Panacéia dos Amigos

quarta-feira

CIENTISTAS CRIAM A "BATERIA QUÂNTICA"



A bateria seria preparada dentro de um "estado escuro", onde não é possível trocar energia com o ambiente.

Uma equipe de cientistas das universidades de Alberta e Toronto esboçaram uma "bateria quântica" que jamais perderia sua carga. A tecnologia ainda não foi produzida, mas caso eles consigam montar a teoria na prática, seria uma inovação revolucionária no armazenamento de energia.

"As baterias com as quais estamos familiarizados - como a bateria de íons de lítio que alimenta seu smartphone - baseiam-se em princípios eletroquímicos clássicos, enquanto as baterias quânticas dependem apenas da mecânica quântica", disse Gabriel Hanna, químico da Universidade de Alberta.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado no Journal of Physical Chemistry C. em julho deste ano. Ele explica que a bateria funciona aproveitando o poder da "energia excitônica", que é o estado em que um elétron absorve fótons suficientemente carregados.

Os pesquisadores, então, descobriram que o modelo de bateria resultante deve ser "altamente robusto às perdas de energia", graças ao fato da bateria ser preparada dentro de um chamado "estado escuro", no qual não é possível trocar energia com o ambiente, seja absorvendo ou liberando fótons.

Ao quebrar a rede quântica do estado escuro, os pesquisadores afirmaram que a bateria poderia descarregar e liberar energia no processo. No entanto, a equipe ainda não encontrou soluções viáveis para tornar isso possível. Eles também estão tentando descobrir uma maneira de escalar a tecnologia para aplicativos do mundo real..


Fonte: Olhar digital

segunda-feira

GOOGLE E O COMPUTADOR QUÂNTICO



Empresa anuncia oficialmente ter atingido a supremacia quântica; entenda o que significa a conquista.

Conforme antecipamos no fim do mês passado, o Google agora anuncia oficialmente ter atingido a chamada supremacia quântica. O anúncio marca um novo capítulo na história da computação.

O Google conseguiu fazer um de seus computadores quânticos realizar, em alguns segundos, algo que o mais potente computador do mundo demoraria cerca de 10 mil anos para fazer. O chip quântico da empresa, chamado de Sycamore, conseguiu desvendar em 200 segundos o segredo por trás de um gerador de números aleatórios, algo que o Summit - supercomputador da IBM - levaria milhares de anos para fazer.

Os detalhes da pesquisa, publicados na renomada revista científica 'Nature', serão anunciados hoje (23) pelo Google em Santa Bárbara, na Califórnia, EUA.

O feito da empresa abre portas para revolucionar como os computadores operam e amplia as possibilidades na criação de novos materiais, desenvolvimento de medicamentos e até a expansão da inteligência artificial.

Na computação tradicional, usada por PCs e celulares na atualidade, toda e qualquer informação é armazenada ou processada na forma de bits, que sempre serão representados por 0 ou 1. Já na computação quântica, os chamados qubits - bits quânticos - podem assumir inúmeros estados, num fenômeno conhecido como superposição. Isso aumenta drasticamente a quantidade de informações que pode ser processada ao mesmo tempo, superando, por muito, o funcionamento de computadores tradicionais, mesmo os mais potentes.

No passo em que um par de bits tradicionais expressa um tipo de informação de cada vez, dois bits quânticos podem expressar quatro 'estados' ao mesmo tempo. Estima-se que 300 qubits expressem um número de estados maior do que o número de átomos no universo. O chip Sycamore possui 53 qubits. A IBM, principal concorrente na busca pelo computador quântico, já havia anunciado chips com a mesma capacidade, mas ainda não havia apresentado resultados de sua utilização em operações complexas, como fez o Google.

A novidade foi reconhecida, porém, relativizada pela IBM, que publicou um artigo sobre o marco atingido pelo Google: "O experimento do Google é uma excelente demonstração do progresso da computação quântica baseada em supercondutores, mostrando a fidelidade de uma porta de última geração em um dispositivo de 53 qubit, mas não deve ser visto como prova de que os computadores quânticos são 'supremos' em relação aos computadores clássicos".

Eles ainda pedem que a comunidade científica receba com "boa dose de ceticismo" a alegação de que um computador quântico fez algo que um computador clássico não pode.

