Panacéia dos Amigos

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sexta-feira

A MALDIÇÃO DA LUA - Por Paulo Moraes

PARTE I
-ESCONDAM-SE CRIANÇAS! – Grita desesperadamente Elora para seus dois filhos, enquanto tenta barrar a porta de sua cabana com troncos estocados para o fogão. Os golpes contra a porta são fortes e contínuos. Duas maças golpeiam impiedosamente a madeira. Elora sabe que não há muito que fazer. Arma-se com uma faca, e volta a segurar a porta. Os golpes e os gritos aumentam. -Malditos Goblins! – lastima-se Elora, chorando desesperada. Ela não teme por sua vida, mas, pelos seus filhos. Se o seu destino é incerto, o de suas crianças não é. Goblins costumam aprisionar crianças para que cresçam seus escravos até quando consigam viver.O que será de Tûran e a pequena Elana? -Malditos! Malditos! – Volta a repetir. Um golpe mais forte a empurra, quebrando os troncos e rachando a porta. Pela fresta ela vê o sorriso confiante dos goblins que perseguiram suas crianças pela mata. Eles abrem a porta. Num golpe rápido, um deles avança a frente do outro e com sua maça a desarma de sua faca e prepara o golpe fatal. -O deus Tyr! – Grita Elora desesperadamente – Sempre te fui fiel seguidora...aonde está a tua guerra contra meus inimigos? Elora fecha os olhos e começa a orar. A aflição da fêmea humana diverte o feroz e cruel goblin que então, começa a desferir o golpe mortífero de sua maça de guerra... Mas, então, ele se detém! Um golpe pesado o atinge pelas costas e ele sente algo úmido escorrer por sua armadura de couro e cair ao chão! Aterrorizado ele vê seu parceiro caído ao seu lado, morto. Rapidamente ele se volta, mas um raio prateado vindo em descendente curva rasga sua face, e faz brotar o rubro líquido de suas veias que transformam rapidamente sua visão num mundo vermelho e enfim, profundamente escuro. O goblin cai, morto, sua face monstruosa destroçada por um machado de guerra. Elora ao abrir os olhos mal pode crer que os goblins estão caídos ao chão, então olha para o umbral da entrada e vê...um anão! Traja um manto, armadura de couro, e botas de andante. Seus cabelos, ruivos, e barba longa estão trançados e um medalhão com a insígnia do deus TYR brilha em seu peito. Não tema...vim ajuda-la! – Diz o anão pausadamente. -Oh, louvado seja Tyr, o deus da guerra. –responde Elora, com indescritível alegria. – Louvado seja Tyr! O anão, clérigo de Tyr, sorri. Apesar de sua aparência temível, seu sorriso é franco e contagiante. – Acalma-te, o grande deus jamais abandona aqueles que tem fé em sua mão vingadora - Diz pausadamente, mas com confiança e vitalidade. -Eu acredito! – responde Elora, emocionada -Como devo chamar-te, tu que foste a mão salvadora do deus? -Como Barthôuke, sou conhecido! Barthôuke Ironhead, clérigo-guerreiro de Tyr! -Bem-vindo seja! Chamo-me Elora, por favor, acomode-se!Meu marido, um lenhador, está para chegar. -Antes...devo levar estes demônios para longe de teu lar, a fim de que os chacais da mata dêem cabo deles. Amarrando os dois corpos, com uma corda, Barthôuke os arrasta pela mata. O céus estão repletos de nuvens carregadas, e trovões ecoam distantes. Uma nova chuva se anuncia ao fim deste dia, chuvoso desde a aurora. Ao retornar Barthôuke, encontra a senhora do lar, preparando um caldeirão de sopa, as crianças próximas a mãe observam ajudando quando solicitadas. -Espero que Alaors, meu marido,não se demore. Estas nuvens carregadas prometem forte tempestade. E a noite, cairá em meros instantes. -Um tempo assim é que encorajou os goblins a saírem de suas tocas. -Mas, não há goblins nesta região. A chuva cai . Repentina e furiosamente. -Entendo, no entanto, isto significa que alguma tropa deles está por aqui . Goblins sempre andam em bandos. -Tyr! Alaors, meu marido! Ele corre perigo. -Me mostre a direção do campo de trabalho, vou ao encontro dele. Um grito se faz ouvir, do lado de fora: -ELORA!!! Súbito, o lenhador Alaors adentra sua casa. Seu rosto parece transtornado, estarrecido. Corre em direção a sua esposa, sem notar o visitante de seu lar. -Elora! Eu a vi! -Do que falas, Alaors? -A mulher-demônio! -O-o que dizes? - A mulher-demônio existe realmente! Eu a vi! Os poderes das sombras infernais estão sobre estas terras! Um trovão explode retumbante e a tempestade acentua-se ainda mais...Barthôuke ouve o silvo dos ventos repentinamente entrando pela entrada da cabana. Buscando o medalhão de Tyr em seu peito, ele renova seus votos de entregar a vida dos inimigos tombados à honra de seu deus. Ele não foi enviado a este ermo lugar em vão! Novas batalhas se aproximam... PARTE II
-Alaors, meu marido, o que faremos?
Antes de responder Alaors volta-se e afinal, percebe a presença de um estranho em seu lar, alarmado, empunha seu machado de lenhador.
-Não, Alaors! –Intervêm Elora - Ele é um clérigo-guerreiro de Tyr! Salvou tua família de um ataque de goblins!
A revelação faz com que o semblante de Alaors se tranqüilize, e então, ele diz:
-Sê bem vindo! Peço teu perdão.
Barthôuke assente com a cabeça, aceitando o pedido.
-O quê...você encontrou na mata? Revele-me. -Sim, mas antes, senta conosco para a ceia e te revelarei tudo. Após selarem e barrearem a porta de entrada.Barthôuke e Alaors sentam-se à mesa. A família e seu convidado servem-se da ceia e a história da mulher-demônio finalmente começa a ser relatada... -Há mais ou menos quinze dias atrás...- relata Alaors pensativamente –crianças de nossa vila, Arndach, brincando pela mata, juram ter visto uma forasteira de capuz e mantos negros vagando. A príncipio, julgávamos ter sido apenas uma invenção ou imaginação da parte delas. Mas, então, o velho Derrick, um dos mais antigos e corajosos dentre nós, afirmou tê-la visto também. Ele a viu vagando pela matas sem o capuz que, normalmente, oculta seu rosto. E isto foi o que o aterrorizou. Ele afirma ter visto um rosto desfigurado, um rosto de demônio! -O pobre homem, ainda está abalado, tem medo de ter sido amaldiçoado pela mulher-demônio por ter visto o seu rosto.-Conclui Elora. -Ele não pode estar mais aterrorizado do que eu mesmo me encontro! - Barthôuke e Elora passam a ouvir atentamente - Já havia terminado a cota do dia no campo de trabalho. Resolvi adentrar a mata para estabelecer novo campo, foi quando percebi que alguém me observava. Eu me voltei e lá estava ela. Eu vi o rosto demoníaco! Completamente desfigurado do seu lado direito. Horrível! Horrível! Não sei descrever, a pele é machucada, os olhos não fecham, os dentes estão à mostra...não sei., fiquei com muito medo, e corri quando ela estendeu sua mão na minha direção na certa pretendia me enfeitiçar. -Hmmm...ela carregava algo? -Bem, estava apoiada num cajado, tinha ervas numa das mãos e na outra um livro. -Hmmm...-rumina Barthôuke enquanto acaricia sua barba pensativamente – Ela não procurou persegui-lo? -Não. Bem, não sei direito! Corri sem me voltar para trás! -Oh, meu querido, ainda bem que escapou...este demônio pode ter trazido os goblins aqui! Queria nos destruir, eles devem estar a serviço dela – comenta Elora olhando para Barthôuke em expectativa. -É possível...mas, só há uma maneira segura de averiguar isto! – Diz,levantando-se e recolhendo seu saco de viagem e ajustando seu machado às costas. -O que vai fazer?-Pergunta Elora. -Agradeço a acolhida de vocês...devo partir agora. O destino traçado para mim, pelo deus Tyr é...bastante claro. Devo caçar e destruir a mulher-demônio! Alors! Indique a direção do campo de trabalho. -Mas, é noite e a tempestade continua... -A escuridão nada significa para os anões! Admito que a chuva é um incômodo, mas estou decidido a partir agora, tenho meus motivos. -E os goblins?
