diferenciado do músico que se dedica apenas a um destes caminhos? O duo prefere trilhar esta fronteira sutil, ou situa-se mais em direção a um destes pólos

Duo Siqueira Lima - Acreditamos que o preparo diferenciado que pode haver em cada um destes caminhos é a vivência musical. Por exemplo, é difícil você ouvir um russo tocando bem música brasileira, porque não basta apenas ler bem partitura, tem algo a mais ali que só quem ouviu nossos ritmos desde criança pode captar, ou alguém que se aprofundou um bom tempo neste estilo. Nós temos formação erudita, mas as nossas raízes musicais são populares, crescemos ouvindo o nosso folclore e as nossas primeiras apresentações em público foram neste gênero, pensamos que é por isto que o duo transita com naturalidade entre o clássico e o popular. Nós trabalhado com a mesma intensidade estes dois caminhos e muitas vezes estamos na fronteira entre um e outro.

APE – Quais violões vocês tem usado ultimamente em suas apresentações? Há alguma característica que agrada mais a vocês?

Duo Siqueira Lima - Os nossos violões são fabricados pelo luthier Sergio Abreu, o principal construtor de violões do país. O que mais nos chamou a atenção neste instrumento é a profundidade sonora que possui, aliada a uma perfeita sustentação das notas, coisas que são muito raras de se encontrar nos instrumentos de corda. Particularmente os nossos violões estão com mais de 20 anos de construção, o que destaca ainda mais as qualidades que acabamos de descrever.

APEFalemos a respeito do repertório que estão tocando atualmente. Algum comentário especial sobre alguma obra?

Duo Siqueira Lima - Atualmente estamos apresentando nos concertos um repertorio variado, começando com compositores do período barroco como D. Scarlatti e J. S. Bach e compositores do Século XX, como Joaquin Rodrigo e Astor Piazzolla. Na segunda parte entramos com coisas mais originais, tentamos trazer para o violão obras e compositores que ainda não foram explorados neste instrumento, como Dominguinhos, João Bosco, Gilson Peranzzetta, entre outros, que é o que mais tem caracterizado nosso trabalho. Um bom exemplo é a “Fuga pro Nordeste” de Dominguinhos, um “arrasta pé” que dificilmente se imaginaria no repertório violonístico, e que se tornou a peça mais comentada do nosso último disco.

APE – Como se dá a rotina de estudos e trabalho no dia a dia do Duo Siqueira Lima? Imagino que são muitos ensaios, ainda me impressiona a apresentação de vocês tocando a canção "Tico-tico no fubá" a quatro mãos, foi auspicioso. Penso no grau de dificuldade e o tempo de ensaio que foi necessário.

Duo Siqueira Lima - Nós trabalhamos o dia todo. De manhã geralmente fazemos um estudo mais minucioso das obras mais frescas, repetindo cada trecho necessário. À tarde damos uma passada no repertório, muitas das vezes gravamos os nossos ensaios para ter uma noção maior do que realmente está soando. Mas não temos horários fixos, só paramos quando alcançamos o nosso objetivo. Agora, isto muda completamente quando estamos em turnê, aí é só aquela passada e palco.

Os ensaios para ‘Tico-Tico no fubá’, que tocamos a quatro mãos, foram especiais porque tivemos que adquirir uma nova concepção de precisão. Requer uma sincronia infalível, e como se não bastasse, temos que deixar a impressão de que é fácil, uma brincadeira, rs.

APE – O público popular, a massa populacional propriamente dita, encontra sérias dificuldades de ter acesso a música erudita. O cenário da música erudita no país está muito aquém em termos da merecida divulgação e reconhecimento público. Como músicos profissionais e talentosos envoltos nesse cenário, qual é a análise que fazem e que perspectivas vislumbram para o futuro?