Apesar de extremamente poderoso, o computador quântico também pode ser estável. A alta quantidade de qubits contidos em um chip quântico como o do Google, pode fazer com que essas partículas muito pequenas gerem uma perturbação capaz de desalinhar o sistema e torná-lo inútil.

Para superar esse possível problema, computadores quânticos desenvolvidos pela IBM e pelo próprio Google, usam supercondutores que operam a baixíssimas temperaturas, perto de -273ºC. Para diminuir consideravelmente a possibilidade de erros, o Google adicionou ao Sycamore, um design diferenciado, como explicam John Martinis, cientista-chefe da divisão de hardware do Google Al Quantum, e Sergio Boixo, cientista-chefe de computação teórica quântica, em nota conjunta:

"Nós atingimos essa perfomance usando um novo tipo de botão de controle que pode desligar as interações entre qubits vizinhos. Com a primeira computação quântica que não pode ser emulada razoavelmente em um computador clássico, nós abrimos um novo domínio da computação a ser explorado".

Além dos pesquisadores da Google AI Quantum, diversos acadêmicos da Universidade da Califórnia participaram do estudo. O artigo descrevendo a experiência chegou a ser publicado no site da Nasa, mas foi removido rapidamente porque a empresa queria enviá-lo a uma revista científica para ser revisado.

A marca atingida pelo Google vai muito além da área de computação. A esperança, e até expectativa de muitos, é que os qubits possam ajudar a ciência a avançar em áreas ainda nebulosas, além de desenvolver inteligências artificiais bem mais precisas..

Fonte: Olhar digital

terça-feira

PQP..! O PORTUGUÊS QUE NOS PARIU – LIVRO



     Como diz o ditado popular “Quem ri de si mesmo é sábio”. Se assim for uma revisão de nossa história sob uma perspectiva bem humorada só pode ser uma leitura proveitosa. E de fato é. Para além de algumas risadas com as tiradas certeiras (outras nem tanto) e sarcásticas da autora Ângela Dutra de Menezes obtemos ainda informações muito interessantes sobre nossos antepassados portugueses e sobre o descobrimento do Brasil que são mais profundas e desmistificadoras do que aprendemos mormente em salas de aula.

   A autora é escritora e jornalista. Nasceu no Rio de Janeiro, onde mora. Enquanto exerceu a profissão de jornalista, trabalhou no jornal O Globo e foi editora da revista Veja. Abandonou as redações para se dedicar a sua verdadeira paixão: a literatura. Em 1995 recebeu o prémio de revelação na Bienal do Livro, com Mil anos menos cinquenta, considerado pelo jornal madrileno La Cultura como um dos quatro melhores lançamentos de 1997, ano da sua publicação na Europa. A pesquisa histórica e o humor são marcas registadas da autora, que também publicou Santa Sofia e O avesso do retrato, Livro do apocalipse segundo uma testemunha e Todos os dias da semana.

   Em capítulos tão interessantes quanto divertidos aprendemos que temos muito em comum com nossos antepassados portugueses (incluso alguns defeitos, ora, pois!) e a influência dos cristãos novos e da cultura árabe que fundamental na cultura portuguesa não poderia deixar de nos influenciar. Entre outras curiosidades, descobrimos que as cores da bandeira nacional não o são exatamente o quê nos explicaram, algumas expressões corriqueiras partem de princípios religiosos e que muitas futricas de família causam confusões monumentais quando os familiares usam coroas ou querem usá-las..!

    E lembrem-se: Quem lê um livro comunga com a alma deste e desta comunhão renova a sua própria!

quarta-feira

VERDADE TROPICAL: MEMÓRIAS DE CAETANO VELOSO



Dizem que um bom livro deve atrair a curiosidade do leitor em um golpe certeiro na primeira linha completa. Neste caso, Caetano não perdeu tempo, como nunca perde, em ser polêmico: “Costumo dizer que, se dependesse de mim, Elvis Presley e Marilyn Monroe nunca se teriam tornado estrelas”. Com essa isca somos fisgados para tentar entender o poliedro intelectual do artista e também muito de sua frescura de ser divo, divino, divinatório e, acima de tudo, seu deleite por ser assunto.