Barthôuke observa as crianças que se assustam com a menção das criaturas e sorri tranqüilizador para todos.
-Não temam! Esses dois deviam ser desgarrados sem importância. Se assim não fosse, o ataque a esta casa teria sido por um número muito maior deles. Estarão seguros. Fiquem sob a proteção do deus guerreiro TYR! -Sua proteção esteja sobre nós - responde Elora, acrescentando –E sobre ti, clérigo-guerreiro!
A chuva é torrencial e pesada. Caminhar por florestas nunca foi das maiores alegrias para Barthôuke e as lendas sobre a floresta de Llewjandhe também não são confortadoras, mas, o clérigo anão está intrigado demais para esperar em sua demanda. Logo, ele se encontra no local aonde o lenhador havia visto a mulher demônio e resolve investigar além, seguindo a orientação de seu deus. Tyr sempre o leva até seus inimigos, não seria diferente agora.
E não é.
Poucos metros a sua frente, ele observa um rústico abrigo de couros amarrados ente árvores, em seu interior, um fogo débil e a sua frente esta a mulher-demônio perdida em pensamentos. Seu rosto é de fato, horroroso. Como uma cicatriz que desfigura desde o topo do crânio até o queixo no lado direito. Uma cicatriz grande, aberta em carne viva que desfez seus cabelos, retirou as pálpebras de seu olhos deixando-os a mostra, bem como os dentes de cima e baixo.
Barthôuke medita profundamente. Tomando seu medalhão e livro sagrado professa uma oração a seu deus e então, resolve se aproximar sem ocultamentos ou silêncio.
-Quem está aí? –Diz a mulher recebendo atônita a tranqüila chegada do anão.-O que quer comigo?Um clérigo-guerreiro! Veio me caçar a pedido da vila?
Barthôuke não responde, apenas observa.
-Estou preparada para morrer, anão! Mas, saiba que você e outros estão enganados!
Barthôuke empunha seu machado de guerra e retesa os músculos convocando a fúria de seu deus. A mulher-demônio abre um livro e direciona sua mão esquerda de encontro a um pequeno bolso em sua cintura. Então, o anão fala feroz e entre dentes para ela.
-Não vim lutar contra você, mulher! Vim lutar COM você!
-O quê...?
-Estamos cercados por toda uma tropa de goblins! Prepare-se, pois a deusa morte está a nossa volta sorrindo triunfante!...
PARTE III
Eles surgem de todas as direções! Urrando seus gritos de guerra ferozmente! Eles são dezenas contra apenas dois, o triunfo chega a ser palpável no ar. Com desprezo eles se aproximam de suas vítimas formando um cerco. Alguns, sim, assustam-se com o rosto da mulher, outros apenas se divertem. Todos espreitam esperando a ordem de seu líder para que eles sejam trucidados por todos. Especialmente o anão. RRRRAAAAARRRRRGGGGGGGHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Mas, a ordem não chega! Um urro de fúria descomunal explode vindo de Barthôuke! Estarrecidos os goblins vêem seu inimigo transformar-se aumentando seu tamanho, seu rosto se contorce e desfigura enquanto veias saltam forçando a pele. Seu machado começa a tremeluzir com um bruxuleante tom vermelho-sangue. Alguns dos goblins reconhecem estes sinais. -A fúria de TYR! Um novo urro selvagem e ele salta sobre eles como um animal ferido e furioso! RRRRAAAAARRRRRGGGGGGGHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Um único golpe e um corpo estende-se ao chão, veloz , um novo golpe encerra outra vida! Os olhos estão parados, a fúria está consumindo o anão. Assustados eles se voltam ao seu líder apenas para vê-lo ser atingido por um dardo místico que explodem contra seu peito. Urrando de dor, o líder goblin cai pesadamente, morto. A mulher se volta contra os outros e começa a recitar um novo feitiço. -Feiticeira! A maldita é uma feiticeira! – Compreendem, os goblins. Um novo dardo místico liberta-se de sua mão direita, ferindo outro goblin que não mais consegue se levantar. RRRRRRRRRRAAAAAAAAAARRRRRRRGGGGGGGGHHHHHHHHH! Barthôuke está ferido, mas, nada parece capaz de detê-lo! A loucura tomou conta do clérigo-guerreiro. Seu machado gira velozmente como um círculo prateado e rubro de fúria e morte. A chuva torrencial dificulta os movimentos dos goblins, mas nada significam para o assassino de Tyr que urra a cada inimigo tombado! RRRRRARRRRRRRRRRRRRRRRRGHHHHHHHHHHHHHHHHH! A mulher retira um vidro e lança seu conteúdo no chão sob os pés do goblins mais afastados de Barthôuke, em instantes, um inferno de chamas explode entre eles. -Fogo do inferno, o demônio trouxe o fogo do inferno! Fujam! RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRAAARRRRRRRRRRGHHHHHHHHH! Assustados, outros goblins tornam-se vítimas fáceis do anão enlouquecido, novos inimigos são trucidados pela fúria de Tyr! O fogo alastra-se! Um dos goblins resolve assumir a liderança. -Eles são insanos! Nem a tempestade consegue apagar este fogo infernal! Esta batalha não vale a pena, vamos embora! Vamos embora! Os goblins fogem rapidamente. Mas, o anão continua a persegui-los furiosamente. A mulher resolve segui-los, porém, de repente, todos parecem se esconder nas matas e desaparecer. O anão urra de ódio e decepção! A mulher resolve se esconder. Barthôuke urra novamente, busca inimigos a seu redor, avança alguns passos. Para. Então, após um último e mais fraco urro cai pesadamente no chão. Seus olhos demoram a se acostumar com a luz do sol. Barthôuke sabe que despertou vivo novamente da fúria de Tyr. Sua missão ainda não acabou. -Saudações, clérigo-guerreiro. Ele se volta, e vê lhe ser entregue uma cuia com sopa vinda de um caldeirão fervente. -Um clérigo-guerreiro...tomando sopa feita pelo demônio? HAHAHAHAHAH!–Gargalha o anão, confiante e despreocupado. -Não sou um demônio! -Sei disso. –Diz Barthôuke, gravemente. – Acredito que não é uma criatura abissal. A mulher observa surpresa. -Você é uma feiticeira que foi AMALDIÇOADA por um demônio! -S-sim, foi isto que me ocorreu. -Bem, feiticeira...Eu sou Barthôuke Ironhead, e, creio, mereço ouvir sua história - Diz o anão deixando a cuia de sopa ao lado, vazia. Hesitante, a mulher começa. "Sou conhecida como Chalice Moonstain, a amaldiçoada. Vivia num pequeno vilarejo em um reino distante, o qual agora não importa, fui criada pelos meus tios, John e Murna, já que meus pais morreram quando ainda era um bebê vítimas de uma peste que assolou a região". "Vivi tranqüilamente até o dia em que completei dez anos e encontrei, num antigo baú de meu tio, livros e papiros antigos. Desde pequena me interessava pelas histórias de magia e aquilo era magia! Um dos papiros ensinava invocar um demônio para servir a quem o convocasse". "Eu não tive dúvidas, convidei meus melhores amigos, Amalric,Mona,Melina,Bertrand e Jack, juntos, fugimos em direção a um vale afastado, foram horas de viagem, uma pirraça infantil, chegamos somente a tarde da noite. As sombras estavam sobre nós. Naquela noite, estávamos ali , tão assustados quanto excitados com a audácia de nosso objetivo: Conjurar um demônio! ". PARTE IV "O ritual parecia muito simples. A maioria do material necessário estava no baú de meu tio. Apenas, um pouco de terra do local e o momento certo foi o que providenciamos: Meia-noite, numa noite de lua cheia!". "Fizemos um círculo em volta da fogueira e desenhamos o símbolo descrito no pergaminho. Enfim, cortamos levemente nossos pulsos e lançamos um pano, compartilhado por todos, e repleto de nosso sangue no fogo místico que havíamos produzido". "Uma dificuldade: Um de nós, Amalric, recusou-se participar do ritual". -Isto é tudo uma tolice, Chalice! Fiquem aqui com seu demônio todos vocês! Eu e minha adaga vamos buscar alguma coisa para comer! Se o demônio aparecer vai estar com fome e para não comer vocês é melhor que eu traga alguma coisa! Ahahah...! "Amalric era, certamente, o mais corajoso de todos nós! Seu gracejo era sincero, despreocupado e sem temor. No entanto, teve um péssimo efeito sobre nossa confiança, afinal, não