Duo Siqueira Lima - Realmente a musica que tem uma elaboração maior, seja clássica ou popular, fica fora dos meios de comunicação massivos o que não da à oportunidade das pessoas nem se quer saber o que é uma música de qualidade. Mesmo assim, no Brasil temos meios que ainda mantém estes valores e fazem a difícil arte da difusão cultural.

O que vislumbramos é mostrar nosso trabalho para todo Brasil. Isto não é uma missão muito fácil, atualmente temos tido mais espaço no exterior, esperamos inverter este fato.

APE- Enfim, gostaria de agradecer profundamente a participação do Duo Siqueira Lima, cujo trabalho sou um fã confesso, e pedir que deixem uma mensagem aos leitores da Panacéia Essencial e algum conselho, em especial, aos que pretendem um dia ser tornarem bons músicos.

Duo Siqueira Lima Bom, a mensagem e o conselho é que nunca sejam conformados, como músicos e como ouvintes. É sempre necessário buscar conhecer coisas novas no universo musical, e não se contentar somente com o que vemos e ouvimos nos principais canais de TV e rádio do país. E para quem quer ser um bom músico é importante se dedicar ao máximo, porque toda arte exige dedicação. E seguir os passos de “gigantes” de nossa cultura, pessoas que se doaram à música, chegando ao topo da pirâmide, deixando uma marca indelével no universo musical do nosso país e no mundo.

Também queremos agradecer a “A PANACÉIA ESSENCIAL” pela entrevista, foi grande prazer para nós falar sobre nosso trabalho a todos seus visitantes, aos quais queremos deixar um grande beijo. Muito Obrigado

Cecilia Siqueira e Fernando Lima

sexta-feira

Entrevista com ALEX SUNDER

É com grande satisfação que publicamos mais uma PANACÉIA DAS ENTREVISTAS . Desta vez, entrevistamos o artista plástico, e desenhista de HQ´s, MÁRCIO ALEX SUNDER.

ALEX SUNDER começou ilustrando matérias de RPG para revistas e livros de RPG nacionais, como Dragon Magazine, Dragão Brasil e Daemon. Publicou através da Trama Editorial a mini-série GODLESS (Ver matéria). Em 1999, através da Chaos! Comics desenhou a mini-série "The Misfits" e em 2004 a mini-série "Orion The Hunter" para a editora Blue Water. Atualmente, ALEX SUNDER enveredou para as Artes Plásticas, deixando os quadrinhos de lado para produzir obras com um fundo mais artístico.

A PANACÉIA ESSENCIAL - Falemos do projeto "GODLESS" (HQ nacional em série, lançada pela Editora Trama, produzida por Alex Sunder,William Shibuya, Alexandre Jubran), lembro-me que na época de seu lançamento (o qual cobri através do encarte cultural "MANIA") havia uma certa atmosfera de entusiasmo pelo momento que estávamos passando com as editoras investindo em HQs nacionais, num alto padrão de qualidade. Passado o tempo, observando este período, qual é a sua avaliação crítica?

Sim, o entusiasmo era enorme. Não havia até então nenhuma produção 100% brasileira feita nos moldes do que estava sendo produzido lá fora. Não somente uma mini-série, em mesmo formato, mas o roteiro, desenho e cor 100% nacionais. A cor digital ainda era novidade numa publicação nacional de quadrinhos. Coisa que o Jubran fez muito bem. Ainda acho que o melhor da Godless foi a colorização do Alexandre Jubran.

