Os deuses começaram a organizar a Terra, logo depois da separação da Terra,
do Céu e do Mar. Organizaram os rios e lagos, levantaram montanhas,
escavaram vales, distribuíram fontes, bosques, campos férteis, planícies
áridas.
Com o espaço organizado, resolveram habitar a terra com seres vivos. Zeus,
Pai dos deuses e da Humanidade, pediu à Prometeu e a seu irmão Epimeteu que
criassem a Humanidade.
Epimeteu, cujo nome significa reflexão tardia", era um desmiolado que seguia
seus primeiros impulsos e depois mudava de idéia. Antes de criar o homem,
concedeu aos animais todos os melhores dons: força, rapidez, coragem,
astúcia, pêlos e penas, asas e conchas. Desse modo, não restou nada para os
homens, nada para protegê-los, nada que lhes permitisse equipar-se aos
animais irracionais.
Tarde demais, Epimeteu arrependeu-se e pediu auxílio ao irmão Prometeu, cujo
nome significa "prudência".
Prometeu pensou, pensou muito em como tornar a humanidade superior. Resolveu
então dar ao homem uma forma física mais nobre e lhe deu a posição ereta,
próprias dos deuses e para proteção, deu o fogo que roubou do Sol com uma
tocha. Abateu um boi e colocou dentro da pele as partes melhores da carne,
dispondo por cima de ambas, como disfarce, as vísceras do animal. Do outro
lado, arrumou todos os ossos com muito cuidado, recobrindo-os com toucinho
reluzente. Em seguida, pediu a Zeus que escolhesse um deles. Zeus escolheu a
parte do toucinho, mas ficou furioso ao ver os ossos habilmente dispostos
por baixo. Assim, os humanos ficaram com a melhor parte dos animais, e
apenas os ossos e a gordura eram queimados nos altares para os deuses.
As mulheres ainda não existiam. Zeus ficou com tanto rancor da preocupação
de Prometeu com a humanidade e decidiu se vingar dos humanos e de Prometeu.
Fez então um grande mal para os homens, criando algo de muito doce e
encantador para os olhos, que o aspecto de uma jovem tímida e a quem todos
os deuses concederam dons - vestes prateadas, um véu com bordados,
reluzentes grinaldas de flores e uma coroa de ouro. Irradiava uma beleza e
esplendor inigualável. Seu nome era Pandora, que significa "a dádiva de
todos". Zeus fez com que todos a vissem, e não havia homem ou deus que não
deixasse maravilhar. É dela, a primeira mulher, que descende toda a raça das
mulheres. Os deuses presentearam-na com uma caixa na qual cada um deles
havia colocado algo de nocivo, dizendo que jamais a abrisse. Então
enviaram-na para junto de Epimeteu, que, apesar de advertido por Prometeu no
sentido de não aceitar nada da parte de Zeus, acolheu-a de bom grado.
Pandora, como todas as mulheres, tinha uma curiosidade irrefreável, e tinha
de saber o que se escondia dentro da caixa. Um dia, ergueu a tampa, e dali
brotaram pragas inumeráveis, tristeza e males para a humanidade.
Aterrorizada, Pandora tentou fechar a caixa, mas já era tarde demais. Havia
ali, porém, uma coisa boa - a Esperança. Era esse o único bem que se
encontrava entre os incontáveis males, um bem que até hoje continua sendo o
único conforto da humanidade em momentos difíceis.
Quando Zeus já havia castigado a humanidade, voltou sua atenção ao criador.
Passou por cima de sua dívida de gratidão para com Prometeu, que o ajudara a
vencer os outros Titãs. Fez com que seus criados, a Força e a Violência,
pegassem Prometeu e o levassem para o Cáucaso, onde o prenderam:
“Estarás para sempre condenado a esta intolerável prisão”,
E não nasceu ainda aquele que virá te libertar.
Eis aí a recompensa pelo teu amor pela humanidade.
Tu, que és um deus, não temeste a ira do Deus,
E concedeste aos mortais honras que lhes são vedadas.
Portanto, terás de ser o guardião deste sombrio rochedo,
E o farás sem descanso, sem dormir, eternamente.
Tua fala serão gemidos, tuas palavras nada mais que lamentos”
Zeus queria também que ele revelasse um segredo de enorme importância para o
senhor do Olimpo, pois sabia que o Destino, que determina todas as coisas,
havia decretado que um de seus filhos viria um dia a destroná-lo e a
expulsar os deuses do Olimpo. Prometeu era o único, a saber, quem seria a
mãe de tal filho, e, quando já estava preso à rocha e mergulhado na agonia,
Zeus enviou-lhe seu mensageiro, Hermes, com a finalidade de obrigá-lo a
revelar o segredo. Prometeu então respondeu-lhe:
“Vai, e tenta convencer a onda do mar a não rebentar”.
Será igualmente difícil convencer-me a falar.
Hermes advertiu-o que se persistisse em seu silêncio obstinado, seus
sofrimentos seriam ainda mais terríveis.
“Uma águia que jamais se farta de sangue”.
Surgirá, qual comensal imprevisto no teu banquete.
Dia após dia, dilacerar-te-á o corpo,
Fazendo de teu fígado negro um sangrento festim.
Mas não havia nada, ameaça ou tortura, que conseguisse dobrar Prometeu. Seu corpo estava acorrentado, mas o espírito estava livre. Recusava submeter-se à tirania e à crueldade. Sabia que tinha sido leal a Zeus e que agira bem ao apiedar-se dos mortais, em seu desamparo. Seu sofrimento era profundamente injusto, e não cederia diante de um poder brutal, fosse qual fosse..