éramos tão corajosos quanto ele!". "Mona foi a mais afetada. Ela era a mais jovem de nós, apenas seis anos, eu não deveria tê-la trazido, mas, ela me adorava e eu queria impressiona-la ainda mais, como também queria o mesmo com todos os outros". "De repente, Bertrand gritou, fiquei assustada, e quebrando o círculo, corri ao seu lado". "Foi quando vi uma serpente adulta, que se esgueirava até nós, passou ao lado de Bertrand e de mim. Era grande, seu corpo envolveu a fogueira e sua cabeça se levantou como num bote. Se Amalric estivesse ali, há muito tempo teria se munido de qualquer coisa e tentado mata-la como já matara muitas serpentes antes, mas nós, demoramos a reagir quando, finalmente, os meninos, Bertrand e Jack começaram a reagir, a serpente emanou um estranho brilho em seus olhos e voltou-se para nós": -Ora, ora, crianças que maneira de recepcionar um visitante....!. "Era o demônio que havíamos convocado! Ficamos todos paralisados enquanto a serpente parecia nos observar por um instante, enfim, tive coragem de conversar com ela, exigi segundo os ditames do ritual que ela me obedecesse e o demônio aceitou dizendo que atenderia um pedido, conforme as regras da magia. Quando ele me perguntou o que desejava eu, tolamente, fiz meu pedido": -Desejo...que nos traga comida! "Repentinamente um fulgor surgiu ante a serpente e cobrimos os olhos quando pudemos ver de novo, um pano estava estendido sobre o chão e sob ele estavam queijo, pão, água, cordeiro fumegante, mel, e frutas secas... um banquete!". "Sinceramente, nada melhor havia me ocorrido, estávamos com fome, Amalric não retornava e o que ele disse sobre um demônio faminto também não saía da minha cabeça assustada...!". "Portanto, exigi que o demônio comesse conosco, o que o fez , à sua maneira caçando e devorando um rato, para o nosso pavor". "Minha cabeça fervilhava – Que pedido idiota, fui fazer! Mas, não faz mal, pensarei algo melhor da próxima vez – pensei". "Havíamos todos terminado, e li nos olhos dos outros que eles queriam que tudo aquilo acabasse logo, então me dirigi à serpente com autoridade:". -Pois bem, demônio! Agora, vai -te daqui! Volta de onde veio! - Ele riu de mim, e então, disse: -Sem dúvida, minha pequena criança, mas, não sem antes cobrar o meu preço! -P-p-preço? Mas... -Tola criança! Acaso, não lestes a lei? Devo cobrar o meu preço por ter te servido... "O terror tomou conta de todos nós... Melina e Mona começaram a chorar...". -Assim sendo, tola criança - Disse a serpente saboreando cada palavra - O meu preço é ...a vida de todos os seus amigos... -Nãããoooooo...! "Ainda me recordo, claramente, de Mona gritando desesperada, enquanto lágrimas amargas de agonia e medo cortavam a minha face...". - Não havia nada disso escrito! –"protestei, lutando contra meu próprio terror"-Eu li, se o ritual fosse feito corretamente, tu não terias nada a exigir! -Oh, sem dúvida, pequena feiticeira, no entanto tu quebraste o círculo místico quando teu amigo se assustou com a minha chegada. "Ele tinha razão. Eu havia quebrado o ritual, que deveria ser preciso e sem falhas. O desespero tomou conta de mim". Implorei para que deixasse ir meus amigos, que o preço deveria ser pago por mim mesma, mas , o demônio recusou a proposta Foi então que senti braços me segurando! Todos os meus amigos haviam sido dominados pela serpente. Seus olhos eram frios e sem vida." -Me larguem! Não!-A serpente se aproximara de mim, sua língua de duas pontas roçavam meu rosto... "Foi então que, a serpente demoníaca me "beijou" num bote rápido contra o lado direito de meu rosto. Senti seu veneno penetrando meu corpo. A saliva da besta era ácida e começou a queimar e destruir meu rosto, a dor era intolerável". "Em meio a minha agonia, podia ouvir meus amigos tomados por demônios gargalhando, gracejando e se extasiando com meu sofrimento. Jamais me esquecerei... foi quando ouvi vozes diferentes me chamarem": -CHALICE! -NÃO! CHALICE! "Eram meus tios, haviam nos encontrado". Mas, antes que pudessem fazer algo, meus amigos Bertrand e Jack os seguraram , fizeram dobrar seus joelhos e seguravam firmemente seus pescoços e mãos. A força deles era, agora, muito superior a de simples crianças!" -Observe pequena Chalice! Observe bem...! - O demônio fez com que virassem meus rostos desfigurados, inchados e doloridos em direção aos meus tios...foi quando meu tio John gritou para mim, desesperado : -Chalice!... coragem, minha filha, você não... –Arrrggggghhhh! "Mas, meu tio não conseguiu concluir, e , ainda hoje, me pergunto o que ele queria me dizer...Seja como for, Bertrand e Jack com suas redobradas forças demoníacas em um movimento rápido mataram meus tios e jogaram seus corpos bem a minha frente". -TIO JOHN! TIA MYRA! Nããããããããããããããããããããããããooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...! PARTE V
"Comecei , então, a perder a consciência, a dor em meu rosto e o terror minaram as minhas forças! Minha vida havia acabado em meio à tragédia e risos demoníacos de todos a minha volta! Tudo se tornou confuso, como num sonho, estava a um passo de perder os sentidos quando vi uma luz que parecia a alvorada surgindo da mata, e então, ouvi o trotar dos cascos de cavalos cavalgando em nossa direção. Eram muitos. Para minha surpresa, de repente, o demônio não mais se divertia e começava a gritar: -Nããããããããoooooo! Como se atrevem? Como se atrevem? "Foram às últimas palavras que ouvi e então, afinal, desmaiara e adentrei em sombras que pareciam intermináveis... mas, não eram. Eu estava viva. Havia sobrevivido à noite infernal! O que primeiro senti em meu corpo foi a benção da luz solar aquecendo-me, era reconfortante sentir que despertava para um novo dia! E som dos pássaros, uma canção me saudava, até hoje, recordo-me da doce melodia. Foi então, que resolvi abrir os olhos..." "E os vi ." "Eram dois homens e duas mulheres e estavam sobre mim, me observando. Seus cabelos eram estranhamente brancos, como neve, assim como suas túnicas e sua pele. Entre seus olhos, havia um pingente, uma espécie de triangulo entrelaçado de marfim com uma lua crescente e uma estrela feitas de ouro em seu centro. O pingente estava preso por uma corrente também de ouro. Mas, eram seus olhos que me tomaram o coração. Profundos, tristes, inquisitivos e ... absolutamente VERMELHOS!" -Não! Não! Não! Vocês...vocês...também são... -Demônios...pequena Chalice? – "Disse um deles sorrindo divertido para si mesmo". - Pequena Chalice...não somos demônios! Não precisa ter medo de nós! –"Disse suavemente uma das mulheres. " "De repente, sem que pudesse entender, senti-me segura, por algum motivo aqueles estranhos em seus trajes brancos e olhos vermelhos transmitiam ao meu assustado coração um sentimento intenso de paz. Eles me levantaram com cuidado, e o homem e a mulher, de um lado e do outro, me pegaram pela mão para me guiar". -Vamos para Moonstar! -Moonstar? -Sim, é nosso lar e daqui adiante, o seu lar também! "Moonstar eram como chamavam uma pequena vila situada no centro do vale. As pessoas em Moonstar eram profundos e sábios e estavam profundamente ligados a magia. Não pareciam ter ligações com o exterior, ao menos EU nunca vi forasteiros lá. Fui recebida como um deles e instruída desde o primeiro dia, para que pudesse canalizar as energias primárias do universo. Aprendi tudo sobre as escolas místicas, os grandes magos, os rituais, símbolos, palavras de poder, gestos rituais e material místico. História moderna e antiga e o uso das letras. No entanto, antes que todas estas maravilhas viessem a mim, eu tive que enfrentar outra dura provação. Estava ali, há três semanas e brincava com outras crianças, eu não esquecera nada do que havia passado e acordava todas as noites em prantos ouvindo o sibilo da serpente. Todavia, por conselho dos meus amigos Mass´inas e sua mulher Ma´chy, eu deveria evitar pensar naqueles acontecimentos por enquanto... o destino os traria novamente até mim. No entanto, a mão do destino agiu mais rápido do que podíamos supor...". "Repentinamente, meu rosto começou a queimar e doer enormemente naquela manhã, nunca me esquecerei do horror das outras crianças que ao me ver começaram a gritar e correr aterrorizadas! "Mass´inas e Ma´chy vieram até mim imediatamente. Eles me abraçaram com muita ternura e Mass´inas me carregou até sua casa, aonde também eu vivia. Lá, eles conversaram comigo e me contaram que o demônio havia me amaldiçoado com seu beijo. A maldição da lua. Eu estava condenada, em todo o período de lua cheia, a ver o retorno das chagas em meu rosto!". Me recordo de cada uma de suas palavras: -Acreditamos que havíamos curado você, pequena Chalice, mas não foi assim!