Naquela época, eu era um assíduo leitor das revistas da Editora Image. Comprava praticamente todos os seus títulos (Entre meus prediletos, Pitt, Wild CATS, Darkness, Witchblade, Cyber Force, Wet Works, Gen 13, etc). A idéia era produzir uma revista nos mesmos moldes, inclusive o que a Image tinha de pior (risos), hoje tenho essa consciência, mas na época eu ainda era muito ingênuo. Esse alto padrão de qualidade que voce fala, hoje vejo como "nem tão alto assim", pra ser sincero, nem um pouco alto. Penso que, naquela época, poucos títulos da Image eram verdadeiramente bons. A maioria dos títulos tinha uma história muito, muito, muito fraca, e serviam de pretexto para que os desenhistas desenhassem somente o que gostavam. Acho que esse foi o preço que os fundadores da Image pagaram, quando deixaram as grandes editoras para fundar a Image, uma editora fundada por um monte de desenhistas muito jovens. Claro que, quando o desenhista é um fenômeno, como o caso de Jim Lee, pelo menos a gente se distrai com a arte (risos), que é deslumbrante. Mas no caso da Godless, minha arte ainda era muito imatura, não sobrava muita coisa... No fim das contas, apesar dos pesares, e de todos os defeitos da nossa produção, acho que serviu como impulso pra muita gente ver e pensar "se esses caras podem fazer um gibi, eu também posso". E isso de fato aconteceu. Até com desenhistas que se sentiram tão confidentes que não chegaram nem a publicar primeiro no Brasil, foram estrear direto nos EUA.Muito pouco depois da Godless e da UFO Team veio uma avalanche de revistas nacionais feitas por pequenas editoras. Até a Abril resolveu apostar (e roubar meu colorista) fazendo a Spirit of Amazon. Isso prova que, realmente, a Godless e a U.F.O Team fizeram crias, apesar de qualquer coisa. Ninguém pode negar isso, e me deixa muito feliz.

Falemos agora sobre interferência editorial, sinergia entre argumento e arte, os bastidores de uma HQ. Acompanhando Godless, desde o ínicio, sei que houveram contratempos em relação ao roteiro, atrasos entre as edições, e uma clara diferença no seu traço, que sempre apreciei, nítidamente nas duas últimas edições. Esclareça aos leitores da época e de hoje, o que aconteceu.

O Marcelo Cassaro nos dava liberdade total. Ele revisava as páginas e lia o roteiro inicial de cada sessão, mas, era incrivelmente flexível. Foi o melhor editor que tive até hoje! Só tenho a agradecer, pois, ele foi o primeiro a acreditar na minha arte. Eu pedi a meu melhor amigo naquela época, o William Shibuya , pra me ajudar a escrever roteiro, sendo que ele sempre fora mais culto e mais letrado do que eu. Shibuya escreveu tudo sozinho, e eu mudava pouca coisa no começo, alguns diálogos , por exemplo. Mais para o fim da mini-série, quando me enrolei com os prazos, acabamos mudando bastante coisa, e o roteiro de Shibuya foi usado somente como base. Hoje, acho que deveria ter seguido a risca o roteiro dele, que sempre fora um melhor Storyteller do que eu.

Tivemos pouco atraso entre as duas primeiras edições, e um grande atraso para as duas últimas. Dá pra notar que a edição três o desenho é um pouco melhor trabalhado...o caso é que perdi mais tempo com essa edição do que com as outras. Não acho que meu traço tenha mudado muito. Acho que foram necessárias muitas edições para que se nota-se uma forte diferença no meu desenho. No caso de Godless, penso existir muita diferença entre os quadros que dediquei mais tempo e aqueles que "chutei o pau" devido ao prazo ficar apertado. E isso acontecia de forma estranha, pois, às vezes, sabia que o prazo iria estourar e perdia tempo em certos quadros que não precisava. Às vezes, tinha muito tempo e corria com o quadro. Acho que tudo talvez fosse o caso de alguma cena me dar mais vontade de desenhar ou não. Era uma confusão (risos). Não tinha experiência alguma com a produção de uma revista mensal...

O Cassaro foi muito paciente conosco. A terceira edição é minha predileta (até onde me lembro, mas posso estar confundindo as edições), apesar da capa ser um desastre. A melhor capa pra mim é a da primeira edição.