Não precisamente uma biografia, mas uma relembrança de si mesmo Caetano retorna ao passado de modo fluido misturando histórias do pretérito conforme elas surgem em suas memórias ou considere interessantes de contar. Uma memória de infância pode concatenar com um dialogo dos anos 60 e uma situação na prisão pode trazer outras escoações não apenas biográficas, mas históricas também. Como conheceu João Gilberto, Os anos de chumbo, a importância de Gilberto Gil em sua vida, A prisão em 1968 e tudo se cristalizando até os anos 90 quando da feitura do livro. Os pretéritos se misturam, pois de fato, como acontece com todo mundo, eles são construídos pelo viveres e somos testemunhas de nosso tempo se nos atentarmos ao fato.


Um alguém da vivência de Caetano Veloso pode oferecer histórias das mais interessantes, pois afinal foi ele o epicentro de um dos movimentos mais marcantes da arte brasileira, Tropicália. Tudo que se refere à gênese do movimento tem saborosa complexidade (e, ao mesmo tempo puro acaso) além de toda a formação intelectual do artista e como se forjaram importantes amizades/parcerias  tornando a leitura muito prazerosa.

Mas, por outro lado, como uma biografia, ou melhor, um livro de memórias tem momentos menos interessantes. Caetano por vezes enche páginas com puro exibicionismo intelectual desnecessário. Um chato mesmo. Poderia ser simples e conciso, mas faz questão de ser verborrágico. Mas, enfim, é Caetano, e ler Caetano é como ouvir Caetano: sempre ignoramos algo e perdoamos porque o encanto é maior que o deslize do narciso..



E lembrem-se: Quem lê um livro comunga com a alma deste e desta comunhão renova a sua própria!

                                                                       

MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASIL E MANIFESTO ANTROPÓFAGO DE OSWALD DE ANDRADE




MANIFESTO DA POESIA PAU - BRASIL

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.

O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos.

Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.

O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.

A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.

Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.

A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, donas de casa tratando de cozinha.

A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.

Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de base e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.

Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.

A poesia Pau-Brasil, ágil e cândida. Como uma criança.

Uma sugestão de Blaise Cendrars: - Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.

Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.

A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.

Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.

Uma única luta - a luta pelo caminho. Dividamos: poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.

Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo.

Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho...Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas.

Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado - o artista fotográfico.

Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Straviski.

A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.

Só não se inventou uma máquina de fazer versos - a havia o poeta parnasiano.

Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: 1a) a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarrmé, Rodin e Debussy até agora. 2a) o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.

O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.

Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.

A síntese.
O equilíbrio.
O acabamento de carrosserie.
A invenção.
A surpresa.
Uma nova perspectiva.
Uma nova escala.

Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.

O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese; contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.

Uma nova perspectiva.

A nova, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão de ótica. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.

Uma nova escala: A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails.

Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.

A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloqüente, um pavor sem sentido.

Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.

Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.

A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.

Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.

Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pegá" e de equações.

Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.

Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.

O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.

Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.

O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.

A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.

Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.

Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.

Oswald de Andrade
(Correio da Manhã, 18 de março de 1924.)


MANIFESTO ANTROPÓFAGO

Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitos postos em drama.

Freud acabou com o enigma mulher e com os sustos da psicologia impressa.

O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.

Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano,suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.

Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.

Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.

Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.

A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural. Rosseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.

Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou emBelém do Pará.

Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.

Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.

O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.

Só podemos atender ao mundo orecular.

Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.

Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.

Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.

O instinto Caraíba.

Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência.

Conhecimento. Antropofagia.

Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.

Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.

Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.

Catiti Catiti
Imara Notiá
Notiá Imara
Ipeju

A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.

Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade.

Esse homem chama-se Galli Mathias. Comi-o.

Só não há determinismo onde há o mistério. Mas que temos nós com isso?
Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra9. O mundo não datado. Não rubricado.

Sem Napoleão. Sem César.

A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.

Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.

Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: - É mentira muitas vezes repetida.

Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.

Se Deus é a consciência do universo Incriado, guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.

Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.

As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.

De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.
O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas + fala (sic.) de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa.

É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.

O objetivo criado reage como os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.

A alegria é a prova dos nove.

No matriarcado de Pindorama.

Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimamos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.

Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.

A alegria é a prova dos nove.

A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura - ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo - a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.

Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, - o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.