-"Explicou Mass´inas." -A cura para sua maldição está em seu destino, não em nossas mãos -"Completou Ma´chy "-Tu deves aprender, crescer e um dia combater o demônio que a amaldiçoou para que ela o liberte! -Não posso viver aqui! Terão medo de mim! Vão se afastar de mim! -Não tema, Chalice, nossos filhotes não mais fugirão de você. Irão respeitar seu sofrimento, você será feliz aqui,acredite! "E assim foi, com o povo de Moonstar, vivi feliz todos estes anos e aprendi a arte da magia com Mass´inas, que era um poderoso feiticeiro e pelo que pude perceber, o líder de Moonstar".Um dia, durante um, dos muitos, passeios que tinha com Mass´inas e Ma´chy, meu mestre se deteve e falou-me muito seriamente:" -O demônio que conjuraste, Chalice, ainda tem a posse da alma de teus amigos! Deves liberta-las e libertar a tua própria da maldição que te aflige! Tu deves partir. Não és uma Moonstar! Moonstain é mais apropriado. Parta agora, Chalice Moonstain., complete teu destino e então, retornarás como uma de nós! "Estávamos afastados da vila. Após esta dura conversa, coloquei as mãos sobre meu rosto, para meditar uns instantes, quando me voltei, eles haviam desaparecido!". Corri até a vila, mas, para minha surpresa não havia nada lá! Nem a escola, biblioteca, campos de trabalho, os animais, as casas, nem nenhum daqueles a quem havia aprendido a amar"! "Havia apenas uma mochila, com todos os meus pertences, provisões e posses que me permitiram começar a minha jornada". E esta é a minha história!". -Uma triste história. -Não posso permitir que as almas que condenei continuem a sofrer e a maldição que me atormenta...não imaginas o que é ser temida e rechaçada por todos. -Ora, feiticeira, veja com quem fala! Sou um anão, não sou? Sei o que é sentes. A maldição de um anão é que somente um anão aceita outro! A amizade verdadeira é rara em nossa longa vida. Chalice balança a cabeça afirmativamente. -Porém, creio que um amaldiçoado deve ajudar outro quando o encontra. -O que quer dizer? -Anime-se! O deus Tyr, agora te auxiliará através de mim! Vou ajuda-la a se libertar de sua maldição! Encontraremos e destruiremos o demônio que te amaldiçoou! Pode acreditar que conheço um pouco sobre eles...mas, antes , temos trabalho à fazer! -O quê...? -Aquela tropa de goblins, só pode ter vindo até esta região com um objetivo sombrio: atacar e saquear a vila de Arndach! Nós os assustamos ontem à noite, mas, agora, se não chegarmos à vila antes do anoitecer, creio que ela estará CONDENADA! PARTE VI Vila de Arndach. A lua está alta no céu. Todos os seus habitantes estão em suas casas,adormecidos. Esta pequena vila jamais sofreu, em sua história, grandes perigos, nem mesmo durante as grandes guerras. Miraculosamente, sempre se manteve à distância do soar metálico das armas e dos gritos ferozes da guerra, da dor, sangue e morte. Até agora. Uma cansada, porém, satisfeita tropa de goblins caçadores de escravos chegou, afinal, ao seu objetivo. Dois deles se adiantam. -Demorou chefe, mas, aqui estamos! -Sim. Se aquele maldito anão e a bruxa não houvessem nos dispersado teríamos chegado antes, mas, ainda é noite e podemos saquear a vila à vontade. Teremos muitos escravos, comidas e bebidas. -Sim, e a bruxa e o anão não nos seguiram. Nós vigiamos a estrada e a trilha, eles não saíram da floresta! -Pois bem. Vamos avançar! Dor e sofrimento para Arndach! Esta é a Ordem! -Sim, chefe! Dor e Sofrimento! Dor e sofrimento! Gronkorr, sempre foi o mais temível guerreiro desta tropa e o segundo - em -comando, agora o destino lhe sorriu transformando-o no líder quando o anterior foi morto pela bruxa demônio. Gronkorr não queria ataca-la naquele momento, nem o anão de Tyr. Não havia nada a ganhar! Ele aproveitou a queda do antigo líder, reagrupou a tropa e voltou ao objetivo inicial: O ataque a Arndach! Dando um sinal aos seus comandados eles avançam velozmente, é uma vila de simples lenhadores, não há muralha, fosso e nem ao menos vigias. É apenas uma caça gorda e indefesa diante do caçador! Os goblins adentram a encruzilhada principal da vila urrando, gritando e golpeando com ferocidade a portas das casas. Gronkorr é o primeiro a invadir uma das casas. E rapidamente se dirige aos quartos. Ele se regojiza em imaginar o terror dos moradores quando o avistarem, e perceberem-se indefesos em sua própria casa, ele apreciará seus gritos e... Gronkorr pára. E observa aturdido. Não há ninguém ali! Ele busca rapidamente pela casa. Ninguém! Rapidamente ele retorna a encruzilhada para encontrar seus comandados tão confusos quanto ele. -Chefe! Não tem ninguém! As casas estão vazias! - Adianta-se um deles. -O que aconteceu, chefe? - Retruca outro. –Eles foram avisados! Malditos vilões! Fugiram de nós!Malditos sejam! -O que faremos, agora? -Coloquem fogo em tudo! Arndach vai queimar esta noite! -C-chefe! VEJA LÁ! Gronkorr se volta para trás. No caminho norte da vila, ele pode ver duas figuras surgindo das sombras. Uma delas é uma mulher envolta em um manto cor de vinho, com um capuz cobrindo sua face e a outra um anão clérigo-guerreiro de Tyr que, ante os olhos atônitos dos goblins, leva sua mão até uma trombeta em seu cinto que, então, empunha e traz aos lábios fazendo-a soar trovejante: DÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓUUUUUUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM! Em resposta ao leste e oeste surgem cavaleiros montados, usando o brasão do poderoso lorde destas terras e urrando gritos de guerra! Logo atrás deles, todos os homens moradores de Arndach surgem empunhando seus machados de trabalho, agora, armas de guerra! Então, o anão brada em voz potente: -AVANTE, HOMENS DE ARNDACH! EMPUNHEM SUAS ARMAS, ENFRENTEM O INIMIGO CRUEL E TRAIÇOEIRO QUE VEIO PARA ESCRAVIZAR SEUS FILHOS! TYR! OUÇA-ME GRANDE DEUS GUERREIRO! ESTEJA AO NOSSO LADO E QUE NOSSOS INIMIGOS CAIAM ANTE O TEU PODER...QUE AGORA...É NOSSO!!!!!!!!!! POR TYR! Então de leste e oeste, os guerreiros investem contra os goblins invasores! -Maldito seja, anão! – Grita Gronkorr correndo ao encontro de Barthôuke! – Eu te levarei ao inferno comigo esta noite! -Enfrente-me goblin! Enfrente a fúria de Tyr! Tua vida acabou! Os golpes são ferozes, brutais e violentos. Ódio incalculável dirige os movimentos dos antagonistas. Barthôuke e Gronkorr! Então, um dos guerreiros goblins resolve ajudar seu líder tentando atacar traiçoeiramente Barthôuke, pelas costas. Chalice observa atenta e lança um providencial feitiço fazendo com que o atacante escorregue, pois, aos seus pés o chão parece repleto de uma gosma escorregadia! Isto faz com a atenção de outro guerreiro se volte para ela e corre em sua direção com machado em punho e gritando: -Você matou nosso antigo chefe, mas ele era, na verdade, um fraco! Seus truques não adiantaram nada quando eu cravar meu machado em seu coração, bruxa!!!! -Verdade. Mas, primeiro você deve me alcançar, goblin! Chalice pronuncia, então, palavras mágicas e faz surgir um arco de fogo e, em seguida, uma rajada parte de suas mãos unidas atingindo em cheio o peito do agressor que, abalado pelo ataque, volta-se para trás tropeçando no companheiro que escorregava em sua direção. O fogo nas roupas acaba por incendiar a gosma escorregadia e os dois morrem vitimas das chamas multiplicadas e mortais! A batalha segue feroz entre goblins e homens. Chalice prepara-se para ajudar Barthôuke contra Gronkorr quando algo lhe chama a atenção. Ela vê , um pouco distante , um goblin ferido entrando numa das casas e resolve segui-lo. Antes, ela busca em sua algibeira um pequeno frasco e consome seu conteúdo ficando imediatamente e miraculosamente invisível! Em seguida, adentra o umbral da casa buscando o goblin invasor. E o encontra...morto. Ela já se preparava para voltar quando nota algo de estranho nas mãos da criatura: um pergaminho! Curiosa, ela se inclina e toma o pergaminho. Erguendo-o à frente de seus olhos começa a recitar um pequeno cântico e o observa atentamente. Finalmente, satisfeita começa a desenrola-lo. De curiosidade sua fisionomia assume a expressão da surpresa! -Como é possível? Estes escritos são...tão antigos...não pode ser! Se eu estiver certa... Sem concluir o pensamento, Chalice resolve guardar o pergaminho para uma investigação mais cuidadosa no futuro. Saindo da casa observa que todos os goblins foram mortos ou capturados. Todos? Não. Gronkkor e Barthôuke continuam a lutar. E todos os demais se sentem incapazes de intervir na feroz batalha. Ambos encontram-se muito feridos. E cansados. São adversários equivalentes em fúria, mas, a habilidade guerreira de Gronkkor é superior. Seus golpes começam a superar os de Barthôuke que com o braço esquerdo ferido arruinado perde a possibilidade de oferecer resistência e então, o anão cai de joelhos e leva sua mão direita em direção ao símbolo de seu deus começando uma oração. Compreendendo que seu inimigo já se despede da vida. Gronkkor saboreia o momento com uma gutural gargalhada triunfante. Sua vida acabou, mas ao menos, levará a vida do anão que não pode mais reagir. Satisfeito, ele prepara o golpe final quando é surpreendido por um forte fulgor vindo do medalhão. -POR TYR!!!!! - Grita o anão clérigo-guerreiro enquanto se desvencilha de Gronkkor e investe contra ele um poderoso golpe com seu braço esquerdo completamente curado! Atordoado pelo milagre , Gronkkor tenta reagir, mas, sofre diante dos poderosos golpes do machado de Barthôuke! Enfim, sua defesa falha e um golpe devastador investe contra seu pescoço. O fim é rápido. Gronkorr sente o sangue encharcando seu tórax e a visão tornando-se escurecida. Sua cabeça tomba quase separada do corpo que cai pesadamente no chão! Barthôuke, exausto, deixa-se tombar. Com urros de vitória dos moradores da vila encerra-se a terrível batalha! No dia seguinte, encontram-se o prefeito da vila, Barthôuke e Chalice conversando com Alberion, o líder dos cavaleiros do lorde: -E assim, devo a vocês, meus amigos, a salvação da vila! Se não tivessem nos avisado a tempo estaríamos perdidos! E ainda teríamos sido injustos com a feiticeira sobre a qual alguns de nós haviam se...enganado!– Pondera o líder da vila. - Sim! Mas, em verdade, a verdadeira benção de Tyr foi haver cavaleiros do lorde aqui em Arndach neste momento.-responde Barthôuke. -Não foi sorte! Em verdade, dias atrás um guerreiro das florestas, Wolfarcher era seu nome, havia nos entregado um vil ladrão. Os soldados estavam aqui para leva-lo ao lorde - confessa o prefeito. -É verdade. –Concorda o cavaleiro - No entanto, o lorde ficará satisfeito com este acaso que favoreceu Arndach! Você, Barthôuke e tu, Feiticeira, seríeis bem vindos a nos acompanhar. Creio que o lorde ficaria feliz em conhece-los e ouvir de vocês a narrativa de como conseguiram furtivamente escapar aos olhos dos goblins para nos avisar aqui na vila! -Oh, bem. Segredos de magos, Alberion! Deves imaginar! AHAHAHAH! Mas, quanto a esta oportunidade creio que devo conversar com minha companheira, se nos permite. -Certamente, anão! Barthôuke e Chalice então, afastam-se. -Não creio que seria tão bem vinda se estivéssemos na lua cheia. -Bah! O que importa é que desde ontem estamos na lua crescente, assim, creio que devamos aproveitar a oportunidade de visitar o lorde destas terras. -Por quê? -Oh, existem algumas lendas sobre ruínas na região. Algumas falam de bibliotecas com conhecimentos que podem auxiliar teu caso. A visita ao lorde pode ser útil para que possamos buscar tua cura. -Eu concordo, e não apenas por isto! Temos outras coisas a investigar...mas, tudo a seu tempo. Assim sendo, logo toda a vila despede-se dos valorosos forasteiros que auxiliaram a salvar as vidas de todos nesta longa e temível noite que será para sempre lembrada como a grande BATALHA DE ARNDACH! FIM Não percam o próximo conto: A Estalagem do Nevoeiro

quarta-feira

A BUSCA - Um conto de fantasia medieval - Por Paulo Moraes

PARTE I A floresta de Llwejandhe sempre foi admirada e temida. O encanto que ela inspirava por suas frondosas e centenárias árvores, seus bosques, cachoeiras e suas raras e belas criaturas era tão intenso quanto o temor reverencial que os moradores das redondezas sentiam em relação ao seu poder e mistério. “Llwejandhe vive e observa, julga e sentencia de acordo com sua justiça” – declaravam os moradores. Enquanto adentra mais e mais em seu interior, Marnen de Burdûke relembra todas as histórias que ouviu em sua infância. Todavia, ele jamais temeu Llwejandhe, e, hoje, não há tempo para deslumbrar-se com sua grandeza. Não, hoje. Marnen busca a cada passo, trilhar dois caminhos. O primeiro é o de sua alma, pois, busca reencontrar-se com a harmonia das matas, reaver a paz em sua alma que lhe permitirá novamente ouvir a doce voz da floresta para que ela lhe diga aonde encontrar o objetivo de seu outro caminho...o de seu destino! Três dias atrás, o ladrão assassino Malcolm Wormnight roubou um medalhão, a principio insignificante. Seu cordão são de cipós trançados, que sustentam um pequeno círculo de galhos de carvalho entrelaçados. Não era estranho, por aquelas redondezas que se utilizasse tal amuleto com pequenos galhos dos grandes carvalhos do interior das matas...eles simulavam o medalhão de Airhmrgreen, utilizado pelas dríades, e por esta razão, era considerado um símbolo de proteção e boa-venturança. No entanto, Wormnight não levava consigo uma simples lembrança, e sim, um genuíno Airhmgreen tomado de uma dríade. Este, em parte, sustentava a ligação dela com o carvalho que era sua morada e agora, sua existência brevemente deixaria de existir. Ela era conhecida pelo vilarejo próximo, Burdûke, lar de Marnen, como Rosebud. Marnen ama Rosebud e a história que uniu todos estes personagens começa há muito tempo atrás. Em um outro e distante reino. Um reino em guerra cuja capital acabara de cair diante dos exércitos inimigos após um longo cerco. Uma bela jovem estava presa em seu quarto por ordem de seu pai. No entanto, logo ela ouve a porta de entrada ser arrombada, e os gritos de seu pai nos últimos estertores de uma morte dolorosa. E risos. Sim, muitas risadas bêbadas e ferozes. Ela se arma com um candelabro, num misto de loucura e ódio deseja enfrentar os assassinos de seu pai. Sua porta é arrombada com um forte golpe de um martelo de guerra. -Ora, ora! O que temos aqui? Veja só, uma princesinha apenas para mim esta noite!