APE – Baseado em sua experiência neste trabalho (Godless) e na sua carreira em HQ´s, diga-nos quais são os maiores desafios para se trabalhar nesta indústria no Brasil? Aproveitando a linha de raciocínio gostaria que você indicasse àqueles que estão agora fazendo seus desenhos em casa, sem as manhas e artimanhas do meio que pretendem realizar carreira, qual é o "caminho das pedras".

Eu realmente acredito que a dificuldade para se trabalhar no Brasil seja a mesma de qualquer parte do mundo. Se você nunca se esforçou pra melhorar seu traço, se não treina e desenvolve seu desenho, nenhuma editora no mundo vai te contratar. As pessoas reclamam que quadrinhos no Brasil não vão pra frente, sempre reclamaram disso, e tenho certeza que irão continuar reclamando, mas a grande verdade é que a cultura brasileira nunca abraçou os quadrinhos. Tanto é que o Mangá, muito mais recente, em pouco tempo, alcançou um prestígio muito maior do que os quadrinhos de super heróis jamais tiveram. E pode ter certeza de que vai ser passageiro. Os americanos, europeus e japoneses lêem mais do que a gente, e gostam mais de fantasia do que nós. Quantos escritores de ficção científica brasileiros você conhece?

O “caminho das pedras” é o mesmo pra qualquer profissão, pois, desenhar quadrinhos não tem nada de glamouroso, é puro sangue e suor! O cara tem que se matar pra fazer uma página por dia, às vezes, mais do que uma página por dia, que seria o ideal. As editoras são cruéis com os prazos e, se você atrasa como o pessoal diz: "a fila anda". O importante é ter isso em mente: Você não vai desenhar só quando estiver com vontade, vai ter que desenhar o tempo todo, e correr pra entregar no prazo. Se você se sentir confortável com isso, é só continuar desenhando, sem parar, montando páginas seqüenciais e enviar cópias de seus testes para os editores. Se o cara desenha o dia inteiro, é uma questão de tempo até que ele seja contratado. Hoje a coisa é ainda mais fácil com a Internet. Dá pra enviar seus trabalhos pra editoras no mundo inteiro, se seu trabalho for bom, não é possível que ninguém te contrate. Mas, é sempre importante lembrar para não tentar começar batendo logo na porta dos gigantes. Às vezes, a pessoa faz isso, recebe um não, e desiste de um sonho. Existem centenas de pequenas editoras, elas são sempre excelentes pontos de partida para a construção de uma carreira sólida.

APE – Recordo-me que, pelos idos de 92 ( 93?) no USPCON (que foi, se não me engano, o 1º evento de RPG realizado em São Paulo, e lá estava eu vendo a engrenagem começar a se mover), quando o conheci, pude analisar um desenho que você estava finalizando e me impressionou muito a qualidade e estilo do trabalho (há alguns anos-luz do que fazia), Quais foram suas principais influências artísticas em HQ´s? Há alguém que você destaque hoje?

Não me lembro ao certo que desenho era esse! Para mim, tudo começou com os desenhos animados da Marvel que traziam o traço de Jack Kirby. Até hoje, os personagens desses desenhos são meus personagens prediletos (Namor, Thor, Capitão América, Homem de Ferro e Hulk). Jack Kirby , para mim, foi o maior de todos os tempos. Outras influências foram: John Byrne, Jim Lee, Scott Campbell e outros. Faz muito tempo que não compro um gibi, estou bem defasado, mas, há alguns anos atrás, vi um gibi do Leinil Francis Yu, e fiquei muito, muito impressionado. Outro artista "novo" que gosto demais é o Travis Charest.

APE – Fale-nos de alguns profissionais de HQ´s que conheceu. Algum deles forneceu a você alguma dica que marca o seu trabalho até hoje?