A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: - Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

Oswald de Andrade
Em Piratininga24
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha25
(Revista de Antropofagia, Ano I, No. I, maio de 1928.)

segunda-feira

ANTIMATÉRIA: O INVERSO DA MATÉRIA



A antimatéria é o inverso da matéria. As antipartículas possuem as mesmas características das partículas elementares, mas apresentam carga elétrica oposta.

Literalmente, a antimatéria é o inverso da matéria. Cada partícula elementar que conhecemos possui uma partícula oposta que apresenta exatamente as mesmas características, exceto a carga elétrica, que é o inverso. O pósitron, por exemplo, é a antimatéria do elétron, portanto, possui a mesma massa, mesma rotação, mesmo tamanho, mas carga elétrica de sinal oposto.

A antimatéria não é produzida naturalmente na Terra. Tudo o que se sabe sobre essas antipartículas vem de experiências realizadas em aceleradores de partículas, que apresentam antipartículas como produto. A dificuldade de produzir e analisar esses materiais está no fato de que, no encontro da matéria com a antimatéria, sempre ocorre aniquilação, isto é, uma destrói a outra, e o resultado é uma grande quantidade de energia.

Em 1928, o físico britânico Paul Andrien M. Dirac revisou a equação da equivalência entre massa e energia proposta por Einstein e propôs que a massa deveria ser considerada com valores positivos e negativos. A proposta de Dirac permitiu considerar a possibilidade da existência de antimatéria.

Em 1932, Carl Anderson detectou a presença de elétrons positivos durante um experimento com raios cósmicos. O antielétron detectado foi chamado de pósitron e tem as mesmas características do elétron, mas apresenta carga elétrica de sinal positivo.

Em 1955, cientistas criaram o antipróton por meio de um acelerador de partículas. Desde então, os estudos relacionados com antimatéria vêm revelando antipartículas de nêutrons, quarks, léptons etc.

De forma prática, podemos citar o exame PET scan, que utiliza a emissão de pósitrons para formação de imagens tridimensionais usadas na detecção de tumores. Os elétrons do corpo humano sofrem aniquilação ao se depararem com pósitrons emitidos por uma determinada substância. O produto da aniquilação é a geração de radiação gama, que é utilizada para a formação de imagens 3D.

A aniquilação em larga escala existente no encontro de partículas e antipartículas pode gerar quantidades exorbitantes de energia. Uma quantidade de 10 quilos de antimatéria pode gerar a energia correspondente a seis anos de pleno funcionamento da Usina de Itaipu! O rendimento de 1 g de antimatéria em um carro teria uma autonomia aproximada de 10 mil quilômetros.

As forças armadas norte-americanas desenvolvem pesquisas para a criação de bombas feitas com antimatéria. A aniquilação gerada pelo contato da matéria com a antimatéria das bombas poderia gerar explosões com potencial destrutivo muito maior que o das ogivas nucleares.

As distâncias que nos separam de determinados corpos celestes no espaço tornam inviáveis quaisquer tentativas de aproximação. Uma viagem até a estrela Alpha Centauri, por exemplo, estrela que, depois do Sol, é a mais próxima da Terra, levaria cerca de 80 mil anos com as tecnologias atuais. Se as naves espaciais fossem movidas por antimatéria, o tempo dessa viagem seria significativamente reduzido, o que poderia tornar o “passeio” totalmente viável.

Ao acelerar átomos a altíssimas velocidades com um acelerador de partículas, elas podem ser colididas com um determinado alvo. As antipartículas resultam dessa colisão e são separadas pela ação de campos magnéticos. O armazenamento desses elementos é feito em uma espécie de garrafa magnética, que impede que a antimatéria entre em contato com a matéria, o que poderia ocasionar aniquilação e destruição das antipartículas. Por ano, apenas um trilionésimo de grama de antiprótons é produzido.

Fonte: JúNIOR, Joab Silas Da Silva. "O que é antimatéria?"; Brasil Escola.

EFEITO DO HÉLIO SUPERFLUIDO: A CAPACIDADE VIBRACIONAL CONSTANTE NO ZERO ABSOLUTO



A superfluidez decorre de regras contra intuitivas da mecânica quântica. E, ao contrário de outros fenômenos quânticos, o comportamento estranho do hélio superfluido é visível a olho nu.