-disse o guerreiro mercenário enquanto avança em sua direção. -Afaste-se de mim! –Esbraveja a donzela enquanto tenta golpear a cabeça do mercenário que, aparentemente, sem esforço detêm o seu golpe e torce seu braço atrás de suas costas. -Agora, sua vadia, você vai me dar muito prazer antes de morrer...eu vou....gasp! – O mercenário engasga, um filete rubro escapa de seus lábios e escorre pelo seu pescoço. Ele cai inerte, sem vida aos pés da jovem. Ante ela, um outro guerreiro mercenário, mas seu olhar é distante e indiferente, traja uma cota de malha para se proteger e concentra-se em limpar sua espada ensangüentada nas roupas do caído. Finalmente, se dirige a ela: -Venha comigo, outros como este canalha, virão. Não foi um pedido, com firmeza, a segura pelo braço e a leva. Logo, estão partindo da cidade, montados num cavalo que cavalga velozmente para longe. O estranho casal formado pelas circunstâncias, logo, viveria aventuras que não cabem narrar aqui e, com o tempo, surgiu entre eles a chama que os homens chamam de amor, decidiram-se por estabelecer um lar no vilarejo de Burdûke , próximo a floresta de Llwejandhe. Pouco depois, nasceu Marnen e, apenas dois anos se passaram para que uma doença misteriosa e incurável, subitamente, levasse seu pai. Marnen foi criado com cuidado e atenção por sua mãe. No entanto, sentia a falta do pai que não pôde conhecer. Aos nove anos teria seu primeiro encontro com aquele que seria conhecido como Wormnight. Ele não morava na vila. Na época era conhecido apenas como Malcolm e fazia parte de um bando de arruaceiros que viviam nos arredores, em acampamentos, ladrões. Contava com doze anos e perturbava as crianças da vila, batendo nelas e roubando o que tinham. Marnen era sua vítima favorita. Um dia, fugindo de Wormnight foi se refugiar floresta adentro. Nem ao menos, sabia aonde ia. Em sua fuga desesperada adentrou por trilhas desconhecidas e encontrou a caverna. Era grande e no meio da floresta. Tinha pelo menos três metros de altura e quatro de diâmetro, o garoto adentrou em seu interior e pode perceber que ela se estendia por muitos metros ao fundo. Porém, para seu espanto, ela não parecia abandonada. Havia mantimentos em sacolas penduradas nas paredes, um jarro contendo água, e num dos cantos das paredes algo mais impressionante: armas. Entre elas um belo conjunto de arco e flecha. Entre os moradores de Burdûke, muitos se orgulham dos belos arcos que produzem com os madeiros de Llwejandhe, no entanto, Marnen jamais vira antes arco e flechas tão magníficas. Isto o assustou. Decidiu se retirar rapidamente. Foi quando uma sombra se fez sobre ele, ao se virar viu na entrada da caverna um homem que o observava, não, não era um homem, Marnen já ouvira falar sobre estes estranhos seres: era um meio-elfo! -O que faz aqui, pequeno? – disse tranqüilamente. A resposta do pequeno Marnen foi uma fuga desesperada por entre as pernas do recém-chegado! Mas, a seguir, Marnen sente um golpe seco atingi-lo e então, há apenas a escuridão. Momentos depois, uma luz começa a se insinuar na escuridão. Bruxuleante e turva acaba tomando a forma de uma fogueira. Próximo dela, alimentando-a com gravetos, estava o estranho ser. Instintivamente Marnen leva a mão à cabeça, está enfaixada e com um estranho ungüento esverdeado que mancha seus dedos. -Desculpe-me por isto. Não deveria tê-lo atingido. Mas, velhos instintos não morrem facilmente.Como te chamas? -Marnen! Marnen de Burdûke! O quê...quero dizer...quem é o senhor? O meio-elfo sorriu paciente. Não havia traço de desconforto ou raiva em seu semblante. -Quanto ao “O quê” sou um meio-elfo, como pode ver, e ao “quem” pode me chamar de Wolfarcher! -Wolfarcher... - repetiu o garoto sem perceber.- O senhor vive aqui sozinho? -Até agora, sim. Mas, apenas aguardava a chegada de alguém com quem deveria me encontrar, todavia, a espera acabou. -Seu visitante chegou? Wolfarcher sorriu com gosto – É claro, está diante de mim com a cabeça enfaixada! -O senhor estava esperando por mim? -Sim, Llwejandhe me pediu que aguardasse quando ela o traria até aqui! -A floresta me trouxe aqui? -Sim, ela tem planos para você e me pediu para ajudar. -A floresta fala com o senhor? -E deseja falar com você! Você gostaria disso? -Sim, sim! -Bravo garoto! Esteja aqui amanhã de manhã e eu o ensinarei. Não conte nada a ninguém, nem a sua mãe. Quando for a hora ela irá saber. Agora, vá! Já é tarde. PARTE II Aquele foi o ínicio de seu aprendizado. Marnen se tornou pupilo de Wolfarcher.Com ele, aprendeu a se guiar pela floresta, a utilizar armas de combate, conheceu o poder das ervas, a compreender as criaturas da floresta e, principalmente, a "ouvir" a voz de Llwejandhe. -Você deve ouvir a voz em seu coração. Sentir o desejo das matas, e não simplesmente tentar compreender. Todos os animais conseguem pressentir os desígnios da floresta. Todos nós viemos das matas e as compreendemos, apenas nos esquecemos disto – Explicava Wolfarcher a seu pupilo. Os anos se passaram, e nunca houve para Marnen tempos mais felizes. Passava mais tempo na floresta do que na vila. Seu aprendizado de combate com Wolfarcher há muito o livrara do impertinente Malcolm a quem dera uma lição inesquecível e o fez fugir da vila muito tempo atrás. Marnen se tornava um jovem alegre, confiante e forte. Foi quando , num dia de inverno, caminhando pela mata, ele a viu. Não pode acreditar no que seus olhos vislumbravam. Uma dama de tal beleza que gelava seu sangue e embaralhava seus pensamentos. Sua imagem como se fosse uma aparição angélica arrebatou seu coração e alma para um mundo secreto. Um mundo de suprema ventura. Seu sorriso era reconfortador como o amanhecer e seus olhos profundos como o mar azul, profundos e infinitos. Sua pele e seus cabelos eram brancos como a neve. Sem dúvida, estava diante de uma dama élfica, de todas a mais bela. Daquele momento em diante, sabia o pobre Marnen que estava, irremediavelmente , perdido. Repousando sobre um campo de rosas brancas como seus sedosos cabelos estava a jovem. Marnen, então, ouve a voz de Wolfarcher: -Esqueça, garoto! Não se envolva com ela! É uma dríade! -Uma dríade? A dríade que falam na vila? Rosebud? -Sim, venha, vamos embora, antes que ela te enfeitice, se é que já não o fez! – Comenta Wolfarcher sorrindo. No entanto, o coração de Marnen já não lhe pertencia mais e, no outro dia, lá estava ele novamente. Logo, ela surgiria de novo. Ele aguardaria o tempo que fosse necessário. -Rosebud... Súbito, uma voz delicada vinda atrás de Marnen o retira de seus pensamentos. -O que tu fazes aqui, humano? "É ela! Como pode se aproximar de mim sem que eu percebesse?" - pensa ele, enquanto se esforça para responder. -Responda, o queres aqui? -Chamo-me Marnen, vivo na vila próxima daqui, e não te desejo mal algum, jamais deves me temer. -Tu és o amigo de Wolfarcher, não é? - Responde ela, com o semblante mais sereno e um sorriso. -Creio que me devo considerar o discípulo dele, muito tenho aprendido em sua companhia. -Então, é teu mestre. Tens a quem obedecer, jovem. -Mas, mestre algum pode comandar minha alma e coração, pois estes já comprometi em outras mãos. -Não deverias entregar tais tesouros a mais ninguém, jovem tolo, que não fosse teu mestre, para que teus passos possam ser justos e seguros na jornada. -Não creio que possa fazer mais nada a respeito, o que chamas de tesouro já não me pertencem, de forma que me encontro em estado miserável e prisioneiro. -Não te invejo - Diz a dríade sorrindo. E continua - Agora, tolo, o que será de ti? Em que mãos cruéis repousam teus tesouros? -Não creio que sejam cruéis, talvez, sim, sejam indiferentes ou ignorantes. Ignoram o que tem em mãos. -Falas por enigmas! Seja mais claro! Marnen toma suas mãos com delicadeza. -Adorável dama, tu és a fiel depositária a quem entrego com confiança minha própria alma e coração! Nada posso fazer ante o amor que se impõe ante mim e palavra alguma ou poder poderá me restituir a liberdade, pois que liberdade pode ser oferecida a um cativo que ama a própria escravidão? Sou eu teu eterno cativo, dispõe desta miserável alma como desejares, minha senhora! Após dizer essas palavras, Marnen beija as mãos da Dríade, que então o vê se levantar e partir. E neste momento ela sabe. Está irremediavelmente perdida. PARTE III O bater de asas. Toda a sua atenção naquela noite sem estrelas estava voltada para o bater de asas. Marnen estava ferido. O corte em seu braço era profundo e sangrava muito. A dor era angustiante e nublava sua concentração. Seu mestre jazia a seus pés desmaiado. Havia sofrido muitos e duros golpes. Sua vida estava nas mãos de Marnen. "Onde estará o maldito?" – Pensa ele – "Certamente está oculto entre os galhos das árvores esperando o momento certo de um golpe de misericórdia. Não posso me distrair." Horas atrás, Marnen partira em busca de seu mestre que há dias havia desaparecido. Sua busca terminou quando o encontrou ferido e combatendo uma criatura de horrível forma. Parte homem, parte pássaro, parte serpente. Juntos combateram, mas, Wolfarcher, muito ferido e sofrendo efeito de terrível envenenamento, logo tombou. Marnen lutou corajosamente, mas, este era seu primeiro combate e o inimigo extremamente selvagem e perigoso. O combate terrível quase fez tombar Marnen, mas, a criatura também ferida pela audácia, habilidade e desespero do jovem guerreiro fugiu para se refugiar entre as árvores. Marnen sabe que aquele que atingir seu próximo golpe triunfará neste combate, e embora temeroso, ele não fugirá abandonando seu mestre e amigo. É uma noite escura e sem luar, ele sabe que a criatura possui uma visão aguçada, deve tomar cuidado. Ele busca serenar seus temores, ouvir. A floresta não protegerá esta criatura. Ela lhe é estranha, ele pode sentir. Ele aguarda paciente. Crac! Um som quase inaudível a sua direita! Ele se vira e vê contra a luz do luar um vulto voando em sua direção velozmente com garras projetadas e brilhantes, um guincho de serpente sibila no ar horripilante. Num reflexo rápido, Marnen volta sua espada e a velocidade do atacante o faz empalar o tórax contra a afiada lâmina. Um novo guincho soa na noite, como uma maldição. A criatura olha para o jovem guerreiro. Desespero , ódio e por fim, desdém marcam seu último alento de vida, a órbitas oculares, subitamente, giram para cima e a cabeça tomba para trás. Seu pesado corpo cede a frente derrubando o guerreiro e involuntariamente empalando ainda mais a espada até atravessar o corpo da criatura. Ela, afinal, está morta. Marnen empurra o corpo para o lado, exausto. A batalha acabou. Volta-se para o seu meste. Com o que aprendeu com o próprio Wolfarcher, limpa seus ferimentos e deduz as plantas medicinais que deverá buscar. Uma preocupação. A planta medicinal para o envenenamento fica muito distante, como seu mestre poderá agüentar? Após meditar alguns instantes, Marnen compreende que não tem opção e resolve partir em busca das ervas medicinais. Livra-se primeiro do corpo da criatura e acomoda seu meste da melhor forma que pode. Súbito, ele sente uma nova presença. -Tanto tempo! Será possível? – Pensa ele enquanto se levanta e observa atentamente ao seu redor - Aonde estás? Peço que apareças, pois, desejo lhe falar! No mesmo instante, surge ante ele a figura de Rosebud, seu semblante é sombrio. Ela se aproxima de Wolfarcher e acaricia seu rosto. Então, ele nota que em sua mão direita encontram-se as ervas medicinais que ele julgara necessário obter. -Marnen, tome estas ervas e prepare a infusão, a vida se esvai rapidamente de seu mestre. Sê breve, eu te peço. Instantes depois , Rosebud, levanta delicadamente a cabeça de Wolfarcher e lhe oferece o estranho chá, seu aroma é forte, porém, adocicado. A expressão de seu rosto, antes carregada de dor, suaviza-se. -Ele não sentirá mais dor. – Diz Rosebud suavemente. – Tome, beba você também, pois, estás ferido – Convém que ambos descansem, fique aqui e velarei por vossa segurança. - Sinto-me curado, milady, apenas por que te importa comigo! Estás distante de teu lar, arriscas tua vida por nós! -Garoto petulante! Não me importo contigo, mas apenas com teu mestre que é meu amigo há longo tempo. Por teu mestre, estou aqui. -Tu mentes. -Sou uma dríade da floresta, e tu, desde o ínicio, estás sob meu encanto e disponho de tua vida. Ouve bem: Tu nada significas para mim. -Tu mentes – repete Marnen enquanto se aproxima.-Sou senhor de minha alma e se a depositei em tuas mãos foi porque sei que és tão minha quanto sou teu! Não há feitiço ou ardil aqui! -Tu és um tolo! Afaste-se de mim! Não permito que me toques! -Então, me afastes! Não és a senhora de minhas vontades? Onde estás o teu domínio? Domina-me! Ou resigna-te e cede. – E dizendo isto, ternamente, ele a abraça e a beija sem que força, poder ou magia algum o detenha. PARTE IV -Foi Malcolm Wormnight! Ele me encontrou e roubou-me o medalhão de Airhmgreen. Desejava também a minha morte, e só não me assassinou porque Wolfarcher, mesmo enfraquecido,, interviu. Isto custou sua vida. Marnen ouvia o relato de Rosebud aturdido em ver o corpo de seu mestre estendido em meio a rosas trazidas por Rosebud. Wolfarcher, o forte e sábio meio-elfo que tanto o ensinara agora jazia morto, assassinado pelo seu, outrora, desafeto de infância, e, agora um inimigo odiado: Malcolm Wormnight! -Tu sabes em que direção ele seguiu? -A Oeste, busca chegar a Moonriver, e lá obter a melhor oferta pelo medalhão com a Seita Negra dos Opostos. -Os Opostos estão em Moonriver? Como é possível? -Quem, você julga, enviou aquele homem-animal ao encalço de teu mestre? Marnen fica aturdido pela revelação enquanto tenta se lembrar o que seu mestre lhe dissera sobre esta misteriosa seita. Ninguém sabia quem, quantos e como se chamavam a temida seita negra que se espalhava como rastelo de pólvora acesa por todos os pontos do mundo. Chamados vulgarmente de "Os Opostos", os membros desta seita se posicionaram contra todo o sistema em que se alicerça a própria vida. Segundo boatos, eles discordam da própria criação universal trazida pelos deuses e desejam recria-la segundo sua concepção de perfeição. Um plano insano, mas que tem conquistado cada vez mais adeptos em diferentes classes e raças. Os opostos têm buscado o poder na política, economia, nas armas, igrejas e, mais do qualquer coisa, buscam poder mágico absoluto. -Os Opostos com o medalhão de Airhmgreen! Isto não pode acontecer! -Sem o medalhão, minha existência se esvai com rapidez, pois perdi meu elo com a fonte da vida que vem de meu lar. Não posso ajuda-lo. -Não necessito de sua ajuda, Rosebud. Eu e Malcolm somos velhos adversários que se conhecem muito bem! Irei encontra-lo e faze-lo pagar pela morte de Wolfarcher. Mas, agora, o que devo fazer é enterrar meu mestre, e então, partirei ao encalço de Wormnight! Dias atrás deram cena a estes acontecimentos. Com o fim das reminiscências, Marnen retoma sua concentração em discernir os rastros deixados por Wormnight. Não seria fácil, ele era um ladrão astucioso e conhecia bem a floresta. Os sinais, então, desaparecem. O que fazer? Era preciso mais do que seguir os rastros...era preciso compreender os sinais de Llwejandhe. -"A floresta deseja ser ouvida, você deve sentir sua mensagem, não compreender" – ele relembra o que Wolfarcher lhe ensinara tempos atrás – "Silencie seus pensamentos, e siga sua intuição!" Repentinamente, Marnen pressente a direção que deve tomar e sabe: O encontro com seu inimigo e assassino de seu mestre estava próximo. -Mas...O quê...- Marnen examina com mais atenção. Novos rastros, afinal, surgem. Ele os reconhece facilmente. – ORCS! Os rastros eram recentes vindos do sul e seguindo na mesma direção de Wormnight. Marnen segue velozmente. Um quarto de hora se passa quando ouve urros e sons de golpes de fio de aço. Com cuidado, se aproxima e oculto pela mata observa os acontecimentos. Três orcs comemoram sua vitória. O corpo de Wormnight jaz sobre o chão, bem como, o de um quarto orc provavelmente vencido por ele. Os orcs começam a vasculhar os pertences de Wormnight em busca de provisões e ouro. As criaturas regojizam-se com o ouro e prata da bolsa roubada, e dela, retiram também o medalhão de Airhmgreen. Marnen prepara-se para intervir, no entanto, para sua surpresa, eles se desinteressam pelo instrumento de aparência ordinária e o lançam distante que, por ironia, cai precisamente ao seu lado, por pouco não atingindo seu ombro direito. Incrédulo, ele retoma o medalhão. Sua missão está cumprida, seu inimigo ainda vive e está nas mãos de orcs que o matarão em segundos cumprindo sua vingança pela morte de seu mestre. É o momento de se retirar em silencioso triunfo. No entanto... -AAARRRGHHH! Uma flecha voa certeira até o coração do orc próximo a Wormnight. Aturdidos, os outros tentam se dirigir à direção dos disparos quando outra flecha certeira atinge mortalmente o ventre de outro orc que cai pesadamente. O terceiro estanca e começa a se voltar para a fuga quando, de espada em punho, Marnen avança sobre ele.O brilho da lâmina de seu combatente desperta o orc para a fúria do combate. Ele não entregará sua vida facilmente. Feroz, ele desfere golpe poderoso que atinge o braço esquerdo de Marnen. Este desfere um contragolpe que, no entanto, em virtude do ferimento, não é veloz o suficiente e é contido pelo Orc. -Você matou meus irmãos. Mas Ordiak levará sua cabeça como troféu, guerreiro da floresta. Respondendo a ameaça Marnen desvencilha sua arma e desequilibra o orc que, ainda assim, contra-ataca. Desta vez, no entanto, é o guerreiro da floresta que contém o golpe mortífero. Em seguida, desfere um golpe lento, porém preciso e forte que Ordiak não consegue deter. Seu ombro direito fica inutilizado. Marnen há muito conhece o modo de luta dos orcs e sabe que a defesa de Ordiak está despedaçada. Ele tenta um último e desesperado ataque. Seu desespero o torna descuidado, e Marnen se esquiva com facilidade, e em seguida sua lâmina atravessa o coração de Ordiak! Ele cai, morto. -Antes que vocês me levem, orcs, eu terei levado muitos de sua raça imunda à morte! Assim proclama Marnen de Burdûke! PARTE V Triunfante, Marnen se dirige até Wormnight que permanece desacordado. Ele retira de sua algibeira algumas plantas medicinais e, rapidamente, prepara um ungüento com o qual trata as feridas de seu inimigo. Subitamente, ele sente uma picada na altura do pescoço e tenta repelir o que parece ser um inseto. -O quê... Um zumbido. Agudo e contínuo assoma em sua audição emudecendo todos os outros sons. Sua fronte começa a verter um suór frio. Ele se levanta buscando a causa do mal que o acomete tão intensa e velozmente. Uma forte tontura toma conta de Marnen e uma profunda fraqueza arrefece sua determinação. -Envenenado – pensa ele, já perdendo os sentidos. No entanto, ainda desperto, ele volta-se ao seu inimigo caído e percebe que ele desapareceu! Seria tudo isto obra de Wormnight? Impossível! Ele estava desacordado – Quem está aí? Em resposta, uma figura surge dentre as matas, não é possível visualizar seu rosto encoberto por um capuz e capa negros, bem como todo o seu traje. O terror toma conta de Marnen, pois ele é incapaz de reagir sentindo todo o seu corpo paralisado e petrificado. Será magia? Ele estará enfrentando um mago negro? Sua dúvida se dissipa quando este retira uma de suas luvas: sua mão é apodrecida, descarnada, morta-viva! -Um morto-vivo! – pensa Marnen, tentando reaver suas forças desesperadamente para empunhar suas armas para uma luta de vida e morte. Ou talvez, um destino pior do que o mais tenebroso pesadelo. Mas, antes que possa reagir, a mão da criatura já está apertando seu pescoço. O toque é gélido, viscoso. Suas memórias, sua vida começa a surgir em sua mente e desaparecer. Sua vida está se esvaindo. Marnen consegue, então, num esforço supremo, golpear a criatura. Um golpe fraco, mas, ainda assim, seu punho direito atravessa o ventre apodrecido de seu antagonista. Então, acontece. A criatura urra de dor. E se afasta velozmente desaparecendo na floresta. Marnen observa seu punho tentando compreender, pois, seu fraco golpe não pode ter sido tão decisivo. Então, ele se lembra e vê que havia amarrado em seu pulso o medalhão de Airhmgreen. E desmaia. -Senhor, senhor! Acorde! Marnen abre os olhos e vê um garoto. Seu corpo está tomado por dores. Instintivamente, leva sua mão ao pescoço e encontra e puxa uma ponta de dardo que estava lá cravada: fora envenenado! Uma droga que lhe provocou alucinações! -Quem é você, garoto? -Me chamo Balarth, senhor! Vivo em Arndach, vila próxima daqui. Vi o senhor e seu amigo caídos e resolvi acordá-los! Marnen volta-se rapidamente e, para seu alívio, observa que Wormnight permanece caído ao seu lado e o medalhão ainda está atado a seu pulso. – Mas,se o objetivo daquela estranha aparição não era libertar o ladrão ou possuir o medalhão de Airhmgreen, qual seria? – perturba-se Marnen de Burdûke sem , no entanto, conseguir imaginar a resposta deste mistério. -Muito bem, Balarth, eu te agradeço. Vamos, preciso seguir até tua vila. Guia-me até lá! Então, Marnen, recuperado , carrega Wormnight até o vilarejo de Arndach, que fica há apenas meia hora de caminhada dali. Deixando-o nas mãos do prefeito local que reconhece, o já considerado perigoso, Wormnight imediatamente e alegra-se com o seu aprisionamento. -Entregue-o a justiça do Lorde destas terras, peço que não faças tu o julgamento. -Seja assim, rapaz,dou-lhe minha palavra. Mas, quem és tu? Marnen medita suas palavras por um instante, por fim, responde ao prefeito: Chame-me Wolfarcher, vivo na floresta, e encontrei este derrotado pelos orcs. Não posso me demorar, conto convosco, adeus! -Bom trabalho, Wolfarcher! Nos veremos de novo, tenho certeza! Enquanto retorna, Marnen Wolfarcher medita seus atos. Wormnight não merecia morrer nas mãos de Orcs, nem ele seria o carrasco covarde de um inimigo caído. Agora, ele está entregue a justiça e o coração de Marnen está sereno. Ele sabe que seu mestre teria preferido assim. Marnen se pergunta o que o levou a ousadia de usar o nome de seu mestre como seu. Agiu sem pensar levado por um impulso inexplicável e repentino. Mas, lembra-se das palavras de seu mestre: "Você deve ouvir a voz em seu coração. Sentir o desejo das matas, e não simplesmente tentar compreender" Teria Llwejandhe expressado sua vontade,através dele? Não tentaria compreender. Wolfarcher a partir deste dia, ele seria! O retorno é muito mais breve, pois, seguir rastros é uma demanda cuidadosa e demorada. Wolfarcher apressa-se ainda mais pela vida de Rosebud. E de fato, a encontra enfraquecida, porém, viva. -Aqui, senhora, teu medalhão. Ela o retoma em silêncio. Após um longo instante, em que parece recuperar as forças, afinal, ela diz: -Vai embora! -Tu assim o desejas? -A floresta assim o quer. Teu aprendizado aqui acabou.Assim julga e sentencia Llwejandhe. -Também pressinto isto. Creio que, à sua maneira, Llwejandhe me foi revelou isto durante minha viagem. Fatos estranhos ocorreram nesta busca. Mistérios que devo solucionar e percebo, as respostas se encontram distantes daqui. Todavia, eu retornarei. -Não faça promessas tolas, não sabe o teu destino. -Meu destino é retornar quando cumprir o que o destino me reserva, Rosebud, e o teu é aguardar por mim.A senhora torna-se, então, escrava de seu escravo. Sem dizer mais palavras, ele vai embora, sem se voltar enquanto Rosebud observa-o e lágrimas ardentes escorrem por sua face. E próximo dali...entre as sombras das matas, um terceiro personagem observa a tudo atentamente... - Tu me surpreendeste, Marnen...Wolfarcher! No entanto, tua queda não tardará! Assim jura, aquele que te odeia mais do que qualquer um! Não descansarei até ver tua desgraça e rir sobre teu túmulo. Este é o meu juramento!

FIM