Muitos. Eduardo Barreto me ensinou a virar o desenho contra a luz para ver as distorções anatômicas. O Jim Lee quando veio ao Rio também ensinou não só a mim, mas a muitas pessoas uma porção de coisas legais. Conheci nos EUA o Boris Vallejo, Julie Bell e o Bernie Wrightson, todos eles fizeram observações valiosas. Os artistas paulistanos, quase todos eles, são meus amigos, foram os maiores responsáveis pela formação do meu traço. A verdade é que grandes desenhistas sempre tem algo a ensinar, se você conhecer algum, com certeza irá aprender algo.

APE – Cada vez mais o "mangá" se torna uma influência de estilo no mercado americano e, no Brasil, há uma parcela enorme de jovens desenhistas desenhando esse estilo. Comente esse cenário. Alguns desenhistas acreditam que o estilo "mangá" prejudica a formação e lapidação de artes realmente originais. Você concorda?

Eu acredito que, quase toda forma de arte é algo maravilhoso. Claro que sempre existirá uma questão de gosto estritamente pessoal. Sempre assisti Animes, isso muito antes do "big boom" do mangá. Tenho todas as edições de Akira, aliás, Otomo (Katsuhiro Otomo, criador da série Akira) é um dos meus artistas prediletos, mas, sinceramente, o mangá é um estilo que nunca me emocionou como os quadrinhos americanos. Principalmente esse estilão mais comercial que se vê por aí. Eu concordo que a influência desse traço oriental seja prejudicial para a formação de novos talentos, mas, acho que o que prejudica são as influências de mangás de péssima qualidade, que geralmente são aqueles que atingem de frente o povão.

Outra coisa que me incomoda, também, é que a maioria dos títulos tem a mesma cara, deixando tudo muito parecido... Gostaria muito que os quadrinhos americanos influenciassem a garotada da maneira que o mangá o faz hoje. Uma inversão de papéis, para meu gosto, seria bem mais interessante. Mas, como dizem, minha geração já passou, é hora de dar caminho para outras visões.

APE – Como sabemos, a "arte seqüencial" não é feita apenas de ilustrações (ou não deveria), o fato é que, em geral, as HQ´s carecem de bons roteiros e argumentos. Quais elementos, você julga, são fundamentais para uma boa história de HQ´s (Visto que cada área como literatura, cinema, teatro, tem a sua própria estrutura e método)?

Sendo muito sincero, nunca fui muito exigente com os roteiros da histórias que lia. Talvez, por ser tão apaixonado pela arte, era sempre ela que vinha em primeiro lugar. Tanto é que nunca consegui ler "grandes roteiros" com desenhos "mais ou menos". Sempre me diverti com os gibis, contato que a arte fosse legal. Acho que, de certa forma, isso até me fez ler coisas que outros leitores nunca leriam, que até pudessem gostar, mas nunca deram essa chance. Por isso, acho que nesse aspecto (arte) eu poderia opinar. Acho que todo desenhista, arte finalista, letrista e colorista devem possuir influências, mas nunca repetir uma fórmula. É necessário encontrar seu próprio caminho, algo nada fácil, mas uma vez encontrado, é o caminho da mina. Goya dizia pra sua filha, aspirante das artes: "Mesmo que seu trabalho seja uma porcaria, faça a SUA porcaria". Existem muitas histórias no mercado que seguem um "padrão", e uma vez que o leitor identifica esse padrão, sabe que aquilo é uma fórmula, e não tem alma nenhuma. É bonito ver que a pessoa sabe escrever, sabe a fórmula e a aplica com maestria, mas não é pessoal, não tem emoção. Siga seu próprio caminho.

APE – Quais fatores externos podem determinar se o(a) garoto(a), brasileiro(a), que sonha escrever e desenhar seus personagens favoritos irá realizar seu objetivo? Na sua perspectiva, os mercados estrangeiros podem se render ao talento, propriamente dito(já aconteceu com alguns de nossos artistas), ou é difícil superar o preconceito com artistas "tupiniquins" (em maior escala) ? Qual é a chance, em todo o caso, de criarmos um forte mercado alternativo ao americano tais como o europeu e o japonês?

Artistas como Ivan Reis provam que isso não existe. Ele é um dos astros principais da DC hoje e, inclusive, pode ESCOLHER o título que queria desenhar. Muita gente deve pensar: “Pôxa, mas é um caso isolado”! Sim, é um caso isolado, por que não há quase nenhum outro artista brasileiro que tenha se dedicado e aprendido a ser tão disciplinado e metódico como Ivan Reis, e é essa determinação que transformou o traço dele.

Se todos tivessem a mesma determinação e disciplina, teríamos mais brasileiros na situação do Ivan, um mestre que não deve nada aos gringos. Acho que a chance de haver um mercado independente ou alternativo brasileiro é muito pequena. Os fatores que influenciam para que isso aconteça são muitos, e o maior problema, ao meu ver, é a falta de interesse que o brasileiro tem pela leitura, e aqueles que gostam de ler, a falta de interesse pelos quadrinhos. É impossível crescer se só vendemos os títulos para os mesmos nerds de sempre (me inclua na lista).

APE – Falemos do futuro. Numa auto – análise de sua trajetória na indústria das HQ´s e fora dela, quais são suas perspectivas e objetivos? Em que sentido você pressente e planeja a evolução de sua arte?

Desisti de desenhar quadrinhos ha quatro anos atrás, pois, comecei a pintar e a me interessar por cor, algo que nunca havia feito. Cheguei a conclusão que a vida numa prancheta, tentando terminar, freneticamente, uma página por dia não era pra mim. Não tenho paciência, velocidade e os desenhos acabam ficando grotescos, quando isso acontece, não gosto do meu trabalho, e aí não vale mais a pena.

Depois de anos parado, achei o máximo poder fazer uma pintura numa tela, pois você pode se concentrar em somente um desenho durante dias, ou meses. Retomei meus estudos e atualmente continuo estudando para terminar minha graduação em Artes Plásticas. Estou montando um estúdio que funcionara, também, como escola de pintura figurativa. Tenho ainda me interessado pelo estudo e produção de materiais artísticos históricos, e procuro recriar os materiais usados na pintura européia da idade média. Basicamente, é isso! Estou envolvido com toda essa pesquisa histórica da pintura. Pra onde isso vai, eu realmente, não posso afirmar, mas tem sido um imenso prazer.

APE – Enfim, gostaria de agradecer por esta entrevista, desejando a melhor sorte, e pedindo seu comentário final aos visitantes da PANACÉIA ESSENCIAL, entre os quais muitos fãs de HQ´s e aspirantes a futuros profissionais da área.

Agradeço a Panacéia Essencial, continuarei a visitar para ler as matérias! Para os futuros profissionais: Não tentem somente ser a próxima estrela dos quadrinhos, desenhem unicamente pelo prazer de desenhar e vocês chegarão lá!

"Choose only one master.. Nature."(Rembrandt Van Rijn

"Have no fear of perfection, you'll never reach it. " (Salvador Dalí)

Abraço a todos!!!

Alex Sunder

Entrevista com ROBERTO SEIXAS

Um verdadeiro artista, acredito, sente-se imbuído da missão de comunicar sua arte. E esta missão é encarada com humildade em toda a sua trajetória, pois sabe quem é e a sua importância, sem necessidade de se sentir superior ou jactar superioridade o que, na verdade, esconde insegurança. É por isso, que tenho em alta conta meu amigo ROBERTO SEIXAS, um artista que faz um trabalho sensacional como cover de RAUL SEIXAS e também através de sua própria arte, e não obstante é um artista acessível que nunca deixa de se comunicar com seu público e em sua humildade – marca do verdadeiro artista – sempre trata todos os fãs como amigos e que honra a todos nós abrindo a “ PANACÉIA DAS ENTREVISTAS”. Com vocês, ROBERTO SEIXAS

A PANACÉIA ESSENCIAL - Falemos de processo artístico, ideologia e composição. No que sua obra artística tem influência de Raul Seixas e em qual característica se diferencia dela?

ROBERTO SEIXAS: Bem, em termos de IDEOLOGIA, em tudo, ok. Mas, a minha música foi classificada como ROCK RURAL AMERICANO, talvez pode ser a diferença, mas, são os fãs que determinam isto, entendeu? São eles que irão determinar qual a linha, porque, para mim, é uma coisa a partir do momento que você grava uma música ou um CD ele passa a ser PÚBLICO e não seu, entendeu? Mas, penso que as demais respostas estão na pergunta abaixo, ok?

APE - Como todo artista, você possui influências das informações que recebe e processa em arte segundo sua ótica, dito isto, quais são, além de Raul, as outras influências que fazem parte do trabalho do Roberto?

RS: Bem, acredito eu que, como todo artista, buscamos na música as nossas informações para criarmos, compor, ou seja, ouço de tudo entendeu? Mas, as minhas influências musicais são: BUDDY GUY (meu ídolo maior na música, bluesman); JOHN FOGERTY (ex-Creedence ); ELVIS ( como intérprete e performance no palco ) etc. Agora, no Brasil que tanto amo, tenho o meu amigo BELCHIOR ( pra caramba, viu? ); ZÉ GERALDO, DENY&DINO(aonde em 75 quis formar uma dupla cover deles, é mole, lembra-se de CORUJA!!!), mas, cresci ouvindo ROBERTO CARLOS, ERASMO CARLOS ( este é Rocker puro ) entre outros amigos, tipo PAULÃO ( banda “AS VELHAS VIRGENS” o qual dividiu o vocal em uma música minha chamada "Mr. Boom da canção" ), meu brother Johnny Boy ( o qual tive o privilégio e prazer de grava-lo em meu último CD ); enfim, vários amigos músicos que muito me influenciaram, ok? Bem, além do meu GRANDE IRMÃO, MESTRE ESPIRITUAL E IDEOLÓGICO RAUL SEIXAS.

APE - Fale-nos sobre seu último trabalho e o que pretende transmitir através dele.

RS: Pois é, como falei, quando criamos algo, quando compomos um CD, esperamos que ele seja bem aceito pelo público, que aquilo que escrevemos seja compreendido, entendeu? Por exemplo: Na música “MR BOOM DA CANÇÃO” (ouvi-la no meu www.myspace.com/robertoseixas ) aonde tenho o prazer e privilégio de dividir o vocal desta música com meu brother PAULÃO ( banda “AS VELHAS VIRGENS” ) é um pouco de tudo aquilo que estamos atravessando no cenário musical, ou seja, caraca, você perde espaço para uma coisa chamada CRÉUU entre outras bicho, porra, tantas bandas boas por aí e que não tem espaço assim como eu de mostrar uma boa música, cara, é triste ver uma merda desta tocando em todo lugar, e tem gente que contrata, entendeu? Como diz Raulzito:" FALTA DE CULTURA PRA CUSPIR NA ESTRUTURA "

APE - Seu show é muito intenso, bastante emocional para os fãs de Raul Seixas. Para você, em cima do palco, qual é o sentimento? Existe alguma canção que te provoca a catarse, o ápice, tipo: "Atingi o meu objetivo, o público está na sintonia!"?

RS: Brother, quando estou em cima do palco, não procuro imitar Raulzito como tantos outros por ai, penso que o público está carente de um bom show, de um ótimo espetáculo, eu sou um artista, procuro cantar, claro, além de Raulzito, algumas coisas diferentes em meus shows, como te falei eu tenho ELVIS como um grande intérprete e postura de palco incrível, entendeu? Tenho num Buddy Guy uma interpretação fantástica e carismática com o público, então, procuro UNIR ESSES DOIS em cima dos palcos e passar para o público carente de espetáculo, entendeu, não sou um artista estátuas boys, penso que é isto que me diferenciou dos demais. Porém, quando interpreto AVE MARIA DA RUA ( de Raulzito ) acredito que aí sim, claro, quando consigo canta-la bem, pois, é muito difícil interpretá-la, entendeu, isso lá pela quinta música do show, aí sim, sinto que de fato atingi o meu objetivo junto ao público, é uma sintonia só.