Se você resfriar hélio líquido, por exemplo, a alguns graus abaixo do seu ponto de ebulição, de –269º C, ele bruscamente assume características diferentes de outros fluidos, como escorrer por micro rachaduras da espessura de moléculas, escalar as bordas de um recipiente até transbordar e permanecer imóvel enquanto o recipiente gira.

O hélio neste estado deixa de ser um simples líquido e se transforma em um superfluido – um líquido que flui sem atrito. “Se girarmos uma xícara até que o líquido nela contido passe a girar, você verá que alguns minutos depois, ele parou de se mover”, explica John Beamish, físico experimental da University of Alberta, em Edmonton, Canadá. Os átomos do líquido colidem uns com os outros e se desaceleraram, “mas se isso for feito com hélio a baixas temperaturas, um milhão de anos mais tarde ele ainda estará se movendo”.

As primeiras evidências desse comportamento do hélio foram observadas em 1911 pelo físico holandês, Heike Kamerlingh Onnes, premio Nobel de física em 1913 e um mestre da refrigeração. Ele foi o primeiro a liquefazer o hélio. Onnes descobriu que esse elemento passa a ser um bom condutor de calor abaixo de –270,92º C, temperatura também conhecida como o ponto lambda.,Somente em 1938 o físico russo Pyotr Kapitsa e, de forma independente, os britânicos John Allen e Don Misener, mediram a velocidade do fluxo de hélio abaixo dessa temperatura usando dois discos de vidro adaptados a um tubo de sucção e a um tubo fino de vidro. A viscosidade observada foi tão baixa que Kapitsa, vencedor do prêmio Nobel em 1978 por esse trabalho, o batizou de “superfluido” – inspirado em “supercondutor”, o termo para um material bom condutor de corrente elétrica com baixa resistência.

Esse efeito se baseia na capacidade única do hélio de permanecer líquido até o zero absoluto (–273,15º C), a temperatura em que os átomos, em princípio, se imobilizam.

Quando a maioria dos líquidos é resfriada, a pequena atração entre os átomos no fluido finalmente supera as vibrações térmicas e as partículas se acomodam num padrão regular, ou seja, um sólido. Entretanto, os átomos de hélio são tão leves e fracamente atraídos por outros que, mesmo quando os movimentos atômicos comuns cessam, os átomos vibram com o movimento do ponto zero, um leve momentum imposto pelo princípio da incerteza da mecânica quântica; por isso, eles nunca formam um sólido.

O fato de o hélio continuar no estado líquido a baixas temperaturas o permite realizar uma transformação chamada condensação de Bose-Einstein, na qual as partículas individuais se agregam até exibirem um comportamento coletivo como uma única partícula. Átomos que se comportem como um condensado de Bose-Einstein perdem suas características individuais.

Normalmente o hélio superfluido é considerado como uma mistura de dois fluidos, um comum e um superfluido. Experimentos diferentes evidenciam as características contrastantes dos dois componentes. O experimento mais simples é observar um recipiente cheio de hélio líquido começar a transbordar enquanto o hélio é resfriado a temperaturas abaixo do ponto lambda. A componente superfluida começa a escorrer pelas frestas microscópicas onde a componente líquida normal não pode penetrar, gerando os supervazamentos.,À medida que a temperatura diminui, a componente superfluida começa a ter maior participação na mistura. Pesquisadores mediram a proporção entre as duas componentes inserindo uma amostra em um recipiente metálico suspenso por um fio. Ao girar o fio, o cilindro começa a rodar em um sentido e depois no outro. Mas apenas a componente normal gira junto com o cilindro, devido ao atrito entre ela e as paredes do cilindro. A componente superfluida resiste ao movimento do fluido normal e permanece imóvel. À medida que a porção superfluida aumenta, o cilindro gira mais rápido, como se estivesse perdendo peso, ou inércia.

A natureza dupla do hélio superfluido pode ser observada também quando escala as paredes de um recipiente. Um líquido comum é limitado pelas paredes do recipiente que o contem, graças à pequena atração entre os átomos, mas o atrito interno do líquido define até onde o líquido pode se espalhar. No hélio superfluido, a película – na qual não há atrito – recobre o recipiente inteiro, delimitando um volume onde o superfluido pode escoar.

Fonte: Scientific American Brasil