APE - Você conheceu Raul? Nos transmita sua impressão pessoal dele. Fico curioso em saber se ele era, de fato, alguém que valorizava os fãs, as pessoas em geral, ou se não, se era arrogante nesse sentido.

RS : Brother, infelizmente não conheci Raulzito de perto, não que isto não fosse possível, pois, na época em que ainda vivo, o Sylvio Passos ( pres. do Raul Rock Club ) quis me levar várias vezes até a casa de Raulzito, mas preferi que não, entendeu, ( algo pessoal ) mesmo sabendo depois que Raulzito aprovava meu trabalho como único sósia dele, entendeu, e também sabedor que ele ( Raulzito ) queira subir no palco comigo para saber o que os fãs iriam achar, entendeu, penso que devido a tudo isto sobre Raulzito gostar de Roberto Seixas, é que a família em 1991 me deu uma AUTORIZAÇÃO E RECONHECEU EM CARTÓRIO O MEU SOBRENOME SEIXAS. Quanto aos fãs, na verdade Raulzito amava e muito,entendeu, porém posso te garantir que naquela época Raulzito era mais povão, entendeu, tipo parar num boteco qualquer, sentar e ficar tomando umas e outras como mais simples possível. Ele dividia, de fato, que tinha, entendeu, sempre foi e sempre será muito humano esse MOLEQUE MARAVILHOSO chamado RAUL SEIXAS!

APE - Seria interessante saber de você, sua opinião sobre Paulo Coelho. O que você pensa dele?

RS: Bem, penso o seguinte: É muito fácil você tecer criticas a uma pessoa sem conhece-la de perto, entendeu, penso que os mais íntimos TIPO RAUL SEIXAS e alguns que, de fato, conviveram com ele p dia a dia é que poderiam falar algo, tá certo? Porque todos nós temos os nossos defeitos e acertos, PAULO COELHO também tem os deles assim como tenho os meus,mas, não posso falar algo contra ele, sem conhecê-lo de perto, ok, se ele está aí fazendo hoje tudo isto, é porque tem seus méritos, tá certo? Outro exemplo: MARCELO NOVA que também é criticado, ok, mas por quê? Se a maioria das parcerias tem seus prós e contra!!! Aliás, o próprio Raulzito já disse isto em sua musica: "É sempre mais fácil achar que a culpa é dos outros, evita um aperto de mão de um possível aliado"( na música “Por quem os sinos dobram” ).

APE - Gostaria de agradecer, e muito, por esta entrevista ao caro amigo Roberto Seixas! E, pedir que deixe uma mensagem aos visitantes da Panacéia Essencial.

RS: Olha,sou eu quem agradece,viu, é sempre um prazer poder falar um pouco de ROBERTO SEIXAS, deixo aqui um grande abraço a minha querida IBIÚNA, tá certo, que sempre me recebeu bem e aonde tenho muitos amigos. Mas, ao deixar esta mensagem a seu pedido, quero mais uma vez me utilizar de Raul, porque penso que esta música diz tudo sobre esta entrevista também ( “Por quem os sinos dobram” ):

"NUNCA SE VENCE UMA GUERRA LUTANDO SOZINHO, VOCÊ SABE QUE A GENTE PRECISA ENTRAR EM CONTATO"

Porém, uma frase da Sociedade Alternativa para você e a todos que assim crer:

SUCESSO É A SUA PROVA, então que assim seja!

ROBERTO